Ciência e Tecnologia

Plástico pode transformar oceano em “sopa química”

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Não é nenhuma novidade que o acúmulo de plástico no mar pode causar danos irreversíveis à vida marinha. Nesse sentido, novas descobertas acendem um alerta ainda mais grave: a combinação de sol e plástico pode transformar os oceanos em uma grande “sopa química”. Ou seja, o calor pode fazer com que um grande número de substâncias solúveis seja liberado na água.

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iStockphoto

Para a realização do estudo publicado na revista científica Environmental Science & Technology e conduzido pela Instituição Oceanográfica Woods Hole, nos Estados Unidos, pesquisadores utilizaram sacolas plásticas de diferentes lojas. Em laboratório, as sacolas foram mantidas em uma solução ionizada que simula a água do mar. A solução foi depositada em copos esterilizados.

Posteriormente, a amostra foi dividida em duas. Uma metade ficou no escuro por seis dias, enquanto a outra foi exposta ao sol por cinco dias. Segundo os pesquisadores, a quantidade de substâncias liberadas pelas amostras iluminadas foi muito maior.

Dezenas de milhares de compostos foram encontrados na água em pouco tempo. Em apenas cem horas de exposição solar, o volume de carbono orgânico solúvel, por exemplo, já era considerável. Ou seja, a luz solar não é apenas capaz de quebrar os plásticos, mas também é capaz de converter seus polímeros e aditivos em uma sopa de muitos novos produtos químicos.

Vale ressaltar que cem horas pode parecer muito para nós, mas para animais que serão afetados ao longo de toda a vida, é um tempo muito curto para um “estrago” tão grande no mar. O processo é mais tóxico e mais rápido do que os pesquisadores estimavam.

“É espantoso pensar que o sol pode degradar o plástico, que é essencialmente um composto que tem alguns aditivos na mistura, em dezenas de milhares de compostos solúveis em água”, disse Collin Ward, coautora do estudo, em um comunicado da Woods Hole.

Possíveis consequências dos resíduos plásticos

Nos oceanos existem grandes “sopas de lixo”. Esse termo refere-se a um acúmulo de lixo marinho visível à superfície, que se acumulam em um só lugar por conta das correntes marítimas e ventos. A mais conhecida é a do Pacífico (também conhecida como “grande depósito de lixo do Pacífico” ou “ilha”) e foi descrita pelo oceanógrafo Charles Moore em 1997.

Em 2018, foi estimado que o depósito de resíduos plásticos à deriva no oceano Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí, conteria pelo menos 79 mil toneladas de resíduos espalhados por 1 milhão e 600 mil quilômetros quadrados. É de se imaginar que grandes quantidades de substâncias são liberadas nas sopas de lixo quando os materiais reagem com a luz solar.

Considerando que uma grande quantidade de espécies marinhas estão ameaçadas de extinção, como tubarões e arraias, a transformação do habitat natural desses animais em um depósito de substâncias químicas pode contribuir para que eles sumam do planeta de forma mais acelerada. Essa constatação adquire proporções ainda maiores quando se compreende que cerca de 8 mil toneladas de plástico chegam aos mares todos os anos.

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WWF

Um outro ponto preocupante diz respeito à alimentação humana. É possível que essas substâncias químicas se acumulem nos peixes e cheguem à mesa dos humanos, contaminando-os. Estudos que analisam a possibilidade de que os resíduos tóxicos cheguem ao corpo humano estão em andamento e a comprovação só será possível quando eles forem publicados.

Qual a solução?

A solução para esse problema é simples, mas muito difícil de ser alcançada: a conscientização. O mar não é um grande esgoto e não deve ser encarado como se todo e qualquer lixo pudesse ser nele despejado sem qualquer tipo de consequência. Milhões de espécies sobrevivem nos mares e oceanos e podem ser fortemente prejudicadas por essa prática humana. 

Para que o sol não reaja com o plástico do mar, a única coisa que se pode fazer é deixar de jogar plástico nesses locais. Da mesma forma, é necessário um esforço conjunto e principalmente das autoridades para retirar dos oceanos as centenas de quilogramas de sacolas, garrafas e muitos outros itens que já estão prejudicando a vida marinha. Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA), existem 46.000 fragmentos de plástico em cada 2,5 quilômetros quadrados da superfície dos oceanos. 

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Frente a isso, é importante que o consumo de plástico diminua radicalmente, já que esse material leva até 450 anos para se decompor na natureza. Ou seja, quase meio século é necessário para que aconteça a decomposição de uma garrafa pet!

Como o cuidado com o lixo é pouco, esses materiais são descartados de qualquer maneira e, consequentemente, chegam em rios e mares. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), caso o ritmo de consumo continue o mesmo, em 2050 pode haver mais plástico do que peixes nos oceanos.

Vale dizer que, atualmente, existem diversas cooperativas de reciclagem que podem transformar produtos feitos de plástico em outros novos. Apesar disso, os materiais destinados à reciclagem representam uma parcela muito pequena perto daqueles que vão diretamente para os aterros sanitários.

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