Curiosidades

Comportamento das ‘Bruxas de Salem’ pode ter sido doença

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Um dos eventos mais marcantes do mundo foi a terrível caças às bruxas em Salém. Esse episódio aconteceu por causa da superstição e crueldade na América do Norte. Na época, eles acreditavam que algumas pessoas realizavam bruxaria e, por isso, perseguiram uma pequena povoação se Salém, Massachusetts, numa noite de outubro de 1692. Mas na realidade, pode ser que o comportamento apresentado por elas era decorrente de uma doença.

Em 1962, Betty Parris, de nove anos, filha do reverendo Samuel Parris, e Abigail Williams, de 11, tinham fala truncada, membros se contorcendo, elas gemiam, uivavam e convulsionavam. Por conta disso, o médico avisou ao reverendo que sua filha e sua sobrinha eram bruxas. Depois disso, pelo menos outras cinco meninas da vila de Salem também tiveram sintomas parecidos. Com isso, começaram as acusações aos habitantes locais de bruxaria.

As acusações continuaram e, ao todo, 20 pessoas foram condenadas à morte e várias outras morreram na prisão. E se não era a bruxaria, o que teria causado esses estranhos sintomas em Betty, Abigail e suas amigas há mais de três séculos?

Possíveis doenças

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Em 1976,  Linnda Caporael propôs uma teoria na revista “Science”. Segundo ela, os sintomas seriam causados pelo fungo do centeio. Isso porque, quando esse parasita é ingerido acidentalmente, ele causa a doença conhecida como “ergotismo convulsivo”. Seus sintomas são espasmos musculares, alucinações e convulsões.

Além dessa hipótese, outras pessoas atribuíam o comportamento à figueira-do-inferno, que é psicoativa. Um tempo depois se falou sobre encefalite letárgica, que é um tipo misterioso de doença do sono que é causada, possivelmente, por uma toxina ambiental, infecção viral ou bacteriana, ou ainda uma doença autoimune.

Nova hipótese

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No entanto, todas essas ideias já foram descartadas. Agora, uma nova hipótese surgiu. Quem a propôs foi Michael Zandi, neurologista do University College de Londres, e um dos seus alunos, Johnny Tam. De acordo com eles, o comportamento das “Bruxas de Salem” teria sido causado por encefalite anti-NMDAR.

O quadro típico de uma paciente com essa doença é, no começo, desenvolver uma doença parecida com a gripe. Depois de algumas semanas, ela fica obcecada por Deus ou pelo demônio, consumida pela paranoia e atormentada pela insônia. A paciente repete as mesmas palavras e, em seguida, fica totalmente muda.

Depois disso, vem as convulsões, contorções dos membros e estranhos movimentos repetidos da boca e da língua. Além disso, os batimentos cardíacos ficam lentos ou acelerados, sua pressão sanguínea aumenta e cai, ela transpira, baba, grunhe e faz caretas. Até que a paciente fica catatônica e então entra em coma.

Durante muito tempo, as pacientes com essa doença foram diagnosticadas como histéricas, chamadas de neuróticas e enviadas para hospícios, para que ficassem ainda mais loucas ou até mesmo morressem. Entretanto, hoje em dia sabemos, graças a uma pesquisa revolucionária de 2007, que essa condição é causada por um distúrbio neurológico.

O estudo mostrou que um anticorpo ofensivo reage contra os receptores de NMDA (N-metil D-aspartato) e vem daí o nome encefalite anti-NMDAR, em que o “R” significa “receptores”.

Foi descoberto que algumas das mulheres com encefalite anti-NMDAR eram portadoras de um tumor do ovário chamado teratoma. E esses tumores também têm tecido neural que expressa receptores de NMDA. Por isso, de novo, o sistema imunológico pode ser o culpado. Isso porque, é bem provável que esses receptores acionem a produção de anticorpos, que então reagem com os receptores de NMDA do cérebro e do teratoma.

Com o tratamento dessa doença, no caso, suprimir o sistema imunológico dá a chance a 75% dos pacientes com encefalite anti-NMDAR se recuperarem ou, pelo menos, ter uma melhora substancial. E no caso das mulheres com teratoma do ovário, basta removê-lo e as “bruxas” são curadas.

Relação

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Mas essa doença poderia estar relacionada com Salem? Para responder a isso, Zandi e Tam analisaram as descrições dos sintomas das meninas Betty e Abigail e disseram que essa possibilidade é real. Eles enumeraram algumas razões para isso.

  1. A ansiedade e os delírios persecutórios causados pela encefalite anti-NMDAR parecem ter sido apresentados pelas meninas de Salem.
  2. A encefalite causa convulsões e as meninas tiveram “diversos ataques de dores”.
  3. As discinesias (movimentos involuntários dos membros) de encefalite anti-NMDAR podem coincidir com esta descrição: “seus membros destroçados as atormentavam. Seus braços, pescoços e costas se retorciam de um lado para o outro e depois voltavam ao normal”.
  4. Existem paralelos entre a perda da inibição e a alteração do status mental da encefalite e este relato: “ela primeiro corria violentamente para dentro e para fora do quarto, e começou a atirar brasas pela casa”.
  5. A indicação de que as meninas estavam sofrendo alucinações: “às vezes, parecia que ela iria voar, esticando seus braços o mais alto que podia e gritando whish, whish, whish”.
  6. As meninas às vezes “ficavam mudas”, o que talvez sugerisse um estado catatônico.
  7. Inchaços do cérebro podem comprometer a fala. “As bocas [das meninas] paravam, suas gargantas engasgavam”.

“A doença delas parece excepcionalmente similar a outra doença que só passamos a estudar no século 21. E por que a encefalite anti-NMDAR não poderia existir naquela época?”, pontuou Zandi.

Ainda assim, algumas perguntas ficam sem respostas, como: por que as primas teriam desenvolvido simultaneamente uma condição que não é infecciosa? Nesse ponto, Zandi ressalta que assim como outras condições autoimunes, ela é hereditária. E pode ser que as duas meninas tivessem a mesma condição.

Agora, de acordo com Zandi, a relação com as outras meninas permanece um grande mistério. “Fatores sociopolíticos podem ter inspirado outros casos, além de condições médicas diversas que podem ter sido interpretadas erroneamente como bruxaria, incluindo a epilepsia”, concluiu ele.

Fonte: BBC

Imagens: BBC

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