HistĂ³ria

O escravo do Texas que se passou por mexicano e se tornou milionĂ¡rio

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Podemos afirmar que Guillermo Enrique Eliseo ou Guillermo Ellis era um verdadeiro “camaleĂ£o”. Isso porque, Guillermo, que nasceu William Henry Ellis, foi um homem escravizado Texas que se passou por mexicano e se tornou milionĂ¡rio. Assim, que o conhecia como um rico banqueiro da Cidade do MĂ©xico, nunca imaginaria sua trajetĂ³ria atĂ© Nova York.

De fato, seria loucura imaginar que Guillermo, que sempre usava roupas caras e vivia coberto de joias, poderia ter trabalhado em uma plantaĂ§Ă£o de algodĂ£o no sul do Texas. Desse modo, ao se passar por mexicano, Guillermo vivia normalmente em uma residĂªncia na Ă¡rea nobre a oeste do Central Park. AlĂ©m disso, por sua vez, ele tambĂ©m tinha um escritĂ³rio em Wall Street.

Ele fez tudo que um afro-americano de sua Ă©poca nĂ£o podia fazer

Guillermo nasceu em Victoria, no sul do estado estadunidense do Texas, em 1865. Ou seja, um ano antes da aboliĂ§Ă£o da escravidĂ£o. Ao longo de sua vida, Guillermo cresceu cercado de “mexicanos, texanos, anglo-americanos e afro-americanos que moravam perto uns dos outros”, afirma Karl Jacoby, historiador da Universidade Columbia, em Nova York.

Desde que soube de sua trajetĂ³ria, Jacoby se tornou fascinado pela histĂ³ria. Assim, em 2016, ele escreveu o livro “The Strange Career of William Ellis: The Texas Slave Who Became a Mexican Millionaire” (“A estranha Carreira de William Ellis: O Escravo do Texas Que Se Tornou Um MilionĂ¡rio Mexicano”, em traduĂ§Ă£o livre). Para Jacoby, o fato de Guillermo ter aprendido espanhol foi um fator decisivo em sua vida. Assim, o jovem Guillermo, jĂ¡ fluente, se tornou assistente e tradutor de William McNamara, um poderoso comerciante irlandĂªs de algodĂ£o e couro. “McNamara nĂ£o apenas comprava matĂ©rias-primas no Texas, mas ao longo de toda a fronteira com o MĂ©xico. O jovem Ellis o acompanhava, sendo uma espĂ©cie de porta-voz”, afirma Jacoby.

Por conta do trabalho enquanto tradutor, Guillermo, aos 20 anos, se despediu de sua terra natal e seguiu para San Antonio. LĂ¡, ele deixou seu nome de nascimento para trĂ¡s e abriu seu prĂ³prio negĂ³cio de comĂ©rcio de couro e algodĂ£o. Para isso, ele passou a dizer que se chamava Guillermo Enrique Eliseo. E, escondendo suas origens, contava que havia nascido no MĂ©xico. Naquela Ă©poca, “ninguĂ©m tinha passaporte, carteira de motorista ou certidĂ£o de nascimento”, afirma Jacoby. Logo, seu plano estava funcionando. Ele “fez todas as coisas que um afro-americano de sua Ă©poca nĂ£o deveria fazer”, completa Jacoby.

Guillermo “tinha” mais de uma nacionalidade

Para ter direitos bĂ¡sicos, Guillermo fingiu ser cubano e atĂ© havaiano. “Sou obrigado a me passar por mexicano, a fim de obter os confortos bĂ¡sicos de um viajante branco”, explica Guillermo em uma entrevista a um jornal de Chicago, datada de 1891. Com seu espĂ­rito empreendedor, Guillermo enriqueceu durante a chamada “Era Dourada”, que foi quando os Estados Unidos passaram por grandes mudanças com a chegada da industrializaĂ§Ă£o. Dessa forma, muitos milionĂ¡rios foram criados.

Enquanto crescia economicamente, Guillermo tentou apresentar projetos de imigraĂ§Ă£o para negros e que poderiam ajudar essas pessoas. No entanto, seu ativismo se tornou muito mais moderado quando sua identidade quase foi revelada. Ao se mudar para Nova York, ele encontrou muitas oportunidades, uma vez que se apresentou como mexicano. Isso porque, o paĂ­s era vendido como uma terra de riquezas tropicais. Logo, segundo Jacoby, Guillermo aparece como presidente de, pelo menos, sete empresas, algumas avaliadas em milhões de dĂ³lares.

Para alĂ©m dos negĂ³cios, Guillermo se casou com Maude Sherwood, uma mulher branca de origem pobre. Juntamente com Maude, Guillermo teve seis filhos, mas dois morreram logo apĂ³s o nascimento. TambĂ©m vale lembrar que, para manter seu segredo, Guillermo escondeu informações atĂ© de sua esposa. “Uma das coisas difĂ­ceis no momento em que escrevi este livro foi que ele tentou esconder sua histĂ³ria de vida e sempre tentou se reinventar”, afirma Jacoby.

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