Natureza

Esse lago contém a mais antiga forma de vida na Terra, de 3 bilhões de anos

0

O Bacalar, Lago das Sete Cores, abriga a vida mais antiga da Terra. De acordo com um guia turístico local, o lago tem até 100 metros de profundidade, e está localizado próximo à fronteira com Belize.

Del Valle passou anos levando turistas para fazer tours de stand-up paddle antes do amanhecer enquanto o sol aparecia no lago. “Graças ao stand-up paddle, tive a oportunidade de explorar a maior parte da lagoa… era tão única, tão majestosa, tão bonita”, conta ele.

“A claridade da água dá esta coloração única do azul ao verde; era delicioso apreciar.” No entanto, o guia afirma que o lago está sob grave ameaça, que pode mudar sua cor, assim como destruir uma antiga população de estromatólitos, um fóssil vivo que antecede os humanos, dinossauros e as plantas.

O lago

Pola Damonte/Getty Images

Del Valle se mudou para Bacalar em 2017, depois do terremoto em Puebla, que o deixou com estresse pós-traumático. A escolha foi após o conselho de um amigo psicólogo. Quando chegou ao local, se encantou pela visão. “Era o paraíso”, afirma ele sobre a primeira vez que viu o lago Bacalar.

“Cada nascer e pôr do sol era inacreditável, cada um era único. Mas agora eu vejo o que está acontecendo… e isso parte meu coração, não está certo”, disse ele.

O Lago Bacalar está caminhando para um desastre ecológico na última década, segundo Luisa Falcón, ecologista microbiana da Universidade Nacional Autônoma do México em Mérida.

Além disso, em novembro de 2015, a Agência Federal de Proteção Ambiental do México emitiu um alerta de poluição para o lago. Esse problema atingiu o ápice em junho de 2020, quando o lago ficou marrom. De acordo com Falcon, se nada for feito, o dano será muito além da cor da água.

A mais antiga vida do mundo

Freepick

Bacalar possui o maior recife de microbialita de água doce do mundo. Eles são estruturas parecidas com rochas formadas por milhares de micróbios, que fazem precipitação de minerais carbonáticos.

“Os microbialitos de Bacalar têm uma idade que varia entre décadas e mais de 9 mil anos”, diz ela. Além disso, a contraparte fóssil viva do microbialito, os estromatólitos, tem aproximadamente 3,5 bilhões de ano, sendo a evidência mais antiga de vida na Terra.

Os estromatólitos são grandes estruturas bege “acolchoadas” que crescem no fundo de calcário da lagoa, parecendo uma couve-flor. Esse formato existe em apenas alguns locais do mundo, e eles vivem em Bacalar devido à temperatura e geoquímica da água.

Além disso, o sedimento se deposita milímetro a milímetro, com a ajuda das cianobactérias, organismo fotossintetizantes, até que vire um monte de rocha visto na superfície das lagoas. Esse é um processo considerado muito lento.

Apesar dos estromatólitos melhorarem ativamente nosso meio ambiente, eles enfrentam problemas, de acordo com Falcón.

O lago é alimentado por um rio subterrâneo de 450 km ligado à maior caverna e sistema de túneis aquáticos do mundo na  península de Yucatán. Isso é bom porque acredita-se que a rocha carbonática dos túneis faz crescer mais estromatólitos do que o normal. No entanto, os ambientes cársticos, em que a água subterrânea flui, deixam os estromatólitos mais vulneráveis ​​a mudanças rio acima.

Falcón acrescenta que o desmatamento da floresta tropical rio acima da lagoa aumentou na última década. Esses dois fatores provocaram um crescimento dos sedimentos, pesticidas e fertilizantes, que chegam à água na época de chuva.

Além disso, altos níveis de nitrogênio e amônia estão sendo registrados na lagoa, principalmente perto da cidade. Assim como a composição da alga está mudando, as algas e os moluscos estão aumentando a população de forma acelerada. Nenhuma pesquisa apresenta que os microbialitas podem se recuperar dos danos ambientais a curto prazo.

Também é importante destacar que a indústria de turismo local desempenhou um grande papel na degradação de Bacalar. “Bacalar como destino turístico tem recebido cada vez mais atenção, mas sem o planejamento urbano necessário, incluindo tratamento de esgoto e instalações sanitárias suficientes” explica Falcón.

Bactérias Firmicutes na lagoa

Wikimedia Commons

Uma pesquisa em que Falcón é coautora apresentou grandes quantidades de bactérias Firmicutes, encontradas no intestino humano, na lagoa. Além disso, Dell Valle apresenta que a indústria de turismo no lago, com automóveis aquáticos e pessoas paradas na lagoa, está danificando a superfície dos estromatólitos. Além disso, soma-se o fato de que, os recifes de corais, quando a sua superfície é perfurada, morrem.

“Há muitos albergues, hotéis, Airbnbs, muitos não ligam para os estromatólitos e os manguezais que permitem que os recursos naturais da lagoa se regenerem”, diz ele. Del Valle assume que, de certa forma, ele era parte do problema como ex-guia turístico.

O local chegava a atrair 100 mil turistas por temporada nos últimos anos. “Estávamos fazendo propaganda e publicidade para tornar aquele lugar mais famoso e popular, sabendo que não tem infraestrutura, planejamento, projetos para proteger a lagoa.”

Em concordância, a pesquisadora e bióloga local Silvana Ibarra, membro do Conselho Cidadão e Científico para a Restauração e Preservação do Aquífero e Sistema Lagunar de Bacalar, afirma que “o aumento de turistas em Bacalar foi de 600% em três anos, e os anfitriões não estão preparados: não aceitam a capacidade que o ecossistema pode suportar.”

Diminuição do turismo no lago

Flickr – Juliane Schultz

A diminuição do turismo durante a pandemia ajudou a melhorar o lago. Ibarra afirma que viram novamente animais como lontras. Com isso, a desaceleração do turismo fez com que as cores do lago voltassem ao normal.

Através do turismo sustentável, o local pode voltar a ter sua reputação de Lago das Sete Cores. Já os visitantes não devem tocar, pisar ou sentar nos estromatólitos da lagoa e sempre entrar na lagoa descalços, sem usar protetor solar e maquiagem porque os dois podem branquear os estromatólitos.

“Fique em hotéis ecológicos e, muito, muito importante: reduza o desperdício”. Acrescentam, ainda: “Venha sabendo que é um santuário natural frágil que deve ser tratado com cuidado.”

“É importante proteger a lagoa e principalmente se adaptar ao território, porque caso contrário, suas belezas e serviços naturais serão perdidos.”

Fonte: BBC

Coisas que podem mudar a cor de seu olho

Artigo anterior

Cabrito mutante ciclope é encontrado em fazenda na Turquia

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido