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O brasileiro que criou a abreugrafia, exame que revolucionou o diagnóstico da tuberculose

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A abreugrafia, um exame de pulmão, que começou a ser desenvolvido há 100 anos e revolucionou o diagnóstico e o tratamento da tuberculose, foi inventado pelo médico brasileiro Manoel Dias de Abreu. Por causa desse feito, ele foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel, em 1946, 1951 e 1953.

A abreugrafia é uma imagem de raios-x, no caso dos pulmões, como qualquer outra, mas com um diferencial na forma como ela é feita.

Uma radiografia depende da fonte de raios-X, que são ondas eletromagnéticas de frequência muito alta geradas num tubo. O paciente é alvo dessa radiação para ser observado os ossos e outras estruturas e órgãos dentro do corpo. No entanto, o registro dessa imagem, feito em um filme, ou uma tela digital de sensores fotossensíveis, são caros.

O físico Peter Schulz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que Manoel de Abreu começou a pesquisar sobre como fazer radiografias em larga escala, reduzindo o custo e o tempo, especificamente dos pulmões, já que na época a tuberculose era um problema de saúde pública muito grave.

Filme comum

Foto: Revista Brasileira de Tuberculose

A ideia, que demorou mais de uma década para ser desenvolvida, era usar um filme comum, bem mais barato, já que a fotografia com câmeras portáteis já era comum no início do século passado.

“Assim, a imagem dos raios-x atravessando a pessoa examinada era gerada em uma tela de material fluorescente, que fazia parte do aparelho”, explica Schulz. “E essa imagem, agora em luz visível, era fotografada da mesma forma como fotografamos uma paisagem qualquer.”

De acordo com o médico radiologista Cesar Higa Nomura, presidente da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), a abreugrafia “era um método portátil que permitiu o uso em larga escala”.

Uma dúvida que pode surgir é por que tirar uma foto se a imagem já aparecia na tela fluorescente. Por isso, Schultz explica que o exame só com a imagem fluorescente pode ser bem mais demorado e os raios-X são ionizantes, sendo prejudiciais à saúde.

“E sem registro para checagem posterior. Com a fotografia, basta uma exposição rápida para obtê-la, pois a foto é examinada depois.”

No caso da abreugrafia, a pequena foto fazia parte de uma carteirinha, que podia ser apresentada onde fosse necessário, como os comprovantes de vacinação contra a covid-19.

Formação no Rio e estudos na Europa

Foto: Academia Nacional de Medicina

Abreu nasceu na cidade de São Paulo, no dia 4 de janeiro de 1892, terceiro filho do português Júlio Antunes de Abreu, e da paulista Mercedes da Rocha Dias. Ele ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro com apenas 15 anos e se formou aos 21, em 1913. 

Em seguida, acompanhado dos pais, de um irmão e uma irmã, ele foi para Paris para estudar. No entanto, por causa da Primeira Guerra Mundial, precisou ficar em Lisboa até 1915, quando enfim se mudou para a capital francesa, onde permaneceu por 8 anos.

No país, Abreu trabalhou no Nouvel Hôpital de la Pitié, o hospital mais antigo de Paris. O brasileiro fotografava as peças cirúrgicas e, para isso, criou novas técnicas, usando raios-x.

Volta ao Brasil e desenvolvimento da abreugrafia

Foto: ROENTGEN/ BBC

Nesse período, usando os raios-x, ele identificou um caso de tuberculose. Já em outro hospital, o Laennec, Abreu se aperfeiçoou na radiologia pulmonar. No novo local de trabalho, ele se convenceu de que a fotografia da tela fluorescente, o écran, nos exames feitos com raios-x, poderia ser uma forma barata de diagnosticar a tuberculose em massa.

Em 1922, quando voltou para o Rio de Janeiro, ele encontrou a cidade tomada por uma epidemia de tuberculose. Por isso, voltou a tentar desenvolver o exame. Em 1924, fez uma segunda tentativa de obter a fotografia do écran, mas não conseguiu, por causa da baixa luminosidade da tela.

Por sua influência e de José Plácido Barbosa da Silva, chefe da Inspetoria de Profilaxia contra a Tuberculose, foi criado o primeiro Serviço de Radiologia na cidade do Rio de Janeiro. Ao assumir o posto da entidade, Abreu tentou criar a abreugrafia, devido ao alto número de casos de tuberculose entre as crianças radiografadas.

Apenas em 1936, ele conseguiu obter a radiofotografia do écran, com nova tecnologia que dava maior fluorescência à tela. Abreu batizou seu invento de roentgenfotografia, em homenagem ao descobridor dos raios x. O nome foi usado Brasil até 1939, quando o presidente do 1º Congresso Brasileiro de Tuberculose, Ary Miranda, propôs a mudança para abreugrafia, em honra do brasileiro. A ideia foi aprovada por unanimidade.

Sucesso e popularização da abreugrafia

Foto: Revista Brasileira de Tuberculose

Em 1936, foi construído o primeiro aparelho para a realização de abreugrafias em série na população, que foi instalado no Hospital Alemão, no Rio de Janeiro, em maio daquele ano. Na época, a técnica era 100 vezes mais barata que uma radiografia tradicional.

De acordo com a Associação Nacional dos Inventores, foram criadas unidades móveis mundo afora com aparelhos de abreugrafia instalados em veículos, que faziam radiografias torácicas em locais públicos e em grandes indústrias. Por exemplo, até 1938, na Alemanha, número de exames feitos já ultrapassava os 500 mil.

Antes disso, em março de 1937 foi criado o primeiro Serviço de Cadastro Torácico na cidade do Rio de Janeiro, no qual foi instalado um aparelho de abreugrafia mais aperfeiçoado.

No entanto, com a diminuição da incidência da tuberculose e os progressos no seu tratamento, os programas de triagem em massa foram sendo interrompidos a partir dos anos 1970. Por causa disso, em 1974, a Organização Mundial da Saúde (OMS) se pronunciou contra o uso da abreugrafia em massa, por expor desnecessariamente a população a doses de radiação. 

“Atualmente, o exame para detecção de tuberculose é feito pela pesquisa do bacilo de Koch no escarro”, explica Fabiano Reis, do Departamento de Anestesiologia, Oncologia e Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. “Para rastreamento de algumas patologias pulmonares, são preconizados estudos tomográficos de baixa dosagem, que permitem detecção de eventuais lesões em seus estágios iniciais.”

Apesar disso, a abreugrafia segue sendo celebrada no Brasil no dia 4 de janeiro, data do nascimento de seu inventor.

Fonte: BBC

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