A longevidade tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Os avanços na área da tecnologia e saúde têm garantido uma vida mais longa e em melhores condições. Mesmo assim, não são muitas as pessoas que conseguem passar da marca dos 100 anos. Contudo, no reino animal a história é outra. Tanto que alguns animais conseguem viver por vários séculos, como o tubarão-da-Groenlândia, que pode viver até 400 anos. Por conta disso, estudos são feitos a respeito do segredo de longevidade da espécie.
Um exemplo disso foi o mapeamento do genoma do tubarão-da-Groenlândia feito por uma equipe internacional de cientistas da Europa e dos Estados Unidos. Através dele, eles tiveram a chance de desvendar qual é o segredo de longevidade desse tubarão.
“Qualquer pesquisa sobre os mecanismos que permitem a esse animal viver tanto tempo, em algum momento, precisará da sequência do genoma”, disse Steve Hoffmann, biólogo computacional do Instituto Leibniz de Envelhecimento e da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, que liderou o estudo.
O Globo
As descobertas feitas por eles dão uma montagem bastante abrangente a respeito da composição genética do animal. Além de darem os primeiros insights a respeito dos genes específicos e os mecanismos biológicos, como uma rede de genes duplicados envolvidos na reparação do DNA. Talvez sejam eles os responsáveis pelo segredo de longevidade dessa espécie.
Uma descoberta foi que o tubarão-da-Groenlândia tem genomas bem grandes, aproximadamente 6,5 bilhões de “pares de bases” de DNA, ou blocos de construção. Isso é aproximadamente duas vezes mais do que os humanos tem, além de ser o maior genoma dentre todos os tubarões que foram sequenciados até agora.
“Não teríamos imaginado que fosse tão grande”, disse Arne Sahm, bioinformático também no Instituto Leibniz de Envelhecimento e na Universidade Ruhr de Bochum, que foi o autor principal do estudo.
O que surpreendeu foi que mais de dois terços do genoma era composto por gentes repetidos que eram conhecidos como elementos transponíveis, ou genes saltadores. Eles se inserem em outros e conseguem se autoreplicarem através de um mecanismo de “copia e cola”. Quando fazem isso, os genes normalmente interrompem o funcionamento normal dos outros genes, o que pode ter mutações, deleções ou duplicações como consequências. Tudo isso, por sua vez, pode fazer com que sejam criadas doenças ou problemas no organismo.
“Esses são parasitas, parasitas genômicos. Eles têm uma reputação bem ruim”, disse Hoffmann.
O Globo
Com essas descobertas, os pesquisadores começaram a se perguntar como esses tubarões conseguiam viver tanto se tinham um grande número de genes prejudiciais. O proposto por eles foi que o tubarão-da-Groenlândia pode ter evoluído de uma forma única para sequestrar a maquinaria desses genes saltadores para duplicar genes envolvidos na reparação do DNA.
“Esses são animais que vivem mais do que os seres humanos, e fazem isso na natureza, sem medicamentos, hospitais ou cuidados de saúde”, disse João Pedro de Magalhães, biólogo molecular especializado em envelhecimento da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, que não esteve envolvido no estudo.
Por conta disso que ele disse que estudar esse animal pode, um dia, auxiliar os cientistas a “desenvolver terapias contra o câncer ou medidas de prevenção, ou uma compreensão mais profunda do câncer que traga benefícios clínicos” para os humanos.
A primeira vez que foi descoberta essa grande longevidade do tubarão-da-Groenlândia foi em 2016. Na época, um estudo usou métodos de datação por radiocarbono e técnicas de modelagem para conseguir estimar a idade de um grupo de 28 tubarões-da-Groenlândia. Como resultado, eles viram que os animais mais velhos podiam viver aproximadamente 400 anos e chegavam à maturidade sexual por volta dos 150 anos.
Isso foi uma grande surpresa. E por conta disso, cientistas do mundo todo estudam esse animal desde então para conseguir descobrir qual é o segredo da longevidade dele. E o foco de cada estudo é diferente, com alguns estudando o coração, outros o metabolismo, e outros analisando o comportamento e ecologia.
Entretanto, o ponto principal é desvendar o genoma do tubarão-da-Groenlândia. Tanto que, pelo menos três equipes estão correndo para conseguir mapear o genoma completo do animal nos últimos cinco anos. E os primeiros a publicarem foram Hoffmann e seus colaboradores.
“Não sabíamos nada antes sobre seu genoma, e agora temos uma sequência completa. Acho isso ótimo”, disse Steven Austad, biólogo da Universidade do Alabama em Birmingham, que não participou do estudo.
Agora, de acordo com Sahm, ele e sua equipe querem fazer sequências de genoma de espécies que vivem menos tempo, mas que sejam parecidas com o tubarão-da-Groenlândia evolutivamente, como no caso do tubarão dorminhoco do Pacífico. Com isso, eles podem ter mais ideia sobre qual é o segredo da longevidade do tubarão-da-Groenlândia.
Fonte: O Globo
Imagens: O Globo