O Menino do Pijama Listrado: por que o filme não é recomendado por estudiosos do Holocausto?

Avatar for Bruno DiasBruno DiasCuriosidadessetembro 10, 2024

O Menino do Pijama Listrado é um livro de 2006 que foi adaptado para o cinema com um filme homônimo em 2008 e é praticamente impossível que quem leu a obra ou a viu não tenha se emocionado com a história. A trama mostra a amizade de dois meninos separados por uma cerca na Alemanha nazista, sem saberem que estão separadas por um campo de concentração e uma guerra. Por mais que a história seja extremamente emocionante, O Menino do Pijama Listrado não é recomendado pelos estudiosos do Holocausto.

O livro de John Boyne vendeu mais de 11 milhões de cópias no mundo todo e o best-seller é usado para explicar o que foi o holocausto para as crianças na escola. Contudo, essa não é uma prática que os historiadores e estudiosos da Segunda Guerra Mundial recomendam. Tanto que um estudo de2016 feito pela Universidade de Londres mostrou as preocupações das influências que o livro poderia ter na forma dos jovens e crianças entenderem toda a complexidade que foi o nazismo.

Na história, tanto do livro como do filme, é mostrado Bruno, um menino de nove anos que sai de Berlim junto com sua família para morar perto do campo de concentração de Auschwitz, onde o pai dele se torna comandante. Então, Bruno começa a explorar os arredores da sua casa e acaba encontrando Shmuel, que é um menino judeu da mesma idade que ele. Mesmo estando separados por uma cerca de arame farpado, os dois meninos formam uma amizade.

Muitas pessoas acham que essa é uma história inspirada em fatos reais, mas O Menino do Pijama Listrado é totalmente fictício. Além disso, Hannah Randall, chefe de pesquisa do Holocaust Centre North na Inglaterra, ressaltou que o mostrado na obra jamais poderia ter acontecido na vida real. Por conta disso que, na visão dela, as incongruências e as imprecisões históricas que perpetuam estereótipos problemáticos.

O Menino do Pijama Listrado não é recomendado

Terra

O motivo de O Menino do Pijama Listrado não ser recomendado por estudiosos é justamente essa perpetuação de pontos que são problemáticos. Como, por exemplo, na primeira metade da história, Bruno é mostrado como um menino que não sabe o que é o nazismo, que nunca ouviu falar nos campos de concentração e não conhece os judeus ou o judaísmo.

Isso é, na realidade, um equívoco histórico, porque o menino iria ser obrigado por lei a participar da Juventude Hitlerista. Além disso, na escola, ele teria que prestar juramento constante à Hitler, e a propaganda antissemita era parte do currículo escolar.

Por mais que os fãs da obra digam que é uma história ficcional e não tem nenhum compromisso com a realidade, na visão dos historiadores, o mostrado no livro e no filme ajudam na perpetuação de uma ideia errada de que a maior parte da população não conhecia o que se passava nos campos de concentração. E mesmo que os pais de Bruno o tentassem proteger da realidade em sua casa, na escola isso não poderia acontecer por conta das obrigações que todos tinham com o 3º Reich.

Outro ponto problemático que faz O Menino do Pijama Listrado não ser recomendado por estudiosos do holocausto é que Shmuel é somente um amigo de Bruno, sem mais detalhes. Nada é falado a respeito da história do menino judeu e da origem dele, o que faz com que as pessoas não criem uma conexão com ele igualmente como tem com Bruno.

Com relação ao final da história, quando Bruno atravessa a cerca que os separa através de um buraco cavado por eles para ajudar Shmuel procurar seu pai que está desaparecido, os meninos acabam sendo colocados juntos com um grupo de prisioneiros e levados para a câmara de gás.

Sobre esse final, Hannah argumenta: “Como o foco da história permanece na família de Bruno, o livro não se envolve com a principal tragédia do Holocausto: que nenhuma das pessoas na câmara de gás deveria estar lá. Devido à maneira como o personagem de Shmuel é retratado no romance, seu personagem não envolve a simpatia do leitor da maneira que Bruno faz. Shmuel representa 1,5 milhão de crianças assassinadas pelo regime nazista em  Auschwitz-Birkenau, nos campos de extermínio da Europa ocupada e nos campos de extermínio onde milhões de civis foram baleados em valas comuns, mas a simpatia do leitor é direcionada a um comandante de campo de concentração nazista e sua família”.

Posicionamento do autor

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Pelo fato de O Menino do Pijama Listrado não ser recomendado por estudiosos do holocausto e essa ser uma discussão importante e persistente, John Boyne se manifestou sobre em uma entrevista dada à radio BBC 4 nesse ano.

“Minha visão sobre o livro –e eu ouvi muitas das críticas, as absorvi, e algumas eu entendo, outras não– é que é um romance, é uma fábula, uma história de ficção com uma moral no centro. Nunca fingi que era mais do que isso. Se você quiser saber os fatos sobre o Holocausto, não leia um romance, leia um livro de não-ficção”, disse.
“Os historiadores diziam: ‘Bem, você sabe, isso não deveria ser usado como uma ferramenta no estudo do Holocausto’. Claro, não deveria ser. É um romance, se você estiver estudando, use uma ampla gama de coisas, leia não-ficção. Novamente, eu não escrevi um livro didático”, continuou. 
Fonte: Terra
Imagens: Terra
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