História

O motivo por trás dos coelhos assassinos nas obras da Idade Média

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Nem sempre coelhos são reproduzidos como animais bonitinhos, pequenos e fofos, como acontece na época da Páscoa. Em alguns casos, eles seguram um machado ensanguentado. Pelo menos era assim nas obras da Idade Média.

Por mais sem sentido que pareça, a versão assassina dos coelhos não é tão chocante para quem já assistiu “Monty Python e o Cálice Sagrado” (1975). Isso porque, em uma das cenas, há um coelho raivoso que tenta impedir a entrada do Rei Arthur e de seus cavaleiros na caverna de Caerbannog. No final, três personagens são vítimas fatais.

Realmente, parece ser algo inimaginável, mas tem um fundamento, na realidade, até porque, coelhos assassinos eram elementos da cultura da Idade Média, tanto que aparecem em ilustrações de manuscritos dos séculos 13 e 15.

Assim sendo, alguns livros feitos nos monastérios, antes mesmo da invenção da prensa, que possibilitou a produção em larga escala, continham marginálias. Estes eram pequenos desenhos decorativos que os monges faziam nas margens das páginas. Vale ressaltar que eram bem estranhos.

Marginálias e coelhos assassinos

Por alguma razão, os monges desenharam animais misturados, cavalos carregando suas próprias cabeças, mulheres que se deitavam com dragões e até marginálias pornográficas, como a colheita de um pênis.

Marginália com coelho assassino da idade média

Reprodução/British Library

Dessa forma, o coelho assassino também era um dos personagens nesses desenhos bizarros. Os coelhos apareciam carregando espadas, machados ou então arco e flechas. Eles também lutavam contra e até matavam quem geralmente os caçam, como os humanos ou cachorros.

As marginálias não eram padronizadas quanto aos significados, mas devem ser interpretadas como elementos de humor subversivo, que existia somente no espaço dos livros. Além disso, os livros eram presentes somente no cotidiano de uma pequena parcela da nobreza europeia.

Dessa forma, as marginálias da Idade Média eram formas de escapar da realidade dominante, tomada pelo misticismo e seriedade. Num ambiente inflexível como era a sociedade feudal da Idade Média, os artistas poderiam trabalhar com o cômico e absurdo nessas ilustrações. Assim, tanto os leitores quanto os monges se divertiam com os coelhos assassinos.

Coelhinho da Páscoa

coelhos

Fonte: Guia animal

Já se perguntou de onde saiu a figura do coelho na Páscoa, sendo que coelhos não botam ovos? Provavelmente sim, então se atente para a explicação.

Páscoa tem origem na festa judaica do Pessach, que significa “passagem” em hebraico, sendo uma referência à saída dos judeus do Egito e sua libertação da escravidão. Porém, o nome em inglês “Easter” indica a presença do coelho na celebração.

Isso porque, quando o catolicismo começou a se espalhar pelo sul da Europa, ainda no final do Império Romano, a missão era converter os pagãos. A deusa da fertilidade no norte da Europa era Eostre e sua festa era celebrada no início da primavera do hemisfério Norte. Isso coincide com o início do outono no hemisfério Sul, que é quando celebramos a Páscoa.

Portanto, para converter os pagãos, os missionários incorporaram elementos da ressurreição de Cristo nas tradições pagãs. Assim, a lebre, com notória fertilidade, representava a deusa, o que acabou se misturando com a tradição católica.

Pelo menos essa é a versão mais reproduzida na literatura. O responsável foi São Beda, um monge inglês que viveu no século 8 e que muitos consideram o pai da história anglo-saxã por conta da obra História Eclesiástica do Povo Inglês.

No entanto, encontramos problemas ao atestar a veracidade do relato de São Beda, que não tem outros antecedentes e não é fonte primária. Isso porque ele viveu 600 anos após a suposta origem da tradição do coelho na Páscoa. Basicamente, o Império Romano era uma memória tão distante para o eclesiástico quando a chegada de Cabral é para os brasileiros.

Fonte: Superinteressante

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