Curiosidades

Os humanos podem dormir menos do que os outros primatas

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Pesquisas apontam que os seres humanos dormem menos que qualquer outro primata, como chimpanzé, macaco ou lêmure, estudado pelos cientistas.

De acordo com o antropólogo evolutivo David Samson, da Universidade de Toronto, em Mississauga, no Canadá, até mesmo as pessoas das sociedades não industriais, as mais próximas do tipo de ambiente onde nossa espécie evoluiu, dormem, em média, menos de sete horas por noite.

Os chimpanzés dormem cerca de 9,5 horas a cada período de 24 horas. Já os saguis-cabeça-de-algodão dormem cerca de 13 horas no mesmo intervalo, enquanto os macacos-da-noite de pescoço cinza dormem 17 horas por dia.

Primeiramente, é importante destacar que o sono é importante para a nossa memória, funções imunológicas e outros aspectos da saúde. Um estudo de previsão do sono dos primatas, baseado em fatores como a massa do corpo, o tamanho do cérebro e a alimentação, apontou que os seres humanos deveriam dormir cerca de 9,5 horas a cada 24 horas, e não sete. 

As pesquisas sobre o sono em primatas e populações humanas não industriais revelaram os vários fatores que tornam o sono humano algo incomum. Além de dormirmos menos, também passamos a maior parte da noite na fase de sono conhecida como movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês).

Os motivos dos nossos estranhos hábitos de sono podem estar relacionados à história de como nos tornamos seres humanos.

Evolução para dormir menos 

Foto: Getty Images

Nossos ancestrais saíram das árvores para viver no solo e começaram a dormir no chão. Isso fez com eles perdessem os benefícios de dormir nas árvores, incluindo a relativa segurança contra predadores, como os leões.

Como os fósseis dos nossos ancestrais não revelam a qualidade do seu repouso nessas condições, os antropólogos estudam como os antigos humanos dormiam através das sociedades não industriais contemporâneas.

Samson trabalhou com os caçadores-coletadores Hadza da Tanzânia, além de diversos grupos em Madagascar, na Guatemala e em outros países. Os participantes do estudo costumam usar um aparelho chamado Actiwatch, similar aos monitores Fitbit, mas com um sensor de luz adicional, para registrar seus padrões de sono.

Gandhi Yetish, antropólogo e ecologista da evolução humana da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos, publicou um estudo em 2015, em que avaliou o sono dos Hadza, além dos Tsimane na Bolívia e dos San, na Namíbia, e concluiu que eles dormiam, em média, apenas de 5,7 a 7,1 horas por dia.

Isso aponta que os seres humanos parecem ter evoluído para precisar de menos sono que nossos parentes primatas. Samson demonstrou em uma análise em 2018 que conseguimos isso desativando o tempo fora do sono REM, ciclo em que o sonho acontece.

Para entender a evolução do sono humano, Samson desenvolveu a hipótese do sono social, descrita na edição de 2021 da Annual Review of Anthropology. Ele acredita que a evolução do sono humano está ligada à segurança.

Samson afirma que o sono rápido, provavelmente, evoluiu por causa da ameaça dos predadores quando os humanos começaram a dormir em solo. Ele também aponta que grupos de ser humano podem ter compartilhado abrigos para repousarem em segurança. Alguns membros do grupo podem ter dormido enquanto outros ficavam de guarda.

Influência dos predadores

Foto: Alamy/ BBC

De acordo com Isabella Capellini, ecologista evolutiva da Universidade Queen’s de Belfast, no Reino Unido, faz sentido que a ameaça dos predadores possa ter levado os seres humanos a dormir menos que os primatas que vivem em árvores. Em um estudo de 2008, ela e seus colegas concluíram que mamíferos com maior risco de ataque de predadores costumam dormir menos.

No entanto, Capellini aponta que os dados existentes sobre o sono dos primatas vêm de animais em cativeiro. No zoológico ou no laboratório, os animais poderão dormir menos que na natureza, devido ao estresse, ou dormir mais porque estão entediados.

O neurocientista Niels Rattenborg, que estuda o sono das aves no Instituto de Ornitologia Max Planck, na Alemanha, concorda ser interessante estudar o sono humano. Porém, ela aponta que “depende muito de saber se nós medimos o sono dos outros primatas de forma precisa”.

Por exemplo, em 2008, Rattenborg e seus colegas realizaram um estudo que concluiu que as preguiças selvagens dormiam cerca de 9,5 horas por dia. No entanto, um estudo anterior com preguiças em cativeiro havia registrado cerca de 16 horas de sono diárias.

De acordo com Capellini, se os cientistas tivessem um quadro mais claro do sono dos primatas no ambiente selvagem, talvez pudessem notar que o sono humano não é tão curto.

Sono social

Foto: Jorge Fernández/ Getty Images/ BBC

Gandhi Yetish, que estuda o sono em sociedades pequenas e colaborou com as pesquisas de Samson, aponta que o sono social não é a única solução para o problema de manter a segurança à noite. O pesquisador aponta que Tsimane às vezes têm paredes nas suas casas, que oferecem alguma segurança sem vigilância humana, mas que ainda assim no dia seguinte narram quais animais ouviram à noite. 

Os sons acordam a maioria das pessoas à noite, oferecendo outro possível mecanismo de proteção.

Além disso, os Tsimane se reúnem em volta de uma fogueira enquanto a janta é cozida, depois comem juntos e ficam conversando. Yetish estima que nossos ancestrais humanos podem ter trocado algumas horas de sono pelo compartilhamento de informações e cultura em volta do fogo.

Por isso, nossos ancestrais podem ter reduzido seu sono para um período mais curto porque tinham coisas mais importantes para fazer no restante da noite.

Samson destaca que a melhor compreensão de como evoluiu o sono humano poderá ajudar as pessoas a descansar melhor ou se sentir melhor com as horas que já estão repousando.

Fonte: BBC

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