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Conheça os consultores de ciência de Hollywood

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Nos bastidores do cinema, especialistas de diversas áreas tornam roteiros mais precisos e melhoram a representação dos pesquisadores. Spyridon Michalakis é um dos consultores de ciência mais famosos de Hollywood.

O grego Michalakis cresceu jogando Super Nintendo, assistindo a Jornada nas Estrelas e se divertindo com desafios matemáticos. Conforme crescia, Spiros (apelido do jovem) se interessava mais pelos números, participando de várias olimpíadas internacionais de matemática. Em 1999, ele se mudou para os EUA para estudar matemática e ciências da computação no MIT. 

Atualmente, Spiros trabalha no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), onde pesquisa mecânica quântica. No entanto, a ciência é apenas uma de suas ocupações. Desde 2013, o cientista trabalha como consultor em Hollywood. 

Spiros é uma das mentes por trás do Reino Quântico, um domínio imaginário que foi apresentado em “Homem-Formiga” (2015) e que aparece em outros filmes do Universo Marvel

O Reino Quântico dos filmes é a aparência microscópica do mesmíssimo mundo que já conhecemos. Essa é a forma que os personagens veem as coisas quando encolhem até ficarem menores do que um átomo. 

Como as leis da física quântica são mesmo diferentes, os roteiristas da Marvel se aproveitam de conceitos dessa área para justificar feitos impossíveis – Capitão América e cia. Apelam para o Reino Quântico para viajar no tempo e salvar o dia em “Vingadores: Ultimato” (2019). Apesar de ser tudo ficção, é importante que no enredo isso pareça ter lógica.

Porém, não é apenas a Marvel que utiliza consultores de ciência em Hollywood. Essa história começou em 1968.

A consagração da ficção científica em Hollywood

Foto: Divulgação/G1

Quando o francês Georges Méliès lançou “Viagem à Lua” (1902), considerado a primeira ficção científica do cinema, o gênero já estava consolidado na literatura. Inclusive, Mélies se baseou no livro “Da Terra à Lua”, de Júlio Verne. No entanto, o escritor francês não precisava de consultor, já que entendia bastante de cinema para desenvolver a história da ida de astronautas à Lua a bordo de um projétil.

Já nas primeiras décadas do século 20, a literatura começou a debater como os avanços tecnológicos impactariam a sociedade – para o bem e para o mal. Essa tendência chegou ao cinema nos anos 1960, e acompanhada dos avanços nos efeitos especiais, levaram a ficção científica ao topo de Hollywood.

O principal responsável por isso foi o diretor Stanley Kubrick. Em 1964, ele se juntou a Arthur C. Clarke, um dos maiores autores de ficção científica da história, para criar simultaneamente o livro e o roteiro de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. Kubrick foi atrás de diversos especialistas para ajudá-lo.

“Queríamos criar algo realista e plausível, que não se tornasse obsoleto com os acontecimentos dos anos seguintes”, disse Clarke em 1999, em referência aos programas espaciais americano e soviético. Para isso, Kubrick contratou dois ex-funcionários da Nasa, Frederick Ordway e Harry Lange.

Ordway mantinha uma consultoria aeroespacial e com a ajuda dele, a produção do filme teve acesso a mais de 65 organizações, entre universidades e empresas. Entre eles está a dupla formada por Louis Leakey e seu filho, Richard – dois paleoantropólogos que criaram os hominídeos da primeira parte do filme.

Kubrick ainda fez acordos com a IBM, General Electric, Honeywell e Pan Am: elas revelaram tecnologias e designs conceituais que tinham na gaveta, em troca de publicidade. O filme virou uma espécie de feira de inovação. “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, apresentava até mesmo um tablet, o news pad, 42 anos antes do lançamento do iPad.

Consultoria atualmente

Foto: Reprodução/ Observatório de cinema

Hoje, os cineastas de Hollywood não precisam procurar cientistas sozinhos. Essa busca pode ser feita pela Science & Entertainment Exchange, criada em 2008 pela Academia Nacional de Ciências dos EUA. A empresa indica os especialistas ideais para cada tipo de projeto. 

A organização mantém um banco com mais de 2,4 mil cientistas cadastrados, dispostos a oferecer consultoria. Entre 2008 e 2017, estima-se que a Exchange tenha ajudado 1.800 produções. 

Por meio da empresa, em 2014, Spiros foi parar nos estúdios Pinewood, em Atlanta, onde a Marvel costuma gravar os seus filmes. No primeiro dia, ele fez uma reunião de cinco horas com a equipe de Homem-Formiga e Paul Rudd, o ator que interpreta o herói e que também colaborou com o roteiro.

Primeiramente, eles queriam entender o que aconteceria caso alguém encolhesse muito. “Eu disse que não seria de grande ajuda para questões biológicas, mas podia ensiná-los algumas coisas de física quântica”, disse Spiros em uma conversa com a Super. “Stan Lee era um grande entusiasta da ciência, mas as histórias que ele criou na Marvel usam conceitos dos anos 1960 e 1970. De lá para cá, muita coisa mudou.”

A equipe de efeitos especiais também ouviu os seus conselhos para criar o Reino Quântico, já que não havia nenhuma imagem de referência.

Após o filme, Spiros continuou colaborando com a Marvel e virou amigo de Rudd. Em 2016, o cientista ajudou o ator em um vídeo cômico para promover um evento da Caltech. Na ocasião, Rudd desafia Stephen Hawking para uma partida de “xadrez quântico”. 

Ciência em Hollywood

Foto: Divulgação / Netflix

A consultoria de ciência em Hollywood costuma ser bem menos glamourosa do que a experiência de Spiros. Esse trabalho é geralmente resolvido em algumas horas de ligação com os roteiristas e os cientistas não ganham dinheiro.

Mas não são apenas os filmes que se beneficiam dessa relação. A Exchange também busca popularizar o conhecimento científico e melhorar o modo como pesquisadores são representados no cinema. 

Fonte: Superinteressante

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