O chocolate talvez seja um dos alimentos mais cobiçados pelas pessoas hoje em dia. É fácil de entender todo o desejo por uma simples barra ou alguma outra variação do produto. Esse alimento feito com base na amêndoa fermentada com torrada do cacau é um dos mais consumidos no mundo e, sem sombra de dúvidas, é o ingrediente preferido de muitas pessoas na fabricação dos doces. Contudo, chumbo e cádmio foram vistos no chocolate amargo e produtos de cacau parecido.
A presença desses metais neurotóxicos relacionados ao câncer, doenças crônicas ou problemas reprodutivos e de desenvolvimento, especialmente em crianças, foi vista em um estudo feito nos produtos que são comercializados nos EUA.
O chumbo e cádmio são elementos naturais da crosta terrestres e estão presentes no solo onde se cultiva as culturas. Por conta disso, eles não podem ser evitados. Contudo, determinados campos agrícolas e regiões tem níveis mais tóxicos do que outros. Isso acontece muito por conta do uso excessivo de fertilizantes que contém metais e por conta da poluição industrial contínua.
Até mesmo as versões orgânicas do chocolate amargo, que são cultivadas em terras com menos pesticidas e outros contaminantes, tem os níveis mais altos, de acordo com o estudo.
Estudo
Para o estudo, os pesquisadores analisaram somente produtos de chocolate amargo puro porque eles tem a maior quantidade de cacau. Por isso, chocolates ou doces para a culinária e outros ingredientes não foram analisados. E o estudo também não divulgou os nomes ou fabricantes dos produtos testados.
“Os níveis médios de chumbo e cádmio em produtos contendo cacau no novo estudo estão na média ou acima dos valores médios que a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA encontra para chumbo e cádmio nos alimentos mais contaminados que eles testam”, disse Jane Houlihan, diretora nacional de ciência e saúde da Healthy Babies Bright Futures, que é uma coalizão de defensores que tem o objetivo de diminuir a exposição de bebês a produtos químicos neurotóxicos.
“Batata-doce para bebês, biscoitos para dentição de bebês, biscoitos recheados, vinho branco e molho ranch lideram a lista da FDA dos alimentos mais contaminados com chumbo, enquanto sementes de girassol, espinafre, batata-frita, alface e batatas chips contêm os níveis mais altos de cádmio”, pontuou.
“Se os riscos típicos à saúde de comer chocolate estiverem abaixo dos limites oficiais de segurança do governo federal, é porque as pessoas normalmente consomem quantidades relativamente pequenas. Esperamos riscos aumentados para crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas que comem chocolate regularmente, especialmente chocolate amargo”, continuou Houlihan.
De acordo com a National Confectioners Association, representante da indústria do chocolate, “chocolates e cacau são seguros para consumir e podem ser desfrutados como guloseimas, como têm sido por séculos. A segurança alimentar e a qualidade dos produtos permanecem nossas maiores prioridades, e continuamos dedicados à transparência e responsabilidade social”.
Chumbo e cádmio no chocolate amargo
O estudo fez a análise de 72 produtos de cacau para saber quais eram os níveis de chumbo, cádmio e arsênico. Para isso, ele fez o testes nos produtos durante oito anos, em 2014, 2016, 2018 e 2020.
Quem fez esses testes foi o Consumer Labs, que é uma organização sem fins lucrativos que faz testes independentes em produtos de saúde e nutrição. Além disso, eles também mandaram amostras para outros laboratórios para que a precisão da análise fosse maior.
Como resultado, dos 72 produtos de chocolate, 43% tinham mais do que o nível máximo permitido de chumbo estabelecido pela Proposição 65 da Califórnia. Já 35% tinha mais do que o nível máximo permitido de cádmio pela Proposição 65. Com relação ao arsênico não foram encontrados níveis significativos.
Os limites que a Proposição 65 estabelece são mais baixos do que os governamentais. Para se ter uma noção, segundo a FDA, o nível máximo permitido de chumbo em doces para crianças é de 0,1 partes por milhão, já para a Proposição 65 é de 0,05 partes por milhão.
“A Proposição 65 estabelece um nível protetor que permite aos consumidores fazer uma escolha racional e dizer: ‘Ok, quanto eu quero consumir?’ Existem muitas fontes de chumbo, por exemplo: há chumbo na água, há chumbo em vegetais e frutas, há chumbo em nosso solo, poeira e ar. Eu me sinto bem ao comer um pedaço de chocolate que também pode conter chumbo? Cada pessoa pode tomar sua própria decisão”, disse Danielle Fugere, presidente e consultora jurídica principal da As You Sow, que é uma organização sem fins lucrativos especializada em defesa de acionistas.
Por conta disso que, de acordo com Leigh Frame, diretora executiva do Office of Integrative Medicine and Health na George Washington University, em Washington, DC, e autora principal do estudo, os adultos saudáveis que ingerem pequenas quantidades não devem ter medo de comer o chocolate amargo mesmo com chumbo e cádmio.
“Uma porção típica de chocolate amargo é de 1 onça (cerca de 28 gramas), então consumir 1 onça a cada dia ou algo assim representa um risco relativamente pequeno no grande esquema das coisas. Mas é algo de que precisamos estar cientes caso também estejamos expostos a outras fontes de chumbo, como tinta à base de chumbo em uma casa antiga”, disse ela.
Contudo, de acordo com Tewodros Godebo, professor assistente de geoquímica ambiental na Tulane University School of Public Health and Tropical Medicine, em Nova Orleans, o risco da exposição ao chumbo e cádmio no chocolate amargo aumenta se a pessoa estiver em condições médicas comprometidas, grávida ou for uma criança pequena.
Fonte: CNN
Imagens: Mundo verde, G1