Diante da vastidão de personagens de Attack on Titan, seria possível encontrar diversos protagonistas convincentes. Só para ilustrar, temos Historia, a filha ilegítima do rei; Levi, um garoto de rua que se tornou um dos melhores soldados da humanidade; e Mikasa, uma garota cujas origens são misteriosas e que acabou virando uma força da natureza. Além disso, Erwin, Zoe e Armin também são populares entre o público. Sendo assim, existem muitas figuras que poderiam ocupar o dinamismo heroico de um papel principal. Contudo, Hajime Isayama não queria que sua narrativa girasse em torno de um mocinho clichê. Logo, nosso protagonista é Eren Yeager, um garoto cego de vingança e incapaz de sustentar uma trama sozinho.
Como bem pontuado por Caitlin Chappell em seu artigo no CBR, em todas as três temporadas de Attack on Titan, Eren assumiu o papel de “donzela em perigo”. Isso significa que, em vez de usar seus próprios atributos, como força, inteligência e habilidades titânicas para sobreviver, o jovem Yeager sempre dependeu de seus amigos para resgatá-lo e protegê-lo. Como resultado disso, vimos o desenvolvimento de falta de autoestima, perspectiva resignada e uma natureza suicida que foram abordadas em seu sequestro mais recente.
Em suma, quando Historia e ele foram trazidos para Rod Reiss, o verdadeiro rei de Eldia, Rod tenta convencê-los de que a única maneira de salvar a humanidade é transformar Historia em Titã e fazê-la devorar Eren. Inclusive, o garoto logo se submete à ideia. Em contrapartida, Historia consegue enxergar através da manipulação no monarca e salva o amigo. Em seguida, ela ainda chama atenção de Eren por aceitar jogar sua vida fora. Até mesmo quando Jean e Connie vieram apoiá-los, os dois brincaram com Eren, chamando-o de “herói trágico”. Bom, surpreendentemente, eles acertaram, até certo ponto.
Eren Yeager, o herói trágico
Acontece que, apesar de ser um protagonista trágico, Eren não é um herói. Aliás, é exatamente essa a beleza da situação. Embora sempre tenha sonhado em ser um soldado, a guerra mostrou ao garoto que ele não é um salvador e o mesmo abraçou essa realidade. Basta lembrar que as mortes de Carla, do Esquadrão Levi e Hannes são motivo de culpa do rapaz. Cada uma dessas perdas, contribuiu para o declínio da autoestima de Eren, mostrando como a guerra pode ser cruel com uma criança. Ademais, é notável que Yeager faz muito pouco por contra própria. Por exemplo, na primeira temporada, apresar de Eren ter danificado a Titã Feminina, é Mikasa que impede a fuga de Annie; na terceira temporada, Historia mata o Titã de Rod, Levi elimina o exército de Zeke e Armin arrisca sua vida para dar a Eren a chance de incapacitar o Titã Colossal.
Então, qual a efetividade do nosso querido protagonista? Basicamente, Eren é a projeção do verdadeiro conflito apresentado em Attack on Titan. Enquanto muitos se prendem à superficialidade da derrota do inimigo, o que Isayama realmente busca retratar é o preço cobrado pelo fanatismo e pela guerra. Estamos falando da perda de vidas inocentes e seu impacto nos demais. Logo, Eren não deveria ser um grande protagonista porque ele é apenas mais uma vítima de um mundo que sempre tira sua liberdade. Desde o primeiro episódio, o vemos preso dentro de muralhas e limitado a ser usado como arma ou se transformar em um monstro. Sendo assim, aqui encontramos o protagonista ideal para AoT. Afinal, com o desenrolar de sua história vemos a importância da independência. Sem ela, a consciência e a moralidade declinam.
O complexo protagonista de Attack on Titan
Por isso, vemos Eren ficando cada vez mais psicótico e cego pela vingança. Apesar de não ser uma característica admirável, é relacionável. Aliás, não podemos nem mesmo culpá-lo por ser assim, pois o garoto está preso em um ciclo de subjugação. No entanto, também não podemos ignorar os momentos brilhantes de Eren como herói e destacar que eles geralmente acontecem quando ele atua por vontade própria. Basta lembrar de quando ele arriscou sua vida para salvar Armin na primeira temporada; defendeu Mikasa do Titã Sorridente na segunda temporada; e consumiu um vil Soro de Titã para proteger sua equipe na terceira temporada.
Sendo assim, com a temporada final chegando por aí, Eren e sua equipe agora sabem que existe um mundo exterior. Então, não há mais muros físicos limitando suas opções. Porém, agora é completamente explícito para Eren que a liberdade é algo alcançável, mas cabe à ele trabalhar para conquistá-la. Sendo assim, essa conclusão será extremamente importante para testemunharmos se esse ciclo de violência será quebrado ou perpetuado e Eren é o centro da narrativa.