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Porque a moda Y2K acende alerta sobre transtornos alimentares?

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Não podemos negar: a moda dos anos 2000 voltou com tudo. Porém, strass, maquiagem cintilante, sobrancelhas mais finas, minissaias e o terror de muitos, calça cós-baixo, não são as únicas coisas que voltaram. Isso porque essa época também carrega fantasmas, como por exemplo, o culto à magreza e à pressão perigosa que leva aos transtornos alimentares.

Basta entrar em qualquer rede social para ver que um dos principais assuntos é a moda dos anos 2000. Os vídeos com a hashtag #y2k (que traduz do inglês year 2000, ou ano 2000) fazem sucesso e a maior parte deles relembra os estilo essa época, ensinando como adaptar para os dias atuais.

Para quem já acompanha a cultura pop e a indústria de moda, isso não é nem um pouco surpreendente. “Na moda, existe o que chamamos de ciclo de 20 anos. A cada 20 anos, começamos a revisitar as estéticas que foram fortes 20 anos atrás”, diz Sofia Martellini, analista da empresa de previsão de tendências WGSN.

“Em 2010, estávamos olhando para os anos 90. Nos anos 90, muito do que era tendência foi tirado dos anos 70. Esse ciclo se repete”. Ela explica que isso acontece porque as gerações se renovam e a nostalgia ganha um olhar romantizado, deixando a geração atual pensativa sobre como a infância era melhor. Vale destacar que a geração Z, a primeira a nascer já na era digital, é especialmente nostálgica.

Como nasceram após a virada do milênio, essa época quase não foi vivida por essa geração. “Não é uma nostalgia de um tempo em que eles viveram. É uma ideia desse tempo”, conclui Martellini.

Quanto mais magra, melhor

Junto com a moda y2k, o culto à magreza reinou nessa época, mas é mais antigo que qualquer música da Britney Spears. “A magreza nunca saiu de moda. Desde os anos 90, quando começou o ‘heroin chic’ [estética da magreza extrema, associada ao uso de heroína ou outras drogas], o corpo muito magro nunca deixou de ser a maior referência”, afirma a analista de tendências.

“A moda sempre reforçou um padrão de beleza inacessível: corpos sem curvas, com ossos aparentes”, apontou a nutricionista Fernanda Imamura, que colabora com o Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas da USP.

“Isso gerou uma legião de pessoas insatisfeitas e alimentou a indústria das dietas restritivas, que podem ser um gatilho importante pro desenvolvimento dessas doenças, quando combinados a outros fatores”, ela acrescenta.

Vale destacar que algumas grifes começaram a incluir poucos modelos maiores e roupas mais inclusivas recentemente, por conta de pressão por mais diversidade por parte da população. No entanto, em muitos casos, essa “inclusão” parece ter pouco a ver com o princípio e mais a ver com publicidade.

“As marcas estão atentas ao debate, mas o progresso na moda acontece de forma muito lenta, principalmente no mercado de luxo. Nele, há a questão da exclusividade e as grifes se apoiam no discurso de que não têm consumidores de tamanhos maiores”, explica Martellini.

Mídia

moda y2k

Reprodução/Glamour

Enquanto nos anos 2010, todas as famosas estavam ganhando mais massa, seja por meio de dieta e treino ou com ajuda de um cirurgião (vide Kardashians), os anos 2000 tinham como acessório mais cobiçado a magreza. Assim sendo, com a volta dessas referências, também observa-se que famosas estão optando por diminuir seus quilos. Alguns exemplos são Bruna Marquezine, Rafa Kalimann e Anitta, que perderam bastante peso nos últimos anos.

Além disso, até Kim Kardashian, o maior ícone do corpo curvilíneo que dominou os anos 2010, parece ter emagrecido de forma considerável. “O emagrecimento dessas famosas não necessariamente está ligado à estética dos anos 2000. Mas, sim, trazer essa estética de volta acaba trazendo também esse corpo muito magro, que foi pauta na época”, avalia a analista da WGSN.

Reprodução

“Ao mesmo tempo, essas celebridades também estão inseridas na indústria, são pressionadas e criticadas por emagrecerem. Não importa muito o que elas fizerem, vão ser sempre atacadas. É complicado querer regulamentar o corpo delas.”

Pais atentos

Nos anos 200, alguns pais se preocuparam pela primeira vez com os transtornos alimentares de crianças que queriam o corpo de famosos como Paris Hilton. Porém, hoje em dia, o risco é ainda maior entre jovens cada vez mais novos, segundo a nutricionista Imamura.

Ela explica que um dos fatores que explica isso é o contato precoce com os padrões de beleza na internet. “O TikTok, por exemplo, tem muito conteúdo prejudicial, como vídeos que prometem ensinar a perder peso de forma rápida. Além disso, há corpos expostos o tempo todo. Isso gera muita comparação”.

“Os anos passam e essas coisas acabam sendo repaginadas. Hoje, é quase inviável que o ‘heroin chic’ dos anos 90 seja cultuado abertamente, mas existe a onda do bem-estar, do ‘wellness’, que também reforça um padrão limitado.”

Sinais

Nos adolescentes, os sinais de possíveis transtornos alimentares podem ser mais difíceis de identificar. “Eles não necessariamente irão começar uma dieta restritiva, mas podem diminuir quantidades, cortar radicalmente frituras, doces e outros alimentos que gostam. Às vezes, isso é entendido pelos pais como uma mudança saudável. Podem aplaudir e até incentivar esse comportamento, mas é preciso ter atenção.”

Assim sendo, Imamura cita alguns comportamentos típicos do transtorno alimentar em pessoas mais jovens:

  • Falar com frequência sobre insatisfação em relação ao corpo;
  • Restringir a alimentação gradualmente ou decidir parar de comer algum grupo específico de alimentos (carboidratos, por exemplo);
  • Ficar mais tempo sem comer;
  • Ter interesse excessivo no rótulo dos alimentos, em busca de informações sobre calorias e nutrientes;
  • Mudar repentinamente de rotina (por exemplo, passar do sedentarismo direto à prática de exercício intensa).

Fonte: G1

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