Na costa leste da Austrália, mais de seis milhões de abelhas foram sacrificadas, informou uma autoridade na quarta-feira (29/06). O objetivo da ação é eliminar um parasita devastador que está se propagando mesmo com o bloqueio das colmeias.
Após o ácaro “varroa destructor” ter sido detectado, 600 colmeias foram destruídas. De acordo com o ministro da Agricultura de Nova Gales do Sul, Dugald Saunders, cada uma das colmeias continha entre 10.000 e 30.000 abelhas.
“São muitas abelhas”, disse. Em seguida, afirmou que é provável que o número cresça.
O ecologista de abelhas Jay Iwasaki, da Universidade de Adelaide, explicou que os pequenos ácaros varroa marrom-avermelhados são como “pequenos vampiros” que se alimentam de abelhas.
Além disso, esses ácaros podem espalhar “alguns vírus muito graves” por meio de colônias de abelhas, que não são nativas da Austrália, mas que são necessárias para a indústria agrícola do país.
A Austrália é o único país produtor de mel onde o ácaro não é endêmico. O “varroa destructor” causou uma imobilização das colmeias depois que ele foi detectado na fronteira do país no começo da semana.
Todas as colmeias em um raio de 10 quilômetros de quatro áreas onde os ácaros varroa foram encontrados devem ser destruídas. Além disso, os cuidadores em outros locais e Nova Gales do Sul não poderão mover colmeias, abelhas, mel ou favos até novo aviso.
De acordo com o departamento estadual de Indústrias Primárias, as medidas objetivam “garantir a erradicação do parasita”.
O que aconteceria se as abelhas não existissem?
“Se as abelhas deixassem de existir, o mundo entraria em um caos sob diferentes aspectos”, disse Carlos Alfredo Lopes De Carvalho, engenheiro agrônomo doutor em entomologia, em entrevista ao Vida de Bicho.
Bruno Freitas De Conti, também engenheiro agrônomo e mestre em entomologia acrescenta que as abelhas possuem papel chave para plantas e animais.
Em relação às plantas, esse inseto é responsável por polinizar diversas espécies vegetais, um dos mais importantes serviços ecossistêmicos. O processo de transferência de grãos de pólen resulta na reprodução das plantas.
As plantas e os frutos constituem, em meio natural, a base da alimentação de animais herbívoros, que são a alimentação de animais carnívoros e dos seres humanos.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, é estimado que um terço dos alimentos consumidos globalmente é dependente do trabalho das abelhas.
A pesquisa também aponta que o inseto é responsável pela polinização de 80% dos cultivos no planeta. Outros estudos apontam que caso acontecesse o bee apocalypse (do inglês, apocalipse das abelhas), a vida na Terra acabaria.
Por causa disso, o recente, e brusco, declínio populacional das abelhas é um cenário preocupante no meio ambiente.
Ameaça
Um levantamento feito pela Agência Pública e Repórter Brasil em 2019 apontou que meio bilhão de abelhas foram encontradas mortas no país. O número é resultado da constante dizimação desses insetos, que estão sendo incluídos aos poucos na lista de espécies em extinção desde 2016.
De acordo com Carlos, entre os motivos relacionados à redução está a diminuição da área vegetal ou a sua simplificação, que impacta na qualidade nutricional das abelhas e pode impedir a mistura das populações. Isso provoca uma perda de diversidade genética e aumenta o risco ao animal.
Quando associados a fatores externos, como aquecimento global, agrotóxicos e poluição em geral, essas condições podem baixar a resistência desses insetos às doenças e pragas.
“As abelhas podem sofrer infestações de ácaros parasitos e infecção por diversos microrganismos, como fungos, vírus e bactérias. Por isso é necessário um olhar mais cuidadoso para com elas”, ressalta o profissional.
Bruno aponta que, “para entendermos o que podemos fazer para proteger as abelhas, basta pensarmos em como podemos atenuar as modificações que fizemos no meio ambiente”.
O profissional aponta que a arborização de áreas urbanas com espécies adequadas, redução da poluição do ar e da água, implementação de parques e hortas urbanas podem contribuir para a manutenção das populações de abelhas.
Fonte: R7, Vida de Bicho