Natureza

Floresta Amazônica pode estar ameaçada pela popularização do açaí

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Nas últimas décadas, o açaí tem se popularizado cada vez mais. O fruto é muito consumido no Brasil, em pratos doces e salgados, e, ultimamente, tem se tornado uma atração também em outros países. A produção dessa fruta típica da região amazônica disparou, o que gerou muitos empregos para as famílias da região.

Além das vantagens econômicas, a popularização do açaí é mais uma forma de destaque do Brasil no cenário internacional. Atualmente, existem 118 indústrias no Pará dedicadas ao processamento do açaí. Algumas têm cultivo próprio, mas todas ainda dependem da produção dos ribeirinhos para manter o abastecimento. Cada empresa gera emprego direta ou indiretamente para cerca de 5 mil famílias, segundo alguns cálculos.

No entanto, um estudo conduzido por cientistas brasileiros apontou como a demanda de produção tem afetado a Amazônia e contribuído para a perda da biodiversidade da região. Árvores típicas da região, como a samaúma e o jatobá, estão desaparecendo da paisagem e dando lugar a campos de monocultura da fruta. O processo é tão intenso que já ganhou até nome por cientistas da área: é a “açaização” da Amazônia.

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Autoridades dizem que criaram regras para proteger a biodiversidade amazônica, e os produtores afirmam seguir as normas e negam que causem prejuízo à floresta. Os cientistas contrapõem essa afirmativa e mostram que o cultivo de açaí está provocando mudanças profundas na Amazônia, que podem desestabilizar todo o ecossistema.

A produção nacional

O Brasil concentra cerca de 85% da produção mundial de açaí, com uma média de 1,5 milhão de toneladas produzidas entre 2015 e 2020. Em 2020, a produção nacional foi de 1,7 milhões de toneladas, quase 5% a mais do que no ano anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em relação a 2015, o aumento foi de 38%.

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Só o Estado do Pará é responsável por 95% desse total. São cerca de 212 mil hectares dedicados ao cultivo da fruta em terra firme ou áreas de várzea, segundo o Conab. Por isso, cientistas escolheram justamente o Pará para analisar o impacto do cultivo do açaí sobre a Amazônia.

A pesquisa

O estudo, publicado no jornal acadêmico Biological Conservation, analisou 47 áreas na região da foz do rio Amazonas no Estado. A pesquisa começou em 2013 e englobou áreas mapeadas em um trecho de 376 mil km² no leste da Amazônia, onde está o maior núcleo de produção e colheita de açaí no Brasil.

O primeiro sinal de problema foi a ausência notada pelos pesquisadores de espécies de árvores típicas de várzea em áreas onde há plantação do açaí. Muitas dessas plantas fornecem sombra para outras espécies e servem de abrigo para a fauna local, como pássaros e insetos, além de ajudar na reciclagem de nutrientes do ecossistema amazônico.

No entanto, elas são retiradas para abrir espaço para o plantio dos açaizeiros e deixar o sol incidir sobre os pés da fruta, já que a sombra pode retardar seu crescimento. Os pesquisadores afirmam que o aumento do manejo para atender a demanda do mercado levou a uma mudança significativa na floresta de várzea.

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O estudo aponta que, em áreas onde há mais de 600 touceiras (moitas) de açaí por hectare, a riqueza funcional caiu cerca de 50%. Ou seja, o espaço ocupado pelas demais espécies caiu pela metade desde que essa área passou a ser explorada para o cultivo do açaí.

Há regiões identificadas pela pesquisa onde deveria haver, em tese, cerca de 70 espécies de plantas por hectare. Em seu lugar, os cientistas encontraram apenas as plantações de açaí, com até 1 mil touceiras por hectare.

A devastação da Amazônia para a plantação de açaí representa prejuízos para os próprios produtores e para a colheita da fruta, já que, segundo o estudo, em áreas em que não há nenhuma outra espécie além do açaí, os cachos produzem 30% menos frutos do que em áreas onde há mais diversidade.

Além disso, a retirada de toda a vegetação para a plantação da fruta corrobora na acidificação do solo e, posteriormente, é provável que as espécies nativas não sobrevivam mais se forem replantadas no mesmo local.

Fonte: BBC

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