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As ocultas marcas deixadas pelo homem no mais profundo do oceano

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Uma recente reportagem da BBC revelou que o fundo do Oceano Pacífico possui uma gama de marcas intrinsecamente curiosas em seu leito. Para os cientistas, as marcas em questão jamais poderiam ter sido ocasionadas por um animal.

Os sinais, visíveis somente quando iluminados por refletores de veículos submersíveis, os quais são operados remotamente, estão no mesmo local há décadas e os pesquisadores acreditam que não há nada que podem apagá-los.

A trilha que aparece na imagem acima, por exemplo, existe há mais de 37 anos. Basicamente, remonta às décadas de 1970 e 1980, período em que se realizou as primeiras tentativas de mineração em alto-mar.

Nos últimos dias, cientistas acessaram mais uma vez o local. O objetivo da expedição foi averiguar o que aconteceu com os ecossistemas na área. Recentes análises mostram que o que os pesquisadores encontram são feridas que jamais vão se cicatrizar.

Para entender melhor todo o cenário e compreender porque essas marcas são importantes, precisamos voltar no tempo.

Fundo do mar

Começamos colocando em pauta o famoso nódulo polimetálico – fragmentos que se perdem em meio ao fundo do mar e que, por meio de um lento processo químico natural, reverte-se em mineral.

Esses nódulos polimetálicos, mesmo passando por um processo de milhões de anos para crescer, são tão abundantes que chegam a cobrir grandes áreas da planície abissal do oceano.

Esses depósitos de ferro, cobre e elementos raros foram descobertos em 1873, durante uma viagem do HMS Challenger, navio da Marinha Real Britânica. O químico da expedição foi um dos primeiros integrantes da tripulação a notar que os nódulos não eram insignificantes.

A real importância dos nódulos veio a calhar anos depois, quando os cientistas descobririam que esses minúsculos fragmentos de minerais são como ilhas para algumas formas de vida, oferecendo uma superfície rara e firme para a vida, digamos, se agarrar.

“Eles são como as áreas rochosas em um jardim — você vai ter mais espécies vivendo lá do que se tivesse apenas terra”, diz Daniel Jones, do National Oceanography Centre em Southampton, no Reino Unido, que estuda os efeitos das intervenções humanas na vida marinha.

Com o tempo, estes acabaram agregando também um valor imenso para os seres humanos.

Tecnologia

Para suprir a corrida tecnológica, que, na verdade, nunca para de avançar, é preciso atender uma demanda de matéria-prima, como a constante aquisição de cobalto, usado comumente nas produções de em baterias de íon lítio de carros e dispositivos eletrônicos.

O material, hoje, infelizmente, é proveniente de fontes problemáticas. De acordo com a BBC, a República Democrática do Congo, por exemplo, extrai mais de 60% do suprimento mundial de cobalto de minas terrestres.

O problema, além da retirada excessiva do material, envolve também a atividade de mineraçao no país, que está sempre intimamente ligada a abusos de direitos humanos e trabalho infantil.

Por conta de tal realidade, os nódulos oceânicos estão sendo cada vez mais visados, tanto que, como aponta a BBC, empresas estão buscando não apenas novos veios de extrair o material como também novos locais – embora por décadas a exploração do material tenha sido considerada não rentável.

Como a corrida tecnológica não pode parar e atender a demanda em um mercado como este é primordial, várias organizações de mineração estão unindo forças para remover os nódulos.

Caso as mineradoras ganhem o direito, centenas de quilômetros quadrados serão dragados por ano.

Impacto

Como dissemos ao longo da matéria, entre 1970 e 1980, tanto pesquisadores quanto mineradoras avaliaram a viabilidade e as consequências ambientais que seriam ocasionadas no oceano com a prática da mineração. Na época, segundo a BBC, “navios arrastaram ancinhos e arados de metal especializados sobre o leito do Pacífico para recolher os nódulos e trazê-los para a superfície”.

Mesmo que as análises não simulem exatamente o maquinário de dragagem necessário para a instalação de futuras minas, os efeitos dessa parceria ofereceram algumas evidências. A principal é que, mesmo após décadas, a vida nessas trincheiras onde estudos foram realizados para analisar os impactos da mineração ainda não voltou ao normal.

Para os pesquisadores, a vida, aqui na terra, “tende a brotar nas cavidades aradas de um campo, mas nas profundezas do mar, as trincheiras são relativamente estéreis”. Isso ocorre porque as criaturas que dependiam dos nódulos para sobreviver, não podem mais recolonizar com a eliminação dos mesmos.

“As comunidades desses nódulos nas planícies abissais serão especialmente vulneráveis ​​ao risco de extinção causado pelos esforços para extraí-los”, concluiu Lara Macheriotou, da Ghent University, na Bélgica.

De acordo com os cientistas, tais efeitos devem durar ainda centenas ou até milhares de anos.

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