Olhar do amanhã: a ciência capturou pensamentos em detalhes

Um estudo fascinante conseguiu ler pensamentos de verdade, identificando a atividade neural em pacientes com epilepsia. A pesquisa está disponível na revista Nature e muda a forma como enxergamos os pensamentos e a formação de ideias.

Essa análise aconteceu durante a cirurgia de 17 pacientes que estavam acompanhados de eletrodos. Com isso, foi possível ver a formação de mapas cognitivos durante o raciocínio lógico. Estamos começando a entender como o cérebro aprende coisas novas a partir do que vivenciamos.

O doutor Alvaro Machado Dias, neurocientista e futurista, explicou sobre o experimento.

Não conseguimos antes

Inicialmente, pesquisadores e cientistas já tinham discutido a ideia de ler pensamentos antes. No entanto, o contexto era totalmente diferente. Em duas ocasiões diferentes, equipes tentaram chegar em um cenário satisfatório para essa área.

A primeira foi com a ressonância magnética de pacientes, um exame que permitiu decodificar palavras que a pessoa estava pensando naquele momento. Enquanto isso, a segunda oportunidade foi na análise de sonhos, com a atuação de inteligência artificial para ajudar nessa decodificação.

Contudo, não se tratava, de fato, da leitura de pensamento. Isso porque os aparelhos analisavam somente o sangue, e não o cérebro. Ou seja, não eram pensamentos, de fato. No entanto, esse caso realmente conseguiu identificar a produção de raciocínios abstratos, e transformá-los em algo real.

Via Freepik

Estudo

Durante as cirurgias de pessoas com epilepsia, a equipe implementou alguns milhares de eletrodos no cérebro dos pacientes. Esse método é invasivo, ou seja, não machucou os pacientes de forma alguma.

O equipamento foi usado como um medidor das atividades do neurônio. Isso porque cada neurônio é binário, ou está disparando eletricidade, ou não está. Quando pensamos, agimos ou raciocinamos, os neurônios disparam em nosso cérebro. O uso dos eletrodos monitora essa atividade em janelas temporais, chamadas de épocas, que acontece mais ou menos a cada 1 segundo.

Além disso, utilizou-se cerca de 3 mil eletrodos em cada paciente. Apesar de termos mais de 82 bilhões de neurônios, esse foi o maior mapeamento elétrico do cérebro em uma pesquisa até o momento. Eles isolaram cada neurônio, um a um, com muita precisão.

Ainda, escolheram algumas áreas para implantar os eletrodos, sendo elas hipocampo, amigdala e córtex temporal. Todos se relacionam com a área da memória, do afeto, do carinho e fundamentalmente do aprendizado.

O paciente ficava na mesa de cirurgia, com eletrodos de alta precisão em grande quantidade, e realizava testes cognitivos. Tudo isso acontece enquanto os pacientes estão conscientes, mas sem sentir nada.

Teste para ler pensamentos

Imagine um teste cognitivo simples. Existem dois botões, um na mão direita, e um na mão esquerda. Ao surgir uma figura ou um sinal sonoro, o paciente deve apertar o botão da mão esquerda.

Isso se repete por algum tempo, até que o botão na mão esquerda deixa de funcionar. Com isso, o paciente, seguindo um caminho lógico, passa a apertar o botão direito, para ver se obtém resultado.

Essa sequência cognitiva representa o aprendizado de uma nova regra. Ou seja, se o botão esquerdo não funciona, vamos apertar o direito. Essa mudança, que não foi explicada por ninguém, acontece na mente. Cria-se um mapa cognitivo semelhante a quando aprendemos uma coisa nova.

Os resultados do estudo foram impressionantes. Durante esse momento de aprendizado e mudança de regra, foi possível ler pensamentos dos pacientes. Os pesquisadores notaram que a leitura dos eletrodos não formavam um mapa cognitivo abstrato, como se imagina, mas sim figuras geométricas bastante estáveis.

Via Freepik

Forma de pensar

A atividade dos neurônios costuma ser abstrata, ou seja, sem formação, sem regras ou figuras. Afinal, são bilhões e bilhões de impulsos elétricos por segundo.

Contudo, conferindo o pensamento dos pacientes naquele momento do teste, a imagem que os eletrodos formaram foram geométricas. Elas tinham uma figura bem destacada, onde foi possível ver os planos, a formação do raciocínio e do aprendizado. Em outras palavras, a máquina conseguiu ler pensamentos, de fato, a um nível profundo.

Os próximos passos serão entender se os cientistas conseguem ver mais mudanças se formando no cérebro e se outros tipos de pensamento e aprendizado possuem figuras diferentes. Por exemplo, se formam imagens específicas ou outros tipos de forma.

Com base nesse padrão de atividade do neurônio na experiência que acontece naquele momento, se tem um quadro coordenado de movimentação. O entendimento de uma nova regra, a capacidade de aprender, se associa a uma organização geométrica estável dos pensamentos. Eles se ativam em uma sequência, e não aleatoriamente.

Conseguir captar isso pela primeira vez em uma máquina é o primeiro passo para ler pensamentos e entender ainda mais sobre o cérebro humano.

 

Fonte: Olhar Digital

Imagens: Freepik, Freepik

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