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O que motiva os linchamentos virtuais?

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No mundo atual, onde somos totalmente tecnológicos e a informação chega nos quatro cantos do mundo muito rápido, infelizmente várias pessoas sofrem com os linchamentos virtuais. Normalmente, a vítima desse linchamento “cumpre a função ritual e sacrificial do bode expiatório”, escreveu José Martins de Souza, sociólogo e professor da USP, no livro “Linchamentos: a justiça popular no Brasil”.

O autor estima que, no Brasil, tenha um linchamento físico por dia, e que nos últimos 60 anos, aproximadamente um milhão de brasileiros participaram, pelo menos, de um ato ou tentativa de linchamento.

Por mais que existam diferenças entre o linchamento físico e o virtual, para o estudo, a distinção é menos acentuada. Como explica a pesquisadora da Unicamp Karen Tank Mercuri Macedo, “o linchamento virtual também é real. A pessoa atacada tem família, vida social, não é só um avatar”.

Linchamentos

Correio 24 horas

“Acreditamos que o linchamento virtual muitas vezes acontece por falta de letramento digital. Se a pessoa não tem uso crítico da tecnologia, não conseguirá avaliar a fonte das informações que recebe e tem mais chances de ser um linchador ou linchado em potencial”, continuou.

E quem toma parte nos linchamentos tem consciência do que está fazendo? Isso depende da situação. “Há um caso de um linchamento real no Rio de Janeiro em que uma idosa foi vista tentando arrancar o olho da vítima com uma colher. Quando foi levada para a delegacia, ela não lembrava o que tinha feito. Acreditamos que a fúria da multidão deixe vir à tona um comportamento que nem a pessoa entende”, explicou Macedo.

Entretanto, nas redes sociais a situação é diferente, mesmo que a ação também seja impensada. “A pessoa tem muito mais consciência do que está fazendo na internet do que na agressão física no mundo real, que geralmente parte de uma explosão súbita”, pontuou.

Por que linchamos?

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Embora o linchamento possa ser virtual, ele pode passar para a vida real na maioria dos casos. Como por exemplo, o caso de Fabiane Maria de Jesus. Em maio de 2014, essa dona de casa foi assassinada no Guarujá depois de ter sido acusada de praticar magia negra e sequestrar crianças.

Esse boato começou na internet junto com relatos falsos de testemunhas. Então, Fabiane foi espancada até a morte por moradores locais depois de ter sido confundida com o retrato falado da suposta sequestradora.

O linchamento de Fabiane foi filmado e publicado na internet e logo viralizou. Apenas depois que foi descoberto que o retrato falado tinha sido feito em 2012 pelos policiais do Rio de Janeiro em um caso que não tinha relação nenhuma com o boato.

Os linchamentos têm caráter vingativo, de punir com força redobrada o suposto crime original. Eles são uma maneira da sociedade julgar a ineficiência dos processos oficiais de justiça.

“A hipótese mais provável é a de que a população lincha para punir, mas sobretudo para indicar seu desacordo com alternativas de mudança social que violam valores e normas de conduta tradicionais. O linchamento não é uma manifestação de desordem, mas de questionamento da desordem”, escreveu Martins.

Intolerância

Viva de conteúdo

Por várias vezes, é esse questionamento que provoca um dos maiores gatilhos para o linchamento, que é a intolerância.

“Todas as pessoas que já fazem parte de minorias vão continuar sendo marginalizadas na internet, embora tenhamos por lá essa sensação de igualdade. Existe sempre um poder, um grupo mais privilegiado controlando outros. Se você não se encaixa no grupo homogêneo, precisa ser destruído, nem que seja só com palavras. Não existe mais essa fronteira fixa entre o real e o virtual”, pontuou Macedo.

Então, a intolerância é uma das bases para esse ataque de grupos organizados e genericamente definidos como haters. E todos estão sujeitos a sofrer seus ataques, principalmente aqueles que defendem alguma causa polêmica, como por exemplo, ativistas feministas, militantes políticos, ou quem defende legalização das drogas ou do aborto.

“A ideia deles seria preservar alguns valores socialmente construídos, tidos como certos. Nessa lógica, deve-se ‘destruir’ o que pensa diferente, que seja uma ameaça aos bons costumes”, concluiu Macedo.

Fonte: Superinteressante

Imagens: Correio 24 horas, UOL, Viva de conteúdo

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