Curiosidades

A história de Chico Xavier, o médium filho de analfabetos que vendeu milhões de livros

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Francisco Cândido Xavier, mais conhecido por Chico Xavier (1910-2002), morreu aos 92 anos, no dia 30 de junho. Ele era uma personalidade muito conhecida no país. Filho de um vendedor de bilhetes de loteria e de uma lavadeira, analfabetos, Chico Xavier se tornou o maior médium brasileiro, tendo escrito mais de 10 mil cartas psicografadas e se consolidado como dono de uma obra de mais de 450 livros, cuja autoria foi atribuída a espíritos. Ao todo, ele vendeu cerca de 50 milhões de exemplares.

Nascido em Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte, Chico Xavier começou a ficar famoso depois da publicação de seu primeiro livro. Mas, fenômenos mediúnicos já faziam parte de sua vida desde a infância.

Parnaso de Além-Túmulo

Foto: Arquivo Cb/D.A Press

Em 1932, quando já era vendedor e tecelão e costumava publicar poesias em jornais, sempre atribuindo os textos a espíritos, Chico Xavier lançou a antologia “Parnaso de Além-Túmulo”, uma coletânea de 60 poemas. A obra foi assinada por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo.

Com edição da Federação Espírita Brasileira, o livro teve grande repercussão no meio literário. “Ele tinha pouco mais de 20 anos e era um matuto, um menino do interior de Minas Gerais, filho de pais analfabetos, que colocava no papel poemas assinados por nomes como Castro Alves, Augusto dos Anjos… E afirmava: ‘foram eles que escreveram, não fui eu'”, conta à BBC, o jornalista e escritor Marcel Souto Maior, autor de, entre outros, As “Lições de Chico Xavier” e “As Vidas de Chico Xavier”.

De acordo com o biógrafo, o livro atraiu a curiosidade dos principais escritores da Academia Brasileira de Letras. Além disso, “95% dos escritores ficaram impressionados com a qualidade e a versatilidade da escrita”. Alguns até comparavam com os textos escritos em vida pelos autores citados na obra, apontando semelhanças no estilo, na métrica e na temática.

“Foi um impacto muito forte. E isso levou jornalistas a Pedro Leopoldo, alguns interessados em desvendar aquele enigma, outros querendo ‘desmascarar aquela fraude'”, disse Souto Maior. 

Três anos após a publicação, ele assumiu um posto de escrevente-datilógrafo em uma fazenda modelo ligada ao Ministério da Agricultura e a escrita tornou-se parte do seu dia a dia.

Apesar da fama, Chico Xavier costumava afirmar que os escritos não pertenciam a ele, que ele não havia escrito nada, que eram obras dos espíritos.

“Aquilo para mim era muito intrigante. Por isso decidi ir até Uberaba, apesar de muito cético, muito descrente”, diz Souto.

O símbolo do espiritismo brasileiro

Luiz Torres/ Reprodução/ Revista Claudia

Em um centro espírita na cidade do Triângulo Mineiro o médium exercia suas atividades. O carisma de Xavier fez dele o maior nome do espiritismo kardecista brasileiro. 

“Chico Xavier não foi só o grande médium, mas todo o espiritismo brasileiro ganhou uma feição diversa depois de sua aparição. Ele não é apenas um médium carismático, é antes de tudo um modelo de espírita exemplar, que é também um modelo de santo cristão exemplar a ser seguido e imitado em sua caridade, humildade e renúncia, não por acaso temas do catolicismo”, afirma o filósofo e antropólogo Bernardo Lewgoy, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Ele nacionalizou o espiritismo kardecista francês, criando uma escatologia nacional própria nos anos 30 e 40. Por outro lado, aproximou o antigo Kardecismo elitista das pessoas mais simples, valorizou as mulheres como personagens ativas nos centros espíritas e, na prática familiar do espiritismo”, acrescenta.

Para o antropólogo, ele consagrou-se “como uma espécie de ‘santo informal’ do espiritismo”.  “Os livros e as mensagens de Emmanuel e André Luiz [os dois principais nomes a quem ele atribuiu a autoria de seus textos psicografados] são presença e leitura obrigatória em centros espíritas brasileiros”, comenta.

Xavier conseguiu popularizar o espiritismo em um país de raízes fortemente católicas como o Brasil. “Seu discurso era fundamentalmente cristão. E ele sempre fazia questão de dizer que a Igreja Católica era o berço de todos nós”, aponta o jornalista Souto Maior.

Biografia de Chico Xavier

Foto: Arquivo Cb/D.A Press

A mãe de Xavier era católica e morreu quando o médium tinha 5 anos. De acordo com biógrafos, um ano antes ele já afirmava ouvir vozes do além. Após a morte da mãe, ele começou a “ter diálogos” diários com o espírito dela.

Chico Xavier acabou sendo criado por uma madrinha retratada como mulher violenta, que o castigava e açoitava. O conselheiro na infância foi um padre da cidade natal.

“Ele foi fundamental para que Chico Xavier não fosse internado pelo pai como um louco quando começou a ouvir vozes e ter visões”, disse Souto Maior. “O padre dizia para ele ter cuidado com o que falava, não contar tudo o que vivia… Por isso ele sempre teve um profundo respeito e gratidão pelo catolicismo.”

Aos 17 anos, Xavier teve contato com a doutrina espírita kardecista e começou a colocar o que vivia dentro da doutrina.

Enquanto os livros ajudaram a sistematizar o legado de Xavier, as suas aparições na TV que renderam fama nacional.

No final de 1971, a sua participação no programa Pinga-Fogo da TV Tupi, segundo a metodologia da época, contou com a sintonização de 86% dos televisores.

Em 1980, o dinheiro arrecadado através de suas obras já havia sido suficiente para fundar ou auxiliar 2 mil entidades de caridade em todo o país. Na época, teve campanha para que Chico Xavier fosse indicado ao Prêmio Nobel da Paz. “A mobilização rendeu 2 milhões de assinaturas”, afirma o biógrafo Souto Maior.

De acordo com último censo, de 2010, são 3,8 milhões de praticantes do espiritismo kardecista no Brasil. Como explica o antropólogo Lewgoy, trata-se de “uma minoria religiosa de muito prestígio” e isso se traduz no número de filmes, telenovelas e outros materiais midiáticos relacionados ao assunto.

Fonte: BBC

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