Análises de DNA derrubaram a teoria que buscava explicar o desaparecimento dos habitantes de Rapa Nui, também conhecida como Ilha de Páscoa, território chileno no Oceano Pacífico.
A teoria de que os nativos da ilha teriam destruído o ecossistema local, levando ao colapso da população antes da chegada dos europeus no século 18, foi amplamente divulgada pelo livro “Colapso: Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso”, de Jared Diamond.
Contudo, essa hipótese sempre foi alvo de críticas por parte de diversos acadêmicos. Especialistas questionavam os argumentos de Diamond sobre o declínio da civilização na ilha, que está localizada a mais de 3 mil km do Chile.
Agora, um estudo publicado na última quarta-feira (11) na revista Nature apresenta análises genéticas de antigos habitantes de Rapa Nui, refutando essa teoria.
Além disso, o estudo sugere que, ao contrário do colapso, a troca genética aponta para uma população em expansão na época.
Ilha de Páscoa
A Ilha de Páscoa é um território chileno localizado no meio do Oceano Pacífico, a mais de 3.500 km da costa do Chile.
Famosa por suas enormes estátuas de pedra, os moais, ela tem uma história intrigante devido ao seu isolamento e ao desaparecimento de grande parte da população original.
Existem algumas coisas que se sabe sobre o local. Os primeiros habitantes chegaram à ilha por volta do século 12, provavelmente vindos da Polinésia.
Eles desenvolveram uma sociedade complexa, com uma cultura centrada em torno dos moais, que eram monumentos funerários e de culto para homenagear ancestrais.
Colapso
Por muito tempo, acreditou-se que os próprios habitantes da ilha teriam causado seu colapso, ao superexplorar os recursos naturais.
A hipótese principal era de que a destruição das florestas para construir canoas e transportar os moais levou à erosão do solo, à queda na produção agrícola e à fome, culminando no desaparecimento da civilização antes da chegada dos europeus no século 18.
No entanto, essas pesquisas mais recentes, incluindo análises genéticas, refutam essa teoria.
O mistério dos Moais
Outro ponto interessante sobre a Ilha da Páscoa são os famosos Moais, uma marca única da cultura rapanui. Acredita-se que foram esculpidos entre os séculos 13 e 16.
Eles simbolizam os ancestrais e líderes da ilha, e há cerca de 900 espalhados por toda a região. O processo de construção e transporte desses enormes blocos de pedra ainda é objeto de especulação e fascínio entre pesquisadores.
Portanto, a ideia de que os habitantes desapareceram por autodestruição é cada vez menos provável. Fatores ecológicos e externos, especialmente após o contato europeu, podem ser a explicação.
Análises de 15 amostras de DNA solucionaram mistério
José Víctor Moreno-Mayar, da Universidade de Copenhague, junto com outros cientistas, analisou o genoma de 15 habitantes de Rapa Nui.
As amostras, coletadas durante expedições realizadas em 1877 e 1935, fazem parte do acervo do Museu Nacional de História Natural de Paris.
O DNA foi extraído dos dentes e dos ossos auriculares desses 15 indivíduos. Ao comparar os traços genéticos com os de outras populações, os pesquisadores confirmaram que se tratava de nativos da Ilha de Páscoa.
Muitos duvidam que esse tipo de amostra gere apontamentos reais suficiente para determinar a idade dos indivíduos. Contudo, material genético de dentes e ossos tende a durar milhões de anos, sendo a principal forma de identificação pós-morte.
Por isso, se tornaram uma forma confiável de determinar mais sobre os habitantes da antiga ilha.
Assim, utilizando datação por radiocarbono, o estudo revelou que esses indivíduos viveram entre 1670 e 1950. Além disso, a análise genética não encontrou qualquer indício de colapso populacional na civilização de Rapa Nui.
Colonização europeia acabou com a ilha de Páscoa
O estudo revela que, ao contrário da teoria anterior, a população da Ilha de Páscoa estava em expansão quando os europeus chegaram ao local.
Além disso, a análise genética identificou traços de DNA de nativos americanos nos antigos habitantes de Rapa Nui, sugerindo uma mistura genética entre essas populações no século 12.
Pesquisadores interpretam que os ancestrais dos rapanui colonizaram a ilha e, pouco depois, realizaram uma viagem de volta às Américas.
Ou seja, a teoria inicial caiu por terra, e especialistas estudam alternativas que envolvam terceiros, como uma exterminação por fatores biológicos desconhecidos, por exemplo. Ou até mesmo uma ação em massa por parte dos colonizadores.
A única certeza é que a Ilha de Páscoa estava em crescimento no período em que se acreditava na sua derrubada, e os próximos passos ajudarão a determinar melhor isso.