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Esse país abandonou guerra às drogas e agora usa tempero à base de maconha

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A Tailândia legalizou o cultivo e o consumo da maconha no mês de junho, indo contra uma abordagem de linha-dura com sentenças longas de prisão e até mesmo pena de morte para crimes que envolvem drogas. Assim sendo, o correspondente da BBC no Sudoeste Asiático, Jonathan Head, relata o que resultou dessa mudança dramática.

“Vinte e um anos atrás, tive uma das experiências mais marcantes da minha carreira jornalística. Fomos convidados a assistir e filmar a execução de cinco prisioneiros — quatro deles traficantes de drogas condenados, por fuzilamento na prisão de Bangkwan, em Bangkok”, contou.

“A expressão nos rostos daqueles homens enquanto caminhavam até o pavilhão das execuções — com o barulho das correntes presas nas pernas — é algo que jamais esquecerei”. Assim, de acordo com Jonathan, isso fazia parte da “guerra às drogas” do então primeiro-ministro Thaksin Shinawatra. Como resultado, centenas de suspeitos de envolvimento com drogas perderam suas vidas.

“A campanha de Thaksin era popular. Os tailandeses estavam preocupados com os efeitos prejudiciais de drogas como metanfetaminas em suas comunidades. Logo, estavam dispostos a ignorar as chocantes violações dos direitos humanos que vieram com a repressão violenta”, ressaltou o correspondente.

Dessa forma, a Tailândia não era o único país a seguir uma abordagem punitiva. Isso porque outros países da região também a seguiram, principalmente as Filipinas, Singapura e Malásia, que têm pena de morte para o tráfico de drogas. Portanto, os turistas chegam nesses locais do Sudeste Asiático e recebem o alerta para as duras penalidades que podem enfrentar caso sejam pegos com maconha, mesmo em pouca quantidade.

“É difícil acreditar, por isso tudo, que o que vimos nas últimas semanas esteja realmente acontecendo na Tailândia”, disse Jonathan.

Tailândia libera cultivo e consumo de maconha após forte repressão

“Cafés e barracas vendem abertamente todos os tipos de produtos de cannabis e exibem potes com flores de maconha. O ministro de Saúde Pública, Anutin Charnvirakul — arquiteto da nova lei — foi visto experimentando um prato típico com tempero à base de maconha e sendo aplaudido por agricultores que esperam que isso lhes traga uma nova fonte de renda.”

“No mesmo evento, idosas tailandesas se divertiram experimentando bebidas de maconha e fazendo fila para pegar uma das milhões de plantas de maconha gratuitas que o governo está distribuindo”, descreve o correspondente.

Assim sendo, ele acredita que a nova lei confere à Tailândia uma abordagem mais liberal à maconha em comparação com outros lugares do mundo. Isso porque as pessoas podem cultivar e consumir o quanto quiserem da planta, mas ainda há limites para a comercialização.

Um sonho

Picolé de maconha

Getty Images

“Uma coisa é clara. Você não pode mais ser preso na Tailândia só por usar maconha”, diz Tom Kruesopon, um empresário pioneiro que participou da discussão com o governo a mudar sua abordagem. “Você pode ir para a cadeia por fazer outras coisas, como fumar em público, por baderna ou por cultivar e vender um produto de cannabis sem aprovação do Escritório de Alimentos e Medicamentos. Mas a Tailândia é o primeiro país no mundo onde você não pode ir para a cadeia por cultivar ou consumir a planta.”

“Isso é como um sonho para nós. Nunca pensamos que iríamos chegar tão longe na Tailândia”, diz Rattapon Sanrak. Ele começou a fazer campanha pela legalização da maconha depois de conhecer seus benefícios médicos enquanto estudava nos Estados Unidos.

Qual é a explicação?

“Parte do motivo é a política partidária. Anutin adotou a legalização da maconha como política principal de seu partido nas eleições de 2019. O maior eleitorado do partido fica no nordeste rural pobre da Tailândia. A nova política de drogas atraiu agricultores que ganham a vida com dificuldades com o cultivo de arroz e açúcar, e precisam de um novo tipo de safra.”

“Anutin fez um discurso no início deste mês em sua base política, na região de Buriram. Ele falou sobre a nova lei e disse que cumpriu com o que havia prometido. Ele acredita nos benefícios médicos da legalização, permitindo que os tailandeses mais pobres cultivem seus próprios tratamentos, em vez de ter que pagar por químicos caros”, explicou Jonathan.

Desse modo, ele defende que a mudança na política de drogas tem relação com o mundo dos negócios. “Kruesopon estima que o negócio de maconha gerará US$ 10 bilhões (mais de R$ 50 bilhões) em seus primeiros três anos. Isso sem contar o turismo de cannabis, em que as pessoas vêm à Tailândia especificamente para terapias e tratamentos usando extratos de maconha.”

Superlotação

Ainda assim, há uma terceira explicação. “Houve uma reflexão sobre a abordagem linha-dura ao uso de drogas, que começou há sete anos, em uma época em que a Tailândia era governada por uma junta militar.”

“O país tem algumas das prisões mais superlotadas do mundo. Desse modo, três quartos dos presos estão detidos por delitos de drogas, muitos deles considerados crimes menores. Isso não apenas trouxe críticas internacionais às más condições em que os prisioneiros vivem, mas também custou dinheiro ao governo.”

Então, em 2016, um ministro da Justiça Militar, o general Paiboon Kumchaya, anunciou que a guerra às drogas fracassou. Ele também disse que era necessário ter um novo método menos punitivo para lidar com o abuso de narcóticos.

Tempero com maconha

“A planta aparece agora em todos os lugares: em sorvetes, adornando pratos clássicos tailandeses e em novas receitas de smoothies. Existe até venda de carne de frangos que teriam sido alimentados com cannabis. A nova lei legaliza praticamente tudo relacionado à cannabis” relata Jonathan.

Fonte: BBC

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