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Pesquisadores estudam tratar depressão com alucinógeno

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As drogas nem sempre causam apenas efeitos negativos. Justamente por isso que os pesquisadores estudam o efeito de determinado alucinógeno e psicotrópico no tratamento de distúrbios e transtornos mentais, como por exemplo, a depressão. Pelos resultados obtidos até o momento, o alucinógeno pode ser um grande aliado.

Um exemplo disso é Steve, o britânico que participou de um ensaio clínico que os pesquisadores consideram um grande passo para uma revolução no tratamento da depressão.

“Tive uma experiência reveladora mística completa. O grande show psicodélico de luzes e sons multicoloridos”, lembrou Steve a respeito da sua primeira dose de uma droga alucinógena, a psilocibina.

Experimento

G1

O experimento com alucinógeno que Steve participou é complexo porque a droga é ilegal no Reino Unido, onde o estudo é feito. Além disso, a psilocibina é uma substância controlada e seu uso é estritamente regulamentado, o que faz com que, pelas regras atuais do país, esse alucinógeno não possa ser usado para fins medicinais.

Contudo, esse estudo, que analisou os cérebros dos participantes depois do tratamento com psicodélicos, teve como resultado um retrato físico bem interessante sobre o efeito e a experiência com a psilocibina. Como resultado, as tomografias cerebrais mostraram “mais conectividade” entre diferentes regiões do cérebro.

Portanto, os pesquisadores afirmam que suas descobertas revelam como o alucinógeno tira uma pessoa deprimida “de uma rotina de pensamento negativo”. Além disso, a psilocibina “reintegra” o cérebro deprimido, ou seja, ela faz com que o órgão fique mais fluido, flexível e conectado.

“É uma experiência inefável. Palavras como as que estamos usando agora não são suficientes. Com a primeira dose, senti uma alegria como nunca experimentei. Pela primeira vez, pude ser eu mesmo”, lembrou Steve sobre como é ter o cérebro “reintegrado” por drogas psicodélicas.

E não é somente no Reino Unido que estão acontecendo pesquisas com alucinógenos. Cientistas brasileiros também estão estudando a psilocibina e outras substâncias que têm origem na natureza, como por exemplo, a ibogaína e ayahuasca, além de compostos sintéticos como LSD e MDMA, todos eles para serem usados em possíveis tratamentos de depressão e dependência química.

Tratamento

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Contudo, no tratamento de Steve com alucinógeno nem tudo foi ótimo. De acordo com ele, a segunda dose foi muito sombria. Atualmente, ele está na casa dos 60 anos e foi diagnosticado com depressão há mais de 30. Os antidepressivos tradicionais simplesmente não funcionaram para ele.

Eles agem aumentando os níveis de serotonina no cérebro. Essa substância é conhecida como hormônio da felicidade, e é um dos mensageiros químicos que transmitem sinais de uma parte do cérebro para outra. Por conta disso, quando os níveis de serotonina estão baixos, isso tem sido relacionado à depressão desde a década de 1960.

No entanto, por mais que os antidepressivos “corrijam” esse desequilíbrio de serotonina, nos casos como o de Steve, eles além de anestesiarem os pontos baixos, eles também faziam o mesmo com os pontos altos.

“Quando estava tomando essas drogas simplesmente não havia cor, nenhuma alegria na minha vida. Você acaba vivendo como um zumbi funcional”, lembrou Steve.

Então, o homem decidiu largar os antidepressivos e continuar com uma rotina de meditação, ioga e corrida. Essa rotina, de acordo com Steve, o ajudou a controlar sua depressão todos esses anos. No entanto, quando ele ouviu na rádio a respeito do experimento para depressão com uso de alucinógeno, ele ligou para se voluntariar.

“Tive que esperar um ano, e os critérios de seleção foram muito difíceis”, contou.

Alucinógeno

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Para participarem do estudo, os voluntários tinham não somente que mostrar que os antidepressivos não tiveram sucesso com eles, como também que não tinham outros transtornos mentais. Dentre eles, psicose, que poderia fazer o uso de um alucinógeno se tornar perigoso.

Depois de um processo bem cuidadoso, e sob a supervisão de um terapeuta profissional, Steve recebeu sua primeira dose de psilocibina. “Foi maravilhoso. Eu me senti mais conectado comigo mesmo. Foi extraordinário. Minha vida mudou da água para o vinho”, disse ele.

Os pesquisadores disseram que o que Steve sentiu também foi visto nos exames cerebrais. De acordo com as imagens cerebrais dos voluntários, antes e depois de uma dose do alucinógeno, pode ser visto o que o pesquisador principal, professor David Nutt, do Centro Imperial de Pesquisa Psicodélica, descreveu como uma redefinição do cérebro.

Essas imagens mostraram que o alucinógeno induz uma conectividade, a partir da qual diferentes regiões do cérebro se comunicam muito mais. Isso por sua vez revela novas formas de pensar.

“Não tinha a sensação consciente de que meu cérebro estava ‘embaralhado’, mas certamente havia muito mais acontecendo lá do que jamais poderia imaginar”, pontuou Steve.

Já na segunda dose, a experiência de Steve não foi tão boa. “Tive que lutar com esses sentimentos e emoções que costumo suprimir. Então, a segunda sessão, embora tenha sido um trabalho árduo, provavelmente foi terapeuticamente mais útil, porque tive que lidar com as coisas que não tinha lidado antes”, lembrou.

Depois desse experimento, Nutt está fazendo uma campanha para que alucinógenos que são ilegais sejam reclassificados para fins de pesquisa. Com isso sendo feito, os futuros experimentos como o dele serão menos complicados legalmente de acontecer, além de representarem uma revolução no tratamento da depressão.

Fonte: G1

Imagens: G1

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