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Os 10 reatores russos ativos podem desencadear outro acidente como Chernobyl?

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Esse assustador lugar não é apenas uma terra fantasma cheia de radioatividade e cenário perfeito para os piores filmes de terror imagináveis. É também um memorial do maior desastre já feito pela raça humana. Pouco se fala do desastre ocorrido em 26 de abril de 1986, quando, para testar novas turbinas produtoras de energia, a equipe de manutenção da usina desligou o controle de segurança.

A turbina não teve força suficiente, ficando em apenas 1% de sua capacidade. Preocupados, os engenheiros começaram a tentar reativá-la, mas 30 segundos depois, uma descarga de energia percorreu toda a usina, que estava sem seu sistema de proteção ativado, causando explosões em massa. Temperaturas acima dos 2 mil graus Celsius e 9 dias de incêndio, com materiais radioativos, sem interrupção, sendo disseminados.

A HBO tem sua nova minissérie que mostra quando os cientistas russos descobrem o motivo de uma explosão no reator 4 da Usina Nuclear de Chernobyl. Ela que expeliu material radioativo para o norte da Europa.

O reator chamado RBMK-1000 foi descoberto como estando com defeito depois do acidente em Chernobyl. E o mais alarmante é que ainda existem 10 iguais a ele em operação na Rússia.
Não se sabe ao certo sobre a segurança desses reatores. Segundo os especialistas, eles foram modificados para não ter o risco de acontecer outro desastre como Chernobyl. Mesmo assim, não são tão seguros quanto a maioria dos reatores do estilo ocidental.

“Há um número inteiro de diferentes tipos de reatores que estão sendo considerados agora em vários países que são significativamente diferentes do reator padrão de água leve. E muitos deles têm falhas de segurança que os projetistas estão subestimando”, disse Edwin Lyman, cientista sênior e diretor interino do Projeto de Segurança Nuclear na União de Cientistas Preocupados.

“Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas”, continuou.

Reator 4

Esse reator era usado em um projeto apenas pela União Soviética. Ele era diferente da maioria dos reatores nucleares de água leve, que são como um grande vaso de pressão com um material nuclear, que é resfriado por uma fonte circulante de água.

Mas o RBMK-1000 era diferente. As variações no desenho do reator davam a ele a possibilidade de usar um combustível menos enriquecido do que o usual. E inclusive, que ele fosse reabastecido durante a operação.

Segundo Lyman, quando Chernobyl operava a todo vapor, a diferença dos reatores não era um problema. Mas em baixa potência, os reatores RBMK-1000 ficam muito instáveis.

Desastre

Depois do acidente de Chernobyl, no começo, as autoridades soviéticas mantiveram as informações guardadas e os rumores se espalharam. E no dia 14 de maio, o líder soviético Mikhail Gorbachev fez um pronunciamento na televisão sobre o que tinha acontecido. Esse foi um ponto de virada na história soviética.

E também começou uma nova era de cooperação para a segurança nuclear. Uma das mudanças foi a modificação nos reatores RBMK-1000 que, na época, tinham 17 reatores em operação. Segundo a Associação Nuclear Mundial, nas mudanças, estavam a adição de inibidores ao núcleo para evitar reações descontroladas à baixas energias, aumento do número de hastes de controle e aumento no enriquecimento de combustível.

Até os anos 2000, três reatores de Chernobyl estavam operando, mas foram fechados. Assim como outros dois RBMKs na Lituânia. Atualmente, existem quatro reatores RBMK operando em Kursk, três em Smolensk e três em São Petersburgo.

“Havia aspectos fundamentais do design que não podiam ser consertados independentemente do que fizessem. Eu não diria que eles foram capazes de aumentar a segurança do RBMK global para o padrão que você esperaria de um reator de água leve estilo ocidental”, comentou Lyman.

E segundo Lars-Erik De Geer, um físico nuclear aposentado da Agência de Pesquisa de Defesa da Suécia, os reatores não foram construídos com sistemas de contenção completos, como é visto nos do estilo ocidental. Esses sistemas de contenção são escudos de chumbo ou aço para conter o gás radioativo ou vapor, para que este não escape para a atmosfera caso aconteça algum acidente.

Supervisão

Mesmo que os efeitos de um desastre nuclear possam ser em escala internacional, não existe um acordo internacional sobre o que é uma usina “segura”. A exigência que a Convenção sobre Segurança Nuclear faz é que os países sejam transparentes sobre suas medidas de segurança. E permitam a revisão através das plantas. Segundo Lyman, alguns países têm suas próprias agências reguladoras, que são independentes conforme o país deixa.

“Em países onde há corrupção desenfreada e falta de boa governança, como você pode esperar que qualquer agência reguladora independente seja capaz de funcionar?”, ressaltou Lyman.

Ninguém além da União Soviética fez reatores RBMK-1000. Mas alguns projetos de novos reatores envolvem um coeficiente de vazios positivo. Um exemplo são os reatores de regeneração rápida. Estes são aqueles que geram mais material físsil na medida em que vão gerando energia. Países como Rússia, China, Índia e Japão construíram esses reatores.

“Os designers estão argumentando que, se você levar tudo em conta, no geral, eles estão seguros. Então isso não importa muito. Esse tipo de pensamento é o que colocou os soviéticos em apuros. E é o que pode nos causar problemas, por não respeitar o que não sabemos”, concluiu Lyman.

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