De acordo com recentes análises de um fóssil recém-encontrado, pesquisadores descobriram uma intrínseca lula-vampiro vive à espreita dos ambientes mais escuros do oceano há cerca de 30 milhões de anos. Ao contrário de muitas outras espécies de lulas, as quais habitam boa parte das plataformas continentais, a lula-vampiro (Vampyroteuthis infernalis), conforme expõe os especialistas, segue prosperando no mais profundo das águas oceânicas, em zonas altamente pobres em oxigênio.
O recinto no qual prolifera faz com poucos fósseis de lula-vampiro tornem acessíveis aos pesquisadores, o que, nesse ínterim, torna difícil afirmar com exatidão quando esses indescritíveis cefalópodes desenvolveram a capacidade de viver com pouco oxigênio. Mesmo a questão da oxigenação sendo uma incógnita, a nova análise do fóssil revelou que os ancestrais da atual lula-vampiro começaram a viver nas profundezas dos oceanos durante o Oligoceno, ou seja, de 23 a 34 milhões de anos atrás.
“É difícil afirmar quando estes seres se adaptaram ao baixo teor de oxigênio, mas acreditamos que tenha sido durante o período Jurássico”, disse o co-autor do estudo Martin Košťák, paleontólogo da Universidade Charles em Praga.
O fóssil
As análises feitas até o momento podem até não trazer todas as informações que os cientistas necessitam, mas preenche uma lacuna de 120 milhões de anos envolvendo o processo evolutivo do cefalópode em questão. “Agora, entendemos melhor como a vida em níveis estáveis de baixo oxigênio traz vantagens evolutivas, baixa pressão de predação e menos competição”, revelou Košťák em entrevista ao portal LiveScience.
Para chegar a tal conclusão, Košťák e outros pesquisadores estudaram um fóssil que estava perdido em meio às coleções do Museu de História Natural da Hungria. O fóssil analisado possui cerca de 30 milhões de anos e foi descoberto originalmente em 1942, pelo paleontólogo húngaro Miklós Kretzoi.
Em 1956, durante a Revolução Húngara, o museu foi vítima de um incêndio devastador e, até então, acreditava-se que o fóssil havia sido destruído. Felizmente, a redescoberta foi promissora. “Foi um grande momento ficar frente a frente com o que poderia estar definitivamente perdido”.
Análises
Com o objeto em mãos, Košťák realizou uma varredura microscopia eletrônica, obtendo, dessa forma, uma análise geoquímica. Por meio desta, o pesquisador descobriu que a lula-vampiro tinha cerca de 35 centímetros de comprimento – com os tentáculos incluídos.
Os sedimentos ao redor do fóssil não mostraram vestígios de microfósseis frequentemente encontrados no fundo do mar, o que sugere que a lula pode ter vivido em águas rasas.
Em contrapartida, os níveis de variações de carbono no sedimento mostram que o animal veio de um ambiente anóxico ou com baixo teor de oxigênio, o que refuta a ideia da lula-vampiro ter habitado águas rasas, as quais possuem níveis muito altos de um plâncton específico que floresce em ambientes com baixo teor de sal e alto teor de nutrientes – condições que a lula-vampiro da atualidade não consegue tolerar.
Informações adicionais
O estudo foi publicado no dia 18 de fevereiro, na revista Communications Biology. De acordo com o documento, os fósseis mais antigos deste grupo de lulas que foram encontrados no período Jurássico, entre 201 milhões e 174 milhões de anos atrás, possuem sedimentos anóxicos.
“Isso significa que os ancestrais da lula-vampiro até poderiam viver em ambientes de águas rasas, mas estes já estavam adaptados a zonas de baixo oxigênio”, revelou o pesquisador.
“O fato de habitar águas profundas também explica o porquê a lula-vampiro sobreviveu à catástrofe natural que matou os dinossauros não-aviários no final do período Cretáceo”, acrescentou.
“Em poucas palavras, o fóssil da lula-vampiro que hoje viveu nas profundezas do oceano há 30 milhões de anos atrás nos ajuda a conectar o presente com o passado”, disse Košťák.
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