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Felicidade eudaimônica explica por que as pessoas continuam no trabalho sem precisar

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Você vive para trabalhar ou trabalha para viver? Essa questão se tornou um ponto altamente discutido nos últimos anos, principalmente por conta dos recentes acontecimentos. Guerra, pandemia, tempo e entes queridos que perdemos… O que é importante, afinal?

Enquanto algumas pessoas perceberam que trabalhar não é algo que elas sonham em fazer, preferindo uma vida mais voltada para as coisas simples, tempo com família e os pequenos prazeres que o mundo oferece, existem aqueles que perceberam que não aguentam o ócio.

Lis Ku, professora de psicologia na Universidade De Monfort, no Reino Unido, explica por que o ócio pode ser tão irritante para algumas pessoas. “Encontrar o equilíbrio certo entre trabalho e vida pessoal não é, de forma alguma, uma questão nova”, ressalta.

Porém, ela conta que o assunto se tornou um ponto ainda mais importante nos últimos anos. “A tensão entre esses dois polos, contudo, foi acentuada pela pandemia de covid-19: muitos profissionais passaram a questionar cada vez mais a natureza de suas atividades, seu significado e propósito, e como elas afetam sua qualidade de vida.”

Dessa forma, estudos apontam que as pessoas deixaram ou planejaram deixar seus empregos, em um número recorde em 2021 em vários países. Essa seria a “grande demissão”, que parece ter sido fundamentada pelas questões citadas pela pesquisadora. No entanto, se estamos repensando onde e como trabalhar se encaixa em nossas vidas, qual seria o novo objetivo?

“É fácil acreditar que, se não tivéssemos que trabalhar, ou se pudéssemos trabalhar menos horas, seríamos mais felizes e levaríamos uma vida repleta de experiências hedônicas em todas as suas formas, saudáveis ​​e insalubres”, disse. Porém, isso não explica aquele grupo de pessoas aposentadas que optam por trabalhar como freelancers ou então os ganhadores de loteria que voltam a trabalhar logo após receber o prêmio.

Equilíbrio trabalho e vida

“Alcançar o equilíbrio perfeito entre trabalho e vida pessoal, se é que isso existe, não é necessariamente sobre equacionar quando, onde e como trabalhamos — é uma questão de por que trabalhamos.”

“E isso significa compreender as fontes de felicidade que podem não ser tão óbvias para nós, mas que se tornaram mais evidentes no decorrer da pandemia.” Lis ressalta que essa tentativa de encontrar um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é totalmente justa.

“O trabalho está relacionado de forma constante e positiva ao nosso bem-estar e constitui uma grande parte da nossa identidade. Pergunte a si mesmo quem é você, e não vai demorar muito a começar a descrever o que você faz no trabalho.”

Competência e utilidade

Felicidade

Créditos: iStock

“Nossos trabalhos podem nos proporcionar um senso de competência, que contribui para o bem-estar. Os pesquisadores demonstraram não apenas que o trabalho leva à validação, mas que, quando esse sentimento é ameaçado, somos particularmente atraídos para atividades que exigem esforço — muitas vezes, alguma forma de trabalho. Isso porque comprovam nossa capacidade de moldar nosso ambiente, o que confirma nossas identidades como indivíduos competentes.”

Desse modo, a professora conta que o trabalho parece oferecer mais felicidade quando temos a opção do lazer. “Isso se demonstrou por uma série de experimentos em que os participantes tinham a opção de ficar ociosos (esperando em uma sala por 15 minutos para que um experimento começasse) ou ocupados (caminhando por 15 minutos até outro local para participar de um experimento).”

“Poucos participantes escolheram estar ocupados, a menos que fossem obrigados a fazer a caminhada, ou oferecida uma razão (sendo informados que havia chocolate no outro local).”

“No entanto, os pesquisadores descobriram que aqueles que passaram 15 minutos caminhando acabaram significativamente mais felizes do que aqueles que passaram 15 minutos esperando — não importa se tiveram escolha, foram atrás do chocolate ou nenhum dos dois.”

“Em outras palavras, a ocupação contribui para a felicidade, mesmo quando você acha que prefere ficar ocioso.” Até animais demonstram essa escolha, visto que preferem trabalhar para obter comida do que receber as refeições de graça.

Felicidade eudaimônica

“A ideia de que trabalhar, ou colocar esforço em tarefas, contribui para nosso bem-estar geral está intimamente relacionada ao conceito psicológico de felicidade eudaimônica”, disse Lis Ku. Esse seria o tipo de felicidade que temos com o funcionamento ideal e da percepção do nosso potencial.

“Pesquisas mostram que o trabalho e o esforço são fundamentais para a felicidade eudaimônica, o que explica a satisfação e o orgulho que você sente ao concluir uma tarefa extenuante.”

“Do outro lado do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, está a felicidade hedônica, que é definida como a presença de sentimentos positivos, como alegria, e a relativa escassez de sentimentos negativos, como tristeza ou raiva.” No entanto, estudos indicam que existe tempo livre demais e que nossa felicidade começa a diminuir se tivermos mais de cinco horas de ócio por dia. Isso explica por que procuramos algo para fazer durante o tempo livre.

“Os pesquisadores compararam isso com a compilação de um currículo “experiencial”, provando experiências únicas, mas potencialmente desagradáveis ​​ou até mesmo dolorosas — em termos extremos, pode ser passar uma noite em um hotel de gelo ou participar de uma corrida de resistência no deserto.”

“As pessoas adeptas dessas formas de “lazer” costumam falar sobre cumprir objetivos pessoais, progredir e acumular conquistas — todas características da felicidade eudaimônica, e não da hedônica que associamos ao lazer.”

“Então, dadas essas diferentes formas de abordar a vida, talvez o segredo para um bem-estar duradouro seja considerar qual estilo de vida se adapta melhor a você: hedônico, eudaimônico ou experiencial”, finaliza Lisa Ku.

Fonte: BBC

Primeira imagem científica feita pelo telescópio James Webb

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