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Finalmente foram descobertos os restos da fantasmagórica Hiroshima

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Bom, você já deve ter uma noção da catástrofe que ficou marcada nos livros de História: em 6 de agosto de 1945, às 8h45, horário japonês, o avião B-29, chamado “Enola Gay”, lançou uma bomba atômica na cidade japonesa de Hiroshima. A devastação foi além de qualquer coisa que esperávamos. A cidade foi imediatamente achatada, com 80.000 pessoas mortas como resultado direto da explosão. Além de outras 35.000 eternamente feridas. Nada novo até então, não é? Mas o que aconteceu com a cidade quando foi consumida pelo terrível incêndio? Depois de longos anos de mistério e completo silêncio, finalmente foram descobertos os restos da fantasmagórica Hiroshima.

Vamos montar a narrativa para que você não fique perdido no tempo: em 1945, a Segunda Guerra Mundial estava finalmente chegando ao seu fim. Houve celebrações na Europa depois que a Alemanha se rendeu, mas inúmeros conflitos ainda estavam em andamento. Do outro lado do mundo, no Oceano Pacífico, o Japão ainda estava lutando contra a América, a Grã-Bretanha e seus aliados.

Os norte-americanos, no entanto, tinham um plano secreto para acabar com a guerra de uma vez por todas: usar a arma mais poderosa já criada por seres humanos. O que aconteceu com a cidade de Hiroshima, então? Em 2015, o geólogo e ecologista marinho Mario Wannier examinou amostras de areia de praia coletadas na Península de Motoujina, no Japão, a apenas 6 quilômetros ao sul do hipocentro da cidade. Por meio dos dados, por fim, encontramos respostas.

Wannier e seu colega pesquisador Marc de Urreiztieta estavam procurando vestígios de organismos microscópicos nos destroços. Estes, chamados foraminíferos, não foram os únicos achados. “É tão óbvio quando você olha para a amostra. Não é possível perdê-las de vista, porque são partículas singulares. Elas geralmente são aerodinâmicas, vítreas, arredondadas”, diz Wannier.

Hiroshimaites

As estranhas partículas esféricas de vidro abarcam até 2,5% de toda a areia nas praias ao redor de Hiroshima. Algumas, inclusive, lembram os detritos vítreos ejetados na atmosfera durante os impactos de meteoritos. Wannier acabou coletando cerca de 10.000 amostras desse grão incomum, que foram examinadas por pesquisadores do Berkeley Lab e UC Berkeley.

As descobertas, relatadas em um novo estudo, sugerem que a única “explicação coerente” é a de que as partículas de vidro são os detritos resultantes da explosão nuclear. Mais do que isso: são as primeiras evidências do gênero. “Na surpresa de encontrar essas partículas, a grande questão para mim foi: você tem uma cidade e, um minuto depois, não tem cidade”, diz Wannier. “O principal questionamento era: onde está a cidade – onde está o material?”

De acordo com a análise da equipe, a matéria-prima que antes formava a cidade de Hiroshima – seus edifícios, aço e concreto – foi devastada pela explosão nuclear e fundida em um calor fulminante. Dessa maneira, após ser resfriada e cair na atmosfera, transmutou-se em chuva de cacos de vidro. Wannier explica: “o material do solo é volatilizado e movido para a nuvem, onde a alta temperatura altera a condição física”.

Essa aglomeração de novos detritos – chamados de Debris Fallout de Motoujina (MFD) – foi apelidada de “Hiroshimaites“. Até porque a semelhança com os “trinititos”, encontrados no Novo México, é inegável.

A hipótese dos pesquisadores não pode ser facilmente comprovada, mas a equipe diz que é a única explicação lógica sobre as evidências detectadas.

Mais perguntas emergem

É interessante perceber que ninguém havia descoberto as transmutações vítreas desde então. Mesmo com as diversas análises promovidas pelos cientistas japoneses, a respeito da radioatividade pós-explosão, somente agora temos pesquisas mais apuradas.  À luz de tudo o que estava acontecendo na época, talvez não tenham dado atenção às evidências físicas coletadas por meio de amostras.

“Após as explosões nucleares em Hiroshima e pouco depois em Nagasaki, os socorristas, médicos e cientistas concentraram seus esforços na cura do sofrimento humano. Além da medição dos efeitos da radiação atômica”, escreve a equipe. “De alguma forma, nesta situação de extrema emergência, a questão do paradeiro das estruturas urbanas desaparecidas não foi abordada”.

Muitas perguntas emergem nesse ínterim. Afinal, essas estranhas partículas ainda exibem traços de radioatividade na escala submicroscópica? Como elas podem se comparar com amostras de solo extraídas do ponto zero de Hiroshima? Bom, pesquisas futuras terão a chance de examinar essas questões com mais profundidade. Por enquanto, conseguimos obter algumas respostas liminares. Finalmente foram descobertos os restos da fantasmagórica Hiroshima.

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