História

O que é o tempo? Cientista francês que morou em caverna sem saber as horas desmistifica ‘relógio biológico’

0

Um experimento ousado e curioso traz uma teoria que derruba a ideia de relógio biológico. Como seria isso?

Em 1962, o geólogo francês Michel Siffre se propôs a responder uma intrigante questão: como os seres humanos reagiriam sem a percepção da passagem do tempo?

Ele queria saber se, sem qualquer referência ao relógio, manteríamos nossos padrões de sono, alimentação e produtividade como fazemos habitualmente.

Para investigar, Siffre decidiu passar um mês isolado em uma caverna escura, sem nenhuma fonte de luz natural.

Experimento de relógio biológico

Via Societe Explorateurs

Em entrevista, em 2008, o responsável explicou que escolheu viver como “um animal”, em suas próprias palavras. Ele ficaria sem relógio, morando no escuro e sem saber que horas eram.

Dessa forma, conseguiria definir se existe mesmo relógio biológico, e como ele se porta sem as orientações externas.

Durante o experimento, sua única fonte de iluminação era uma lâmpada de mineração, usada para cozinhar, ler e registrar suas experiências em um diário.

A caverna escolhida por Siffre ficava nos Alpes, a 130 metros de profundidade. A descoberta revolucionou a compreensão científica sobre nossos “relógios biológicos”.

Uma equipe posicionada na entrada da caverna auxiliava Siffre, monitorando seu ritmo de atividades.

O profissional chamava a equipe quando acordava, quando precisava comer e antes de dormir. Ninguém podia contatá-lo externamente, para que ele não soubesse que horas eram fora da caverna.

Resultados

Após dois meses de experimento, Siffre obteve resultados que contribuíram para o surgimento de um novo campo da ciência: a cronobiologia humana, que investiga os “ritmos biológicos” do corpo.

Durante seu tempo de isolamento, como ele descreveu, o cientista comia e descansava apenas quando seu corpo demandava.

Siffre notou que, sem os marcos naturais do dia, como o nascer e o pôr do sol, o corpo humano tende a seguir ciclos de cerca de 48 horas, em vez de 24. Ele repetiu experimentos semelhantes cinco vezes ao longo dos anos com diferentes voluntários, que apresentaram padrões similares.

Em suas explicações, ele conta que seu relógio biológico permanece ativo por cerca de 36 horas seguidas, seguidas por 12 a 14 horas de sono, afirmou Siffre.

Em câmera-lenta

Via Cabinet

Outra medição realizada por Siffre envolvia sua percepção da passagem do tempo. Sempre que se comunicava com a equipe na entrada da caverna, ele tinha duas tarefas: medir o próprio pulso e contar os segundos até 120.

Enquanto Siffre contava, a equipe registrava o tempo real no relógio. Foi então que perceberam que, para o cientista, o tempo parecia passar “em câmera lenta”.

Ele conta que levava cinco minutos para contar até 120. Em outras palavras, psicologicamente, o especialista vivia cinco minutos reais como se fossem apenas dois, relatou.

Por conta disso, sem nenhuma referência ao ciclo de dia e noite, Siffre experimentou uma sensação de que o tempo dentro da caverna se arrastava. O experimento, que deveria durar um mês, estendeu-se por dois meses até que Siffre saísse da caverna.

“Meu tempo psicológico foi reduzido pela metade”, explicou ele, revelando que, embora dois meses tivessem passado, ele os vivenciou como se fosse apenas um.

Estudos revolucionários

Ao longo de seus 50 anos de carreira, Michel Siffre foi requisitado por diversas organizações para aplicar suas pesquisas pioneiras.

Em uma entrevista à revista Cabinet, ele contou que o exército francês lhe concedeu um grande financiamento para estudar “como seria possível para um soldado duplicar sua atividade em estado de vigília”.

Siffre também foi procurado pela NASA, que buscava entender os efeitos de longas missões espaciais sobre os astronautas.

Siffre faleceu em agosto de 2024, aos 85 anos, em Nice, França. Ele dedicou sua vida ao estudo do relógio biológico. Durante seu primeiro experimento, ele escreveu que tinha a sensação de estar imóvel, mas sabia que estava sendo levado pelo fluxo contínuo do tempo.

O tempo era a única coisa que se movia ao seu redor, eu tentava capturá-lo, mas sabia que tinha falhado.

O diário que manteve durante o tempo na caverna originou o livro Beyond Time, publicado em 1964, onde ele descreve como parecia não ter noção da passagem do tempo.

Em um segundo experimento, realizado em maio de 1975, Siffre passou cinco meses isolado em uma caverna. Dessa vez, ele enfrentou outro desafio: a solidão.

Na época, um dos assistentes contou que alternava entre momentos de intensa atividade e períodos de leve depressão. Posteriormente, o The New York Times na época publicou artigos sobre o assunto, ajudando a divulgar o trabalho de Siffre.

 

Fonte: Globo

Imagens: Cabinet, Societe Explorateurs

Uma ilha europeia era habitada por ‘mini elefantes’ — até que o homem chegou

Artigo anterior

Adeus, papel e chuveirinho! Nova tecnologia chinesa vai mudar a forma como você vai ao banheiro

Próximo artigo