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Como funciona o relógio biológico?

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Em 1962, três países africanos declaram independência, a União Soviética começou a instalar mísseis em Cuba e os Estados Unidos detonaram três bombas atômicas. Mas o geólogo francês Michel Siffre, de 23 anos, achou mais importante entender o relógio biológico.

Para tal, ele decidir ir até uma caverna nos Alpes franceses, onde passaria 60 dias completamente isolado com o objetivo de estudar como o corpo humano reage ao escuro. Isso porque a Guerra Fria e a corrida espacial no momento haviam levantado uma pergunta pertinente que seria importante tanto para viagens extraterrestres quando para a capacidade da população de sobreviver em bunkers antinucleares. A dúvida em questão era: se privado da luz do Sol, o corpo humano ainda teria um relógio biológico que segue o ciclo de 24 horas, sincronizando com a rotação da Terra?

Dessa forma, o estudo pode ser descrito em uma palavra: angustiante. Cento e trinta metros abaixo da superfície terrestre, Siffre não tinha acesso à luz solar e nem calendário. A escuridão só não era total porque ele levou um pequeno gerador alimentando a lâmpada que iluminava o acampamento. Além disso, a temperatura média era de 3ºC e a condensação deixava seus pés sempre frios e úmidos. Pedaços de gelo e pedras se soltavam do teto frequentemente também.

O pesquisador era monitorado à distância por uma equipe de cientistas, que falava com ele três vezes por dia. O método de comunicação era ligação, por meio de um intercomunicador instalado na caverna. Então, o contato era feito quando ele acordava, comia e antes de ir dormir. Poderiam falar de qualquer coisa, exceto assuntos que dariam qualquer noção do tempo.

Anotações do relógio biológico

Foto: Getty Images

Com o correr da pesquisa, começaram a perceber que Siffre estava vivendo num ciclo diário de 24 horas e 30 minutos, o que é bem normal. No entanto, isso se trata de uma média, visto que, na prática, o tempo que ele passava acordado antes de cada sono variava de seis até 40 horas.

Portanto, seu relógio biológico estava desregulado. No dia 14 de setembro, quando Siffre saiu da caverna, ele ficou desnorteado: para ele, apenas um mês havia passado. Ele acreditava que era 20 de agosto.

Com essa experiência, comprovou-se que o corpo humano precisa da luz do dia e da escuridão para regular o ritmo do organismo. Sendo assim, nos anos 1990, um estudo com pessoas cegas constatou que a maior parte delas tinha ciclos anormais de sono e vigília. Isso porque os olhos não captavam a luz.

Em 1972, Siffre voltou a morar numa caverna, desta vez no Texas, por seis meses. Seu corpo chegou a trabalhar em ciclos de 48h, sendo 36 de vigília e 12h de sono. Como resultado, ele ficou transtornado e com sérios problemas psicológicos. Dessa maneira, todos os seres vivos, incluindo os mais simples, como os fungos, têm algum tipo de relógio biológico. Até os animais que vivem em lugares com pouca ou nenhuma luz parecem ter ciclos de atividade e repouso de cerca de 24 horas.

Sistema circadiano

Por essa razão, o relógio biológico é chamado de sistema circadiano. O termo é originado do latim, circa diem, que significa “cerca de um dia”. Assim, ele é necessário porque nenhum organismo consegue trabalhar 100% constantemente.

Precisamos de um tempo de inatividade para reparar os nossos tecidos desgastados pelo uso, além do fato de que precisamos descansar para economizar energia. Dormir também oferece a oportunidade de executar processos específicos, como é o caso do hormônio do crescimento, que é liberado durante o sono.

Então, o sistema circadiano, o relógio biológico, se trata de uma grande vantagem evolutiva. Porém, a nossa dependência da luz e da escuridão, junto com o modo moderno de vida, não combina muito bem.

“Criamos a civilização, as sociedades, e fizemos avanços incríveis que, de forma irônica e efetiva, colocaram os nossos relógios internos contra nós”, escreve o psicólogo Michael Breus em seu livro O Poder do Quando (2017). Metrópoles, lâmpadas, telas, smartphones. A luz artificial tornou a vida mais próspera, interessante e divertida. Mas também apresenta problemas.

A exposição crônica ao excesso de luz também já foi associada à maior incidência de diabetes, depressão e até câncer, por exemplo. Portanto, tente evitar muita luz artificial quando o sol já não está no céu e busque respeitar o ritmo do corpo.

Fonte: Superinteressante

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