Ciência e Tecnologia

O que acontecerá se a Covid-19 virar uma endemia?

Covid-19
0

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, países como Reino Unido, França, Espanha e Dinamarca decidiram que o cenário causado pela doença não será mais encarado como uma pandemia e começará a ser tratada como uma endemia em seus territórios. Com isso, a doença provocada pelo coronavírus deixará de ser vista como uma emergência de saúde.

Embora muitas das restrições deixem de ser obrigatórias, como o uso de máscaras, proibição de aglomerações e exigência do passaporte vacinal, uma endemia não é menos preocupante. Esse quadro significa apenas que há uma quantidade esperada de casos e mortes relacionadas a uma determinada doença (que no caso é a Covid-19), de acordo com um local e uma época do ano específicas. E esses números não aumentam nem diminuem.

Pixabay

Ou seja, a doença não desapareceu e nem vai deixar de existir por tão cedo. Inclusive, é provável que ela nunca deixe de provocar casos, a exemplo da herpes, que é uma endemia. Estima-se que pelo menos dois terços da população mundial com mais de 50 anos já tiveram contato com esse vírus.

Outras doenças bem mais sérias e mortais, como tuberculose, aids e malária, também são endêmicas. Só sobre a malária, estima-se que cerca de 240 milhões de casos e 640 mil mortes aconteçam por conta da doença todos os anos, segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O que é uma endemia?

A endemia é uma doença de causa e atuação local. Ela se manifesta com frequência em determinada região, mas tem um número de casos esperado – um padrão relativamente estável que prevalece. Se houver alta incidência e persistência de doença, pode ainda ser chamada de hiperendêmica.

Outra questão importante sobre as endemias é que elas podem se tornar epidemias se não controladas. Uma epidemia, por sua vez, ocorre quando surgem surtos em várias regiões. Ou seja, quando há ocorrência excedente de casos de uma doença em determinados locais geográficos ou comunidades, e que vão se espalhando para outros lugares além daquele em que foram inicialmente identificados.

Para definir quando uma doença pode ser classificada como epidemia é necessário avaliar o número de casos em relação à população em que há ocorrência. Outros critérios técnicos, como detalhes da região em que os casos foram detectados e o período em que se iniciaram e estão ocorrendo, são importantes tanto para a classificação quanto para a descrição da doença.

O que muda se a Covid-19 for tratada como endemia?

A questão na mudança de tratamento do quadro global causado pela Covid-19 tem a ver com a estabilidade nas estatísticas. Quando os números de uma doença começam a fugir do controle, a situação evolui para uma epidemia (se o problema for localizado em uma só região ou país) ou para uma pandemia (caso a crise se alastre por vários continentes).

Pixabay

Da mesma forma, quando se tem uma pandemia mundial como a de Covid-19 e a quantidade de casos começa a ficar estável, o quadro regride. Em um evento do Fórum Econômico Mundial realizado no final de janeiro de 2022, representantes de várias instituições discutiram todos esses conceitos e debateram quando a Covid-19 poderia ser realmente classificada como uma endemia.

Na visão do imunologista Anthony Fauci, líder da resposta à pandemia dos Estados Unidos, o coronavírus não será extinto e passará, aos poucos, a afetar os seres humanos de forma similar a outros agentes causadores do resfriado comum. Na mesma ocasião, o médico Mike Ryan, diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da OMS, reforçou que endemia não é sinônimo de coisa boa.

“Ela só significa que a doença ficará entre nós para sempre. O que precisamos é diminuir a incidência, aumentando o número de pessoas vacinadas, para que ninguém mais precise morrer [de Covid-19]”, completou. Com a classificação do quadro como endemia, todo o programa de testagem, isolamento e rastreamento de casos torna-se menos significativos, já que a contaminação não seria tão ampla.

O momento é apropriado para a mudança de classificação?

Por um lado, o avanço da vacinação garantiu um nível mais avançado de proteção, especialmente contra as formas mais graves da Covid-19. De outro, os cientistas se mostram receosos em encarar a doença como uma endemia, pela falta de parâmetros e de uma estabilidade nas notificações por um período mais prolongado. Em um artigo publicado na revista especializada Nature, o pesquisador Aris Katzourakis, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, criticou a mudança de classificação da Covid-19.

“Pensar que a endemia é leve e inevitável não é apenas errado, mas perigoso: deixa a humanidade à mercê de muitos anos da doença, incluindo ondas imprevisíveis e novos surtos. É mais produtivo considerar o quão ruim as coisas podem ficar se continuarmos a dar ao vírus oportunidades de nos enganar. E daí então podemos fazer mais para garantir que isso não aconteça”, afirmou.

Mesmo com essas considerações sendo levantadas, alguns países europeus que já classificam a Covid-19 como uma endemia em seus territórios estão flexibilizando a maioria das restrições contra a doença. O ponto mais abordado é a retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados, assim como a liberação das aglomerações e eventos.

Em um discurso recente no Parlamento do Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que, “conforme a Covid se tornar endêmica, nós precisaremos substituir as requisições da lei pela orientação, de modo que as pessoas infectadas com o vírus sejam cuidadosas umas com as outras”.

Pixabay

A afirmação indica que, mesmo com a flexibilização das medidas de prevenção, é importante que cada cidadão continue tomando cuidado para que não seja infectado ou que não infecte outras pessoas. Da mesma forma, o reforço vacinal deve ocorrer anualmente para que a doença continue sob controle.

Com isso, a situação mundial relacionada à Covid-19 pode apresentar resultados cada vez mais promissores. No Brasil, no entanto, ainda é muito cedo para falar de endemia, considerando que a contaminação ainda não está controlada e, frequentemente, registra novos picos.

Fonte: BBC

Esse ”erro” cometido por padre anulou milhares de batismos nos EUA

Artigo anterior

Os “rolês aleatórios” de Ronaldinho Gaúcho

Próximo artigo

Comentários

Comentários não permitido