O termo lavagem cerebral foi usado, pela primeira vez, em 1950, pelo jornalista americano, Edward Hunter, durante uma reportagem sobre o tratamento dos soldados americanos, nos campos de prisão chineses, durante a guerra coreana. Estas técnicas não envolvem armas fantásticas, ou poderes exóticos, mas envolvem o entendimento da psiquê humana e um desejo de explorá-la.
Geralmente, pensamos que essa prática é restrita aos filmes de ficção científica, mas elas são realidade e nem sabemos. Existem relatos de campos de detenção secretos, que são administrados pelo governo chinês, há algum tempo. E para provar a existência deles, existem imagens de satélite e testemunhos de ex-detentos.
Mas o objetivo e a natureza desses campos estão começando a aparecer agora. Isso graças a alguns documentos governamentais que foram vazados. Esses documentos foram conseguidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e foram compartilhados com 17 agências grandes de notícias.
Eles são chamados de China Cables e têm artigos confidenciais desde 2017, que foi quando o governo chinês começou a enviar muçulmanos uigures para os campos que ficam em Xinjiang. Esses documentos foram verificados e autenticados por vários especialistas. E tinham sido assinados por Zhu Hailun, que era a principal autoridade de segurança da região, na época.
Presos
Xinjiang fica no extremo nordeste da China e tem, aproximadamente, 11 milhões de uigures. E eles já entraram em violentos confrontos com a maioria da população Han, em 2009. E por conta disso, com a alegação de estar no meio de uma guerra contra o terrorismo e o extremismo islâmico, o governo abriu o que chamou de “Centros de Treinamento Educacional Profissional”, em 2017.
Teoricamente, esses centros eram voluntários. Mas como mostram os China Cables, os campos de prisioneiros têm um critério de segurança e são muito piores do que sua descrição oficial.
Dentre os documentos, existe um memorando, de nove páginas, mostrando como os campos realmente eram administrados. Eram prioridades prevenir fugas e implementar vigilância 24 horas, sem nenhum ponto cego. Além das autoridades serem instruídas a micro gerenciar todos os aspectos da vida das pessoas, que estavam nesses campos.
As pessoas, que estavam nos campos, eram chamadas de “estudantes”. E os que estavam dirigindo as instalações, eram instruídos a “promover o arrependimento e a confissão dos estudantes, para que eles compreendessem profundamente a natureza ilegal, criminosa e perigosa de suas atividades passadas”.
Lavagem cerebral
Colocando em outras palavras, as pessoas, que estavam presas, teriam que passar por uma lavagem cerebral, para deixar suas crenças e estilo de vida anteriores. E também para começar a adotar um estilo de vida que se assemelhasse ao que o Partido Comunista achasse melhor.
Os estudantes também tinham que passar, no mínimo, um ano no campo, para depois serem libertos. Mas eles também só saíam quando os oficiais achassem que eles estivessem transformados.
“Para aqueles que abrigam vagos entendimentos, atitudes negativas ou mesmo sentimentos de resistência… realizem a transformação da educação para garantir que os resultados sejam alcançados”, instruía o memorando.
Além dessa lavagem cerebral, os documentos vazados têm outras informações. Como por exemplo, um banco de dados, chamado Plataforma Integrada de Operações Conjuntas, que tem informações sobre os cidadãos. E é usado para identificar pessoas, que seriam possíveis detentos.
Apenas com esses dados, 15.683 pessoas foram enviados para os campos em apenas uma semana, em junho de 2017. E 1,8 milhão de moradores de Xinjiang foram selecionados, apenas por usar um aplicativo de compartilhamento de arquivos.
O que se acredita é que, aproximadamente, um milhão de uigures tenham sido presos nos campos, sem nenhum julgamento.