Em suma, por muitos séculos, o homem lutou para compreender como funciona o armazenamento de nossas memórias em nosso cérebro. Entretanto, quanto mais descobrimos e conforme as tecnologias foram avançando para nos ajudar nesse processo, mais evidente se tornou a estranheza de como funciona a memória.
Muitas pessoas podem ter dificuldade de se lembrar do que comeram em alguma noite da semana passada. Ou mesmo o que estavam fazendo nesse momento há um ano. Será que é bom esquecer alguns detalhes visto que a vida de todos é cheia de uma quantidade gigante de detalhes?
O cientista cognitivo Robert Jacobs estuda a percepção e cognição humana há mais de 30 anos. E ele e sua equipe estão desenvolvendo novas formas teóricas e experimentais de explorar a memória e esses esquecimentos.
Seriam eles ruins e resultados de falhas no processamento mental? Ou então poderiam ser uma coisa boa, um efeito colateral desejável do nosso sistema cognitivo que tem uma capacidade limitada?
Jacobs e sua equipe são inclinados mais para a segunda opção. Para eles, os erros de memória podem, na realidade, indicar uma forma pela qual o sistema cognitivo humano é ótimo e racional.
Os cientistas cognitivos pensam há décadas se a cognição humana é estritamente racional. E na década de 1960, os psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky fizeram pesquisas pioneiras a respeito desse assunto. Eles concluíram que as pessoas tendem a usar estratégias mentais rápidas conhecidas como heurísticas.
Por mais que a técnica heurística normalmente tenha bons resultados, às vezes eles não são bons. Por conta disso, Kahneman e Tversky disseram que que a cognição humana não é ótima.
Já na década de 1980, as pesquisas começaram a aparecer na literatura científica sugerindo que a percepção e a cognição humana podem ser frequentemente ótimas.
Tanto que, vários estudos descobriram que as pessoas combinam informações de vários sentidos, como por exemplo, visão e audição, ou visão e tato, de uma forma estatisticamente ideal mesmo com o ruído desses sinais sensoriais.
Contudo, frequentemente existem restrições no comportamento mental humano. Algumas desses restrições são internas. Por exemplo, as pessoas têm capacidade limitada de prestar atenção. Além de também terem capacidade de memória limitada. As pessoas não conseguem se lembrar de tudo com todos os detalhes.
Outras restrições são externas, como a necessidade de decidir e agir em um tempo hábil. Por conta dessas restrições pode ser que as pessoas nem sempre tenham uma percepção ou cognição ideal.
E justamente esse ponto é o ponto-chave. Por mais que a percepção e cognição possam não ser tão boas quanto poderiam ser se essas restrições não existissem, elas podem ser tão boas quanto poderiam ser tendo essas restrições presentes.
A abordagem do estudo de Jacobs e sua equipe enfatiza essa otimização restrita que às vezes é conhecida como abordagem racional de recursos. Então, se o armazenamento de memória não puder manter fielmente todos os detalhes das coisas armazenadas, pela sua limitação, se aconselha a se certificar de que os detalhes mantidos são os mais importantes. Ou seja, a memória deve ser a melhor possível dentro das circunstâncias limitadas.
Os pesquisadores descobriram que as pessoas tendem a se lembrar dos detalhes relevantes para a tarefa e esquecer os irrelevantes. E elas também tendem a se lembrar da essência geral de algo colocado na memória e esquecer os pequenos detalhes.
Isso mostra que os “erros” na memória mostram, na realidade, que ela está funcionando tão bem quanto possível.
Fonte: https://www.sciencealert.com/forgetting-details-doesn-t-always-mean-you-have-a-memory-problem