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Corpos estranhos no reto é como a medicina chama os objetos que são inseridos no reto e, por vezes, ficam presos ali. Embora possa parecer um tabu, tanto social quanto entre os próprios profissionais da saúde, essa patologia é descrita na literatura desde o século 16. Entre os vários casos já registrados no mundo, recentemente, foi uma ocorrência brasileira que chamou a atenção do mundo científico.
Segundo o material publicado no International Journal of Surgery Case Reports, um homem de 54 anos foi atendido em Manaus após ficar com um halter de 2kg preso no reto. Assim como mencionado acima, esse não é um caso isolado. Corpos estranhos no reto apresentam casos clínicos bem peculiares ao redor das gerações e regiões do mundo. Porém, esse ocorrido chama um pouco mais de atenção pelo tamanho e peso do objeto inserido.
De acordo com o relato médico, o paciente chegou ao hospital com dores abdominais, náuseas, vômitos e outros problemas intestinais. Visto que não havia sinais de perfuração no corpo do homem, inicialmente descartou-se o diagnóstico de corpos estranhos no reto. No entanto, após a realização da radiografia veio a surpresa: um peso de academia de 2kg próximo ao reto do indivíduo.
Em seguida, encaminharam o homem para o centro cirúrgico e removeram o objeto de forma manual. Mesmo após a cirurgia, o paciente precisou ficar em observação e, por isso, o internaram por três dias. De qualquer forma, a relevância clínica desse quadro foi o sucesso da extração do halter retirado. Segundo o estudo publicado, a taxa de sucesso de extrações é bem rara, de 60% a 75%. Ainda mais para objetos metálicos com cerca de 20 centímetros e 2 quilos.
Casos de corpos estranhos no reto
Foto: Reprodução/International Journal of Surgery Case Reports
Assim como o paciente de Manaus, a maioria dos casos clínicos envolvendo corpos estranhos no reto não relatam de fato o quadro aos médicos. Geralmente, a equipe costuma descobrir por conta própria, após a realização da radiografia e, mesmo sentindo dores insuportáveis, os pacientes costumam negar falar o real motivo do incômodo.
Uma cenoura de 20 centímetros, tubos de desodorante, chave de fenda, guarda-chuvas, canos de escopeta, velas, pepinos, cabos de vassoura, tubos de aspirador, cabos de martelo, garrafas e até mesmo uma enguia já foram retirados de ânus alheios. A literatura médica é repleta de casos clínicos semelhantes e o antropólogo estadunidense William J. Robertson aborda essa questão.
Prazer anal, o tabu
De acordo com o pesquisador que mergulhou na literatura científica, existem pelo menos 147 estudos aprofundados sobre corpos estranhos no reto. Além disso, existe também um grande número de trabalhos superficiais e meramente descritivos em torno da patologia. O estudioso utilizou tais dados para reforçar sua teoria: o tabu do prazer anal.
Os pacientes que chegam aos hospitais com um quadro de corpos estranhos no reto, normalmente têm vergonha de relatar o ocorrido. No entanto, grande parte deles adia ao máximo a ida ao ambulatório, o que agrava ainda mais o caso e pode levar a um desenvolvimento mais problemático.
“A medicina baseia-se em dividir as coisas em normais e anormais ou patológicas. Infelizmente, o anormal frequentemente não se refere simplesmente a uma variação da norma estatística; esse anormal está envolto em ideias derivadas da cultura a respeito do que é um comportamento moral”, disse Robertson.
Segundo o antropólogo, sua pesquisa detectou que 69% dos estudos médicos vinculam os corpos estranhos no reto a práticas sexuais “pervertidas ou aberrantes”. Contudo, existem práticas consensuais e saudáveis entre pessoas de vários gêneros e orientações sexuais que podem resultar em um incidente. Em diversos outros casos de acontecimentos inesperados que terminam no hospital não há uma estigmatização. Portanto, o prazer anal segue sendo o tabu.
Fontes: G1, Manual MSD, El Pais
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