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Colônia Cecília, a experiência de anarquismo que aconteceu no Brasil

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Os anarquistas acreditam fielmente no ‘objetivo basilar’ da sociedade: ampliar as escolhas dos indivíduos. De acordo com o estudioso Donald Rooum, este é o axioma do conceito. Dessa maneira, a sociedade não teria se originado em algum tipo de “contrato social” consciente. A ampliação das escolhas seria, portanto, a função dos instintos sociais. Seguindo a linha de raciocínio, percebemos o mesmo discurso se encaixar com o do docente sênior em Teoria Social da Nottingham Trent University, Andreas Wittel. Segundo o estudioso, o anarquismo é um processo pelo qual a autoridade e a dominação acabam sendo substituídas por estruturas diferentes. Estas seriam horizontais não-hierárquicas, com associações voluntárias entre os seres humanos. “É uma forma de organização social com um conjunto de princípios fundamentais, como auto-organização, associação voluntária, liberdade, autonomia, solidariedade, democracia direta, igualitarismo e ajuda mútua”, escreve. Ainda abstrato demais para você? Bom, nós temos um exemplo concreto para facilitar a compreensão. E o que é melhor: o caso aconteceu em nosso país. Conheça Colônia Cecília, a experiência de anarquismo que acontece no Brasil.

A experiência anarquista foi realizada no Paraná, entre 1890 e 1894. A comunidade reuniu 250 pessoas, principalmente imigrantes italianos. Em artigo publicado no portal BBM/USP, é possível averiguar vestígios da história por meio de documentos recuperados ao longo do século XX. Alguns relatos de ex-colonos e seus filhos, bem como ensaios do próprio fundador, Giovanni Rossi, servem como base para entendermos com mais afinco como tudo aconteceu. Além disso, o escritor Afonso Schmidt elaborou um livro contando detalhes sobre o experimento dentro do contexto brasileiro. “Colônia Cecília – Uma aventura anarquista na América” foi escrito em 1942.

Detalhes históricos sob a ótica de Afonso Schmidt

Giovanni Rossi (1856-1946) formou a comunidade anarquista antes da República Velha. Já com o plano de formar uma colônia anarquista, o subversivo Rossi decide tentar se estabelecer no Brasil depois de uma conversa com o amigo Carlos Gomes, compositor e músico brasileiro. Ele, após saber que D. Pedro II visitaria a Itália, entra em contato com o imperador e consegue a doação de terras brasileiras para começar a experiência.

Segundo a versão do escritor Afonso Schmidt, o grupo que fundou a colônia era bastante heterogêneo. Algumas questões palpáveis sobre a estrutura do sistema horizontal apareceram desde o princípio. Os recursos orgânicos e a auto produção não eram suficientes, já que grande parte dos colonos não tinha experiência alguma com agricultura. Por isso, a experiência se estendeu ao trabalho externo à comunidade.

Ao longo de intensos quatro anos, os envolvidos se engajaram na construção de estradas de ferro para arrecadar o dinheiro necessário. Muitas pessoas, nesse ínterim, não apoiavam a ideia por contradizer com a prerrogativa anarquista. Aparentemente, todos os processos sistêmicos passam por transições não tão rápidas assim.

Fim da colônia

O fim do experimento aconteceu de maneira progressiva. Anos após a proclamação da república, a doação de D. Pedro II foi contestada e o governo republicano impôs uma série de cobranças pelo uso das terras. Segundo o escritor Afonso Schmidt, a colônia se organizou com demasiada força por causa disso. Os trabalhos se intensificaram a ponto de finalmente juntarem dinheiro para regularizar a situação.

Contudo, surgiu um problema de logística (ou caráter): o tesoureiro do grupo alegara que iria à cidade pagar as contas da colônia, mas nunca mais retornou. A partir desse momento, os colonos começaram a ir embora e o experimento se esvaziou.

Apesar das inúmeras polêmicas em torno do que realmente aconteceu, Colônia Cecília terminou sem nenhum episódio de violência. Não houve reivindicação de entidade representativa, mesmo nos momentos de maior necessidade de produção laboral.

Bom, a história não acaba por aí. Se você pesquisar com afinco sobre o tema, perceberá diversos documentos com (multi) versões. Por enquanto, o importante foi lhe despertar a curiosidade a respeito do assunto. Por isso mesmo, deixo-o com a seguinte pergunta: se a Colônia Cecília acontecesse nos tempos atuais, você acha que daria certo? Não se esqueça de compartilhar suas impressões conosco!

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