Curiosidades

Existe um livro erótico que está na Bíblia Sagrada

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Recentemente, uma frase do papa sobre sexo deixou alguns conservadores católicos chocados, embora a própria Bíblia Sagrada tenha um livro erótico.

“O prazer de comer serve para manter uma boa saúde, da mesma forma que o prazer sexual serve para embelezar o amor e garantir a continuidade da espécie. O prazer de comer e o prazer sexual vêm de Deus”, afirma o papa.

Já no livro, “TerraFutura: Dialoghi con Papa Francesco sull’Ecologia Integrale”, há uma coletânea de entrevistas do jornalista Carlo Petrini com o papa Francisco. Lançada neste mês na Itália, o líder da Igreja Católica disse: “O prazer vem diretamente de Deus. Não é católico, nem cristão, nem nada parecido — é simplesmente divino”.

Dessa forma, apesar do estranhamento, vale ressaltar o Cântico dos Cânticos, que consta no Antigo Testamento. Esse é o único poema das escrituras que celebra o amor sexual. De acordo com o professor de hebraico Robert Bernard Alter, da Universidade da Califórnia, em seu livro The Art of Biblical Poetry, trata-se de um texto sobre “dois amantes que se elogiam e se desejam com convites para o prazer mútuo”.

Amor erótico na Bíblia

Bíblia com rosas

Reprodução/Obvious

Mas qual seria o motivo da inclusão de uma obra desse teor na Bíblia, tanto nas escrituras judaicas, o Tanakh, quanto no Antigo Testamento? O filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Junior, chefe do departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), defende que “não há a possibilidade de falar algo sobre Deus sem falar do amor erótico”.

“Como falar do divino sem falar das entranhas do humano?”, comenta ele em entrevista à BBC News Brasil. “A melhor teologia é sempre teologicamente antropológica. Falamos de Deus olhando corpos, desejos e medos dos humanos. (O poema) foi incluído (nas Sagradas Escrituras) pelos rabinos, pois viram nos textos a metáfora do amor de Deus pelo povo. O amante e a amada.”

Desse modo, o Diretor de Cultura Judaica do clube A Hebraica de São Paulo e presidente da Cátedra de Cultura Judaica da PUC-SP, José Luiz Goldfarb, oferece sua interpretação: “É um dos poemas mais lindos da Bíblia judaica, um dos poemas mais cantados nas nossas cerimônias, sinagogas. Sem dúvida, um texto curioso, quase erótico”, diz ele, à BBC News Brasil. “Claro que a interpretação é a relação do povo de Israel com Deus, uma relação de paixão absoluta, uma paixão quase física.”

Interpretações

Já no livro o “Cantar dos Cantares”, o professor de exegese e padre Alzir Sales Coimbra enfatiza que o livro oferece uma variedade de leituras. Isso porque “destacam-se os temas da sexualidade e do erotismo, do amor erótico, do amor apaixonado, das experiências e descobertas amorosas, do amor sexual. Sem esquecer a definição de Carlos Mesters (frade carmelita e exegeta, autor de “Sete Chaves de Leitura para o Cântico dos Cânticos”): ‘o amor entre o homem e a mulher tem a ver com Deus'”, explica o padre Boris Agustín Nef Ulloa, professor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC-SP.

“O Cântico dos Cânticos tem sido objeto de leituras e releituras”, acrescenta o padre Carlos Alberto Contieri, reitor do Colégio São Luís e diretor do Pateo do Collegio. “Porém, o tema principal da coletânea é o amor. Mais especificamente, o amor erótico entre o homem e a mulher. Desse modo, na interpretação alegórico-tipológica judaica e cristã, no amor entre homem e mulher há uma força divina que se mostra na figura insubstituível do parceiro.”

A história

“São poemas assentados em antigas histórias de amor que circulavam na oralidade das culturas orientais. A linguagem é explicitamente erótica e irreverente, descrevendo os corpos do amado e de sua amada”, diz Altemeyer, da PUC-SP.

Sendo assim, os historiadores não chegaram num consenso sobre se o livro da Bíblia é um poema ou uma antologia. Isso porque é possível observar mudanças bruscas de narrador e de cenas.

Desse modo, para Altemeyer, o Cântico “é uma bela teologia de corpos enamorados que sentem arder o amor e o desejo por vontade de Deus”. “O livro é tão enigmático que um verso central traz a exortação cantada pelo coro: ‘Podem comer, companheiros, bebam e fiquem embriagados, queridos amigos’, exemplifica. “A plenitude íntima dos amantes curiosamente se estende a um coletivo naquele mesmo instante do encontro íntimos do amor. Portanto, toda a humanidade e a natureza se tornam partícipes da libido de quem vive o amor erótico.”

“O livro é testemunha da meditação do povo de Israel em seu duro momento histórico, que mescla versos proféticos e versos sapienciais. O autor da versão final quis manter a perspectiva de mistério pela poesia. Nas grutas de Qumram [sítio arqueológico na Cisjordânia], encontramos quatro exemplares do livro, como testemunhas de seu uso em todas as comunidades”, contextualiza Altemeyer. “A história judaica é repleta de metáforas poéticas do amor conjugal aplicadas ao Deus pessoal e ‘ciumento’. Assim, ainda temos leituras dramáticas que cantam a mulher amada em novelas e sagas de amor, e se torna o canto sagrado do amor sexual. Ou seria o canto profano do amor divino? Um livro intrigante…”.

Fonte: BBC

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