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Expressões capacitistas, como ‘fingir demência’, para banir do vocabulário

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Cada povo no mundo é único. Até porque, cada lugar tem suas questões culturais e dialetos que são únicos e específicos daquela região. Dentre as coisas que fazem uma língua se constituir como tal estão suas expressões. Elas são uma forma especial de nos expressarmos.

Nas entrelinhas, as expressões que se usa podem ser um reflexo de como é a visão de mundo daquela pessoa. Isso porque, a língua se desenvolve conforme o ambiente em que ela está inseria, com a cultura e seus falantes sempre a influenciando.

Até aí tudo bem. Contudo, algumas expressões podem vir carregadas de preconceitos e aspectos nada louváveis da sociedade acabam aparecendo nelas. O pior de tudo é que as pessoas podem usá-las sem nem mesmo perceber.

Capacitismo

Vagas

Um dos preconceitos que são expressados nas expressões é o capacitismo. Ele é a discriminação contra pessoas com deficiência física ou mental. Quem tem uma mentalidade capacitista presume que essas pessoas são necessariamente menos aptas para fazer tarefas do dia a dia, ou então que não conseguem viver determinadas experiências.

Tudo isso se manifesta no oferecimento de tratamento desigual, seja ele desfavorável ou favorável demais. “O preconceito e o estigma colocam diversas barreiras no diagnóstico e tratamento de transtornos mentais. Isso porque essa mentalidade constrange e afasta do convívio social quem tem esses transtornos, ou mesmo pessoas próximas a eles, e dificulta a adesão ao tratamento”, disse o psiquiatra Thiago Rodrigo.

As expressões podem fazer mais do que dificultar o diagnóstico e o tratamento, elas também acabam banalizando algumas condições. Como por exemplo, expressões como “fulano é bipolar”, ou então “beltrano tem TOC” por ser uma pessoa perfeccionista.

Felizmente, isso pode mudar se as pessoas pararem um pouco para rever suas falas. Afinal, a língua está em uma mudança constante e pode ser mais inclusiva.

“A educação em saúde e a mudança de vocabulário podem trazer uma mudança cultural e fazer com que essas pessoas se sintam mais acolhidas, além de mostrar que essas condições são normais”, pontuou Thiago.

Expressões

Superinteressante

Pensando nisso, a farmacêutica Janssen, em parceria com associações de pacientes esquizofrênicos e familiares, criou o “Dicionário anticapacitista em saúde mental”. Assim, todo mundo pode melhorar e fazer com que a língua fique mais inclusiva, banindo algumas expressões do seu vocabulário.

1 – Fingir demência

Essa expressão é usada para dizer que uma pessoa vai se fazer de desentendido em alguma situação. Claro que ela é uma expressão capacitista porque a demência é marcada pela disfunção da memória e do discernimento, além de não ser uma coisa que a pessoa escolhe.

Ela pode ser trocada por “se fingir de desentendido”.

2 – Retardado

Essa expressão é derivada de uma usada antigamente, “retardo mental”. Ela se referia à deficiência intelectual, capacidade significativamente reduzida de compreender informações novas ou complexas e de aprender novas habilidades.

O problema dessa expressão está no seu uso como uma forma de insulto, já que o “retardado” é considerado uma pessoa inferior. Para não usar mais essa expressão, troque por “sem noção”, por exemplo.

3 – Surtado

Geralmente, as pessoas usam “surtado” quando se referem a mudanças de comportamento repentinas ou desproporcionais para determinada situação. No entanto, esse comportamento não tem nada a ver com os surtos psicóticos que caracterizam o diagnóstico de esquizofrenia, por exemplo.

Nesses casos, os surtos incluem alucinações, delírios, pensamento ou comportamento desorganizados e dificuldade de comunicação. Então, para não usar essa expressão capacitista, tente trocá-la por “descontrolado”.

4 – Lunático

Muita gente pode não saber, mas antigamente as pessoas pensavam que os transtornos neurológicos e psiquiátricos eram causados pela influência da lua. Por conta disso a expressão “lunático” surgiu. Ela se refere a uma pessoa perigosa ou imprevisível.

Hoje em dia, todo mundo sabe que essas condições não têm nada a ver com a lua ou com alguma coisa mística. Por conta disso, essa expressão pode alimentar a desinformação, mesmo que quem a diga não sabia a origem do seu surgimento.

5 – Esquizofrênico

Assim como as outras expressões, essa palavra também pode ser usada em um sentido pejorativo. Normalmente, ela é usada para caracterizar não apenas uma pessoa, mas um dia que foi conturbado e turbulento. Por exemplo, alguém dizer: “hoje tive um dia totalmente esquizofrênico no trabalho”.

Usar esse termo é algo capacitista e ainda reforça o preconceito com relação aos quadros de crises e surtos psicóticos. Por isso, essa também é uma expressão que se deve banir do vocabulário.

Fonte: Superinteressante

Imagens: Vagas, Superinteressante

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