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Conheça Jantar Mantar, o portal para as estrelas criado há 300 anos

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Na cidade de Jaipur, a capital do Estado indiano do Rajastão, está localizado o Jantar Mantar, o misterioso portal indiano para as estrelas. O complexo ao ar livre é repleto de paredes triangulares que não levam a lugar nenhum.

Apesar de não ter a ornamentação do Palácio da Cidade que o rodeia, nem a complexidade do templo Govind Dev Ji e do Hawa Mahal (Palácio dos Ventos) nas suas proximidades, o local conta com coleção de 20 esculturas científicas conhecidas como yantra. Com 300 anos, elas podem medir as posições das estrelas e dos planetas, calculando o tempo com precisão.

De acordo com o arquiteto Shalbha Sarda, em texto publicado na BBC, as estruturas são soluções arquitetônicas geniais para compreender a mecânica da astronomia. Além disso, elas são ferramentas para que os astrólogos tradicionais hindus pudessem elaborar mapas astrais.

Em 1727, quando o rei da região, Sawai Jai Singh, nomeou Jaipur como sua capital, ele decidiu criar a primeira cidade planejada do país, com base nos princípios do Vastu Shastra. O sistema utiliza a natureza, a astronomia e a astrologia para projetar a arquitetura e o planejamento.

O rei notou que, para alinhar Jaipur com as estrelas, auxiliar as práticas astrológicas e prever eventos meteorológicos importantes para a produção agrícola, seria preciso utilizar instrumentos precisos e acessíveis.

No entanto, após enviar equipes de pesquisa pela Ásia Central e Europa para coletar dados sobre o conhecimento dos cientistas islâmicos e europeus, Sawai Jai Singh percebeu uma discrepância entre as leituras dos instrumentos de latão que eram usados na época.

Patrimônio mundial

Foto: Getty Images/ BBC

Para aumentar essa precisão, o rei elevou o tamanho dos instrumentos em escala, estabilizou-os reduzindo as partes móveis e os tornou resistentes às condições climáticas, com o uso de mármore e pedras locais na construção. Em seguida, ele utilizou inovações para construir cinco observatórios ao ar livre nas cidades indianas de Jaipur, Déli, Ujjain, Varanasi e Mathura: os Jantar Mantar.

Quatro Jantar Mantar sobrevivem até hoje, o de Mathura foi demolido, no entanto, o de Jaipur, inaugurado em 1734, é o maior e mais completo.

Atualmente, ele é Patrimônio Mundial da Unesco por, segundo o órgão, representar arquitetura, astronomia e cosmologia, além de aprendizados e tradições da cultura ocidental, do Oriente Médio, da Ásia e da África.

O maior Jantar Mantar

Foto: Getty Images/ BBC

“Jantar”, em sânscrito, significa instrumentos, e “mantar” significa calculadora. Por isso, cada yantra tem um objetivo matemático. Alguns são relógios de sol que indicam a hora local e a posição do Sol sobre o hemisfério. Já outros medem os movimentos dos planetas e das constelações.

O maior de todos é um relógio de sol equinocial conhecido como Samrat Yantra. Essa parede triangular tem 27 metros de altura e duas rampas semicirculares finas, que se irradiam como asas a partir dos seus lados.

Outro yantra, o Jai Prakash, mede a trajetória do Sol por meio dos signos do zodíaco védico indiano para determinar o horóscopo. A sua estrutura em forma de tigela é como um mapa invertido do céu e uma placa metálica suspensa sobre um fio cruzado que determina uma sombra, demonstrando a posição de um dado planeta ou estrela.

“Usei esses instrumentos muitas vezes nos meus dois anos de mestrado”, disse à BBC Neha Sharma, doutora em astrologia védica (Jyotish Shastra) pela Universidade do Rajastão, na Índia. “Aprender a ler esses instrumentos e fazer cálculos com eles ainda é parte obrigatória do currículo de qualquer pessoa que deseje cursar astrologia como opção de carreira.”

Defesa dos Jantar Mantar

Foto: Shalbha Sarda

A maior parte do mundo científico moderno considerava os observatórios Jantar Mantar apenas uma curiosidade, até a astrofísica indiana Nandivada Rathnasree defender a utilidade das estruturas.

Como diretora do Planetário Nehru, em Nova Déli (cargo exercido entre 1999 e sua morte, em 2021), ela incentivou os estudantes de astronomia a pesquisarem sobre a posição dos astros nos diversos Jantar Mantar, o que fez os observatórios se tornarem reconhecidos no mundo acadêmico.

“Foi Nandivada Rathnasree que lançou os holofotes da comunidade científica para os Jantar Mantar”, disse Rima Hooja, arqueóloga e diretora consultiva do Museu Marajá Sawai Man Singh 2°, no Palácio da Cidade. “Seu papel também foi fundamental para o reconhecimento do Jantar Mantar de Jaipur como Patrimônio Mundial da Unesco.”

Os Jantar Mantar são conhecidos pela sua arquitetura genial e estilo clássico.

“Superficialmente, os Jantar Mantar podem parecer que não pertencem à arquitetura local”, disse a arquiteta de conservação Kavita Jain, que mora em Jaipur, à BBC. “Mas, quando você olha de perto, o enorme relógio de sol é estável por criar espaços vazios na forma de arcos. Os dosséis hindus que coroam os instrumentos, o mármore e as pedras usadas na construção — todos são reminiscências das tradições arquitetônicos locais.”

Atualmente, turistas, estudantes e cientistas consideram que o Jantar Mantar de Jaipur é mais que um monumento histórico. 

Fonte: BBC

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