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Por que IMC para definir obesidade pode estar errado?

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Há tempos os profissionais de saúde buscam maneiras de definir quem está abaixo do peso, no peso “normal”, com sobrepeso ou com obesidade. Isso é feito através do cálculo de Índice de Massa Corporal (IMC).

Essa fórmula simples para calcular o IMC existe há mais de 40 anos. Ela nada mais é do que dividir o peso, em quilogramas, do paciente pelo quadrado da sua altura, em metros. Com esse resultado, as pessoas podem ser divididas com relação ao seu peso, estando ele ideal, abaixo ou acima do recomendável.

Contudo, mesmo sendo uma coisa simples e prática, o IMC usado como ferramenta de medição tem cada vez mais provocado discussões entre especialistas sobre o seu valor na hora do diagnóstico.

“Você não pode interpretar nada sobre a saúde de alguém apenas olhando para o seu IMC”, disse Kendrin Sonneville, professor de Ciências Nutricionais da Universidade de Michigan.

Origem

IPGS

Para entender esse debate é preciso saber a origem do IMC. A fórmula nasceu em 1832 graças ao matemático, astrônomo e estatístico belga Lambert Adolphe Quetelet, que é considerado um dos “fundadores das ciências sociais”.

“Na época que criou seu índice, Quetelet não tinha interesse em obesidade. Sua preocupação era definir as características do ‘homem normal’ e adequar a distribuição à regra”, disse Garabed Eknoyan, nefrologista do Baylor College of Medicine em Houston, no Texas.

O estatístico criou a fórmula porque ele era obcecado em entender como as tendências probabilísticas se refletiam nas populações humanas. Por conta disso, ele começou a estudar a relação entre altura e peso.

“Seus estudos pioneiros do crescimento humano o levaram a concluir que, com exceção dos surtos de crescimento que seguem o nascimento e a puberdade, ‘aumento de peso é igual ao quadrado da altura'”, explicou Eknoyan.

Foi então que nasceu o que ficou conhecido por mais de 100 anos como índice de Quetelet.

Uso

Luciana Spina

Em 1972, as companhias de seguros nos Estados Unidos começaram a estimar o nível de risco de seus clientes fazendo uma comparação do peso deles com o peso médio de pessoas parecidas. Com isso, os clientes que eram considerados de “maior risco” pagavam mais.

Claro que isso não agradou muita gente, principalmente o fisiologista Ancel Keys. Por isso, ele fez um estudo com sete mil pessoa saudáveis para mostrar que a fórmula que as seguradoras estavam usando era ineficaz e complicada.

O que Keys usou para o seu estudo foi o índice de Quetelet. Mas com apenas uma pequena mudança ele passou a se chamar índice de massa corporal. Depois disso, a fórmula se tornou padrão para estabelecer o peso saudável para qualquer pessoa, e se mantém até os dias de hoje.

“A razão pela qual o usamos é muito tola. É uma ferramenta muito barata e rápida de calcular, e as alternativas para fazer uma medição semelhante são caras, complicadas e de difícil acesso”, explicou Rekha Kumar, endocrinologista do Hospital Universitário Weill Cornell, em Nova York.

Funciona ou não?

Fetalmed

“O IMC não foi projetado para ser aplicado em nível individual. É uma medida projetada para caracterizar populações, como em média, qual é o tamanho corporal de uma determinada população e o quanto isso mudou ao longo do tempo”, pontuou Kendrin Sonneville, professor de ciências nutricionais da Universidade de Michigan.

Além disso, existem vários fatores que afetam o peso e a saúde de uma pessoa.

“As pessoas se sentem muito mal se lhes dizem que seu IMC é muito alto, ou as pessoas supõem que são saudáveis ​​se seu IMC for normal. E nada disso é necessariamente verdade. O IMC é apenas uma ferramenta para chamar a atenção para o que pode ser um problema de saúde, mas não é uma boa ferramenta usada isoladamente para se fazer suposições sobre a saúde de alguém”, disse Rekha Kumar.

De acordo com a nutricionista neozelandesa Lucy Carey, o IMC  “não fornece nenhum tipo de informação que possa ser usada para determinar o estado de saúde de um indivíduo. Talvez seja útil no nível de população, para identificar tendências ao longo do tempo”.

O que fazer?

Sallet

Por conta disso é importante saber o que fazer com relação a isso. Os especialistas concordam que é necessário mudar a forma como a medicina é praticada. Assim, eles apostam menos em tendências e mais no indivíduo.

“Nossos sistemas e estruturas são muito focados no peso. Nossa educação na faculdade de medicina é baseada em métricas como o IMC. Mas só porque sempre fizemos assim não significa que seja certo. Temos informações suficientes para saber que precisamos mudar, e acho que aqueles que praticaram a medicina de um único ponto de vista terão que se adaptar às novas ideias e reconhecer o dano que causaram concentrando-se tanto no peso e no IMC”, disse Sonneville.

Na visão da nutricionista Lucy Carey, essa mudança na abordagem irá exigir uma dependência menor das ferramentas numéricas como o IMC.

“Há definitivamente uma relação entre gordura corporal e saúde. Mas no mundo real, se conseguirmos que as pessoas durmam melhor, cozinhem em casa, façam refeições com seus entes queridos, tudo isso melhorará sua saúde e bem-estar, independentemente de seu peso mudar ou não”, concluiu ela.

Fonte: BBC

Imagens: IPGS, Luciana Spina, Fetalmed, Sallet

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