Algumas habilidades mentais essenciais parecem melhorar com a idade

Desde muito cedo aprendemos o ciclo da vida. E sabemos que com a idade vem algumas dificuldades. Contudo, a mente humana é mais resistente à passagem do tempo do que se imagina convencionalmente. Da mesma forma que um bom vinho, algumas partes ficam ainda melhores com o tempo.

Conforme os cérebros humanos envelhecem, de forma inevitável, parte do poder mental das pessoas está destinado a desaparecer. Como por exemplo a visualização espacial ou então a velocidade de processamento da mente. Entretanto, pesquisas descobriram que existem outras habilidades mentais que podem melhorar com o passar do tempo, como o vocabulário e a compreensão verbal.

Uma nova pesquisa foi feita com 702 participantes entre 58 e 98 anos. Ela identificou duas funções cerebrais fundamentais que parecem ficar mais fortes conforme envelhecemos.

Pesquisa

Esse novo levantamento pediu para os participantes fazerem um Teste de Rede de Atenção (ANT). Nele, os vocabulários são mostrados em uma seta central e duas setas laterais em uma tela de computador. Se pediu aos participantes que eles pressionassem um botão correspondente à orientação da seta central o mais rápido possível.

Várias dicas apareciam na tela antes de cada seta ser mostrada. Como por exemplo, nenhuma sugestão, uma sugestão para uma flecha que se aproximava e uma sugestão para indicar onde a flecha deveria estar.

Feito isso, os estudiosos compararam o tempo de resposta dos participantes. E controlando uma série de fatores, eles descobriram que os participantes mais velhos não eram tão bons em ficarem vigilantes na tarefa. E não responderam tão bem ao sinal do tempo. Isso quer dizer que estavam menos preparados para a próxima flecha.

No entanto, quando se tratava das pistas que mudavam a atenção do cérebro para olhar para  um outro ponto da tela, os mais velhos pareciam ser melhores em mudar a atenção conforme envelheciam. Isso foi visto até uma idade já bem avançada.

Funções cerebrais

Quanto mais velho era o participante, melhor era sua tendência a cancelar pistas perturbadoras ou que estavam em conflito que apareciam na tela. Essa foi uma habilidade que melhorava, pelo menos, até os 70 anos.

Nos exercícios, os pesquisadores testavam os processos cerebrais dos participantes relacionados a alertas, orientação e inibição executiva.

“Usamos os três processos constantemente. Por exemplo, quando você está dirigindo um carro, alertar é sua maior preparação ao se aproximar de um cruzamento. A orientação ocorre quando você muda sua atenção para um movimento inesperado, como um pedestre. E a função executiva permite inibir distrações, como pássaros ou outdoors para que você possa se concentrar ao dirigir”, explicou o psicolinguista João Veríssimo, da Universidade de Lisboa, Portugal.

A nova pesquisa sugere que as pessoas mais velhas podem ser mais lentas para responder a novas situações enquanto dirigem, mas que são melhores em manter o foco e orientar sua atenção quando é necessário na estrada.

Observações

Justamente essa capacidade de controlar atenção é considerada como uma função cerebral de ordem superior. E por mais que os pesquisadores não sugiram que todas a  funções executivas fiquem intactas ou melhorem aos 70 anos, parece que pelo menos algumas delas fazem.

“Esses resultados são surpreendentes e têm consequências importantes sobre como devemos ver o envelhecimento. As pessoas assumiram amplamente que a atenção e as funções executivas diminuem com a idade, apesar das dicas intrigantes de alguns estudos em menor escala que levantaram questões sobre essas suposições. Mas os resultados de nosso grande estudo indicam que elementos críticos dessas habilidades realmente melhoram durante o envelhecimento, provavelmente porque simplesmente praticamos essas habilidades ao longo de nossa vida”, pontuou o neurocientista Michael Ullman, da Universidade de Georgetown.

“As descobertas não apenas mudam nossa visão de como o envelhecimento afeta a mente, mas também podem levar a melhorias clínicas, incluindo para pacientes com doenças do envelhecimento, como a doença de Alzheimer”, concluiu Ulman.