No século 19, a história de um pirata começou a se popularizar na cidade de Curitiba, no Paraná. Segundo a lenda, Zulmiro era um homem irlandês que se mudou para o Brasil e escondia um baú com joias em um túnel desconhecido.
Mesmo que várias pessoas tenham procurado o báu, ele nunca foi encontrado e a história permaneceu como uma lenda urbana por anos. No entanto, depois de 15 anos de pesquisa, o curitibano Marcos Juliano Ofenbock, autor da obra “A Verdadeira Ilha do Tesouro – As Crônicas do Pirata Zulmiro”, encontrou documentos que comprovam a história do pirata e qual o seu paradeiro.
O pirata Zulmiro
Em entrevista ao portal Aventuras na História, Marcos informou que Zulmiro veio ao Brasil para se esconder. “Ele foi o último pirata do século 19, um britânico que veio se esconder no sul do Brasil há 190 anos, em Curitiba, e por lá viveu até 1889, quando morreu, aos 90 anos. Seu nome verdadeiro era Francis Hodder e ele nasceu no sul da Irlanda, em Cork (parte do Reino Unido da época), de uma família muito rica.”
De acordo com o pesquisador, o irlandês se apaixonou pela navegação aos 25 anos, quando o britânico entrou para a Marinha Real Inglesa. “Aos 30, ele acidentalmente matou outro oficial em uma discussão nas Ilhas das Bermudas e desertou para fugir da pena de morte da corte marcial. Então, abraçou a pirataria, abandonou sua identidade verdadeira e adotou o nome de guerra: Zulmiro.”
A trajetória do pirata até o Brasil
Ofenbock relata que, em 1831, o homem foi capturado por Keppel, comandante de um navio de guerra inglês. Porém, eles já haviam se conhecido durante os serviços da Marinha Real Inglesa e se tornaram amigos.
“Keppel, para não ter de enforcar o antigo amigo, simulou uma fuga do pirata no litoral sul do Brasil, na condição de que ele fosse para o interior do continente e abandonasse a vida de crimes. Zulmiro contou que, após nove dias, subiu a serra e chegou à pequena vila de Curitiba, com cerca de três mil habitantes. Lá, morou numa região afastada do centro, e os habitantes o chamavam de ‘velho do mato’. Ninguém sabia que ele era um pirata.”
Os documentos encontrados
De acordo com Marcos, existem vários documentos que podem provar a história. “Existem cartas escritas e publicadas em 1896 no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, por um cidadão inglês chamado Edward Young, que conheceu o pirata Zulmiro em Curitiba entre 1879 e 1880, e eles se tornaram grandes amigos.”
O pirata, além de contar toda a sua história, entregou para Young, um roteiro para encontrar o tesouro escondido na Ilha de Trindade. “Edward escreveu oito cartas e, um mês após a última carta, ladrões invadiram a casa do inglês para roubar o roteiro do tesouro e acabaram assassinando Edward.”
Foi através dessas cartas que Marcos conseguiu encontrar o nome do pirada nos registros do cemitério municipal de Curitiba. “Ele faleceu no dia 24 de agosto de 1889 e usava o nome de João Francisco Inglez. Também consegui encontrar o pirata no livro de registros de alunos da Eton College no ano de 1811: seu nome era Francis Hodder e nasceu em Cork.”
Com as descobertas, a Prefeitura de Curitiba reconheceu a veracidade dos documentos e o pirata se tornou parte da história oficial da cidade.
O tesouro do pirata
De acordo com a pesquisa de Marcos, Zulmiro revelou que ele e mais dois piratas, Zarolho e José Sancho, fizeram um pacto sobre o tesouro. “Os três escolheram uma ilha deserta no meio do oceano, a Ilha de Trindade, para ser o depósito dos roubos que eles realizavam: uma espécie de banco pirata. Na Ilha, existiam dois locais secretos, sendo um conhecido somente pelos piratas. Esse depósito ficava no interior da ilha e era chamado de ‘A Burra’.”
Para o pirata, o local era o mais rico daquele território, já que possuía barris com moedas e barras de ouro, pedras preciosas e ouro em pó. Também havia um segundo depósito na praia da baía, em que eram guardadas muitas barras de prata e trabalhos artísticos em ouro puro.
“Segundo Zarolho, que morreu na Índia em 1850 (mas, antes, entregou o mapa do tesouro escondido nesse depósito para um capitão chamado Polly, de Newcastle), as peças de arte de ouro maciço eram da Catedral de Lima e foram transportadas em um navio capturado por ele em 1821. No local, ocorreu um grande deslizamento de terra que o deixou encoberto com centenas de toneladas de entulhos”, disse o pesquisador ao Aventuras na História.
As expedições
De acordo com Ofenbock, quatro expedições foram feitas entre 1910 e 1911. “O roteiro foi descoberto pelo sobrinho de Edward Young.” Apesar de não ter sucesso, devido à natureza vulcânica da ilha, as expedições foram bastante noticiadas na época.
O local também costuma apresentar diversos desmoronamentos. “Todos os marcos do roteiro foram apagados. Uma curiosidade é que o roteiro do tesouro escrito pelo pirata Zulmiro foi publicado na íntegra em pleno início da Segunda Guerra Mundial, no jornal A Noite, do Rio de Janeiro.”
A descoberta
Os 15 anos de pesquisas foram iniciados após Marcos descobrir os diversos túneis secretos no centro histórico de Curitiba. Logo em seguida, o pesquisador notou que existiam outros locais secretos, só que afastados do centro.
Além disso, ele já conhecia a lenda do pirata Zulmiro ter escondido tesouros na região. “No início, eu também acreditava que essa história de pirata era puramente lenda urbana, mas, no fim, com persistência e dedicação, consegui desvendar todo o enigma.”
Anos depois, em 2009. Marcos decidiu publicar o livro “A Verdadeira Ilha do Tesouro, as Crônicas do Pirata Zulmiro” para contar sobre a sua descoberta.
“A pesquisa é importante pelo valor histórico, pois a literatura sobre a pirataria diz que o último capitão pirata do mundo foi enforcado nos EUA. Mas, na verdade, o último é um ativo cultural para o Brasil.”
Fonte: Aventuras na História
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