Mulher é chamada de ‘morta de fome’ e recebe ameaças após reclamar de propaganda enganosa de hamburgueria

Nem sempre um pedido sai como imaginávamos, e, por essa razão, temos a opção de reclamar com o restaurante, seja em pessoa ou por meio de um aplicativo. Foi esse direito que uma enfermeira de 35 anos exerceu. No entanto, ela acabou sendo ameaçada pelos donos da hamburgueria em que ela relatou ter propaganda enganosa.

A hamburgueria, localizada em São Vicente, no litoral de São Paulo, deveria ter enviado uma lata de 350 ml, como constava na fotografia presente no cardápio. Contudo, a mulher, que preferiu manter seu anonimato, recebeu uma garrafinha de 200 ml, o que motivou a reclamação. Então, a proprietária do estabelecimento disse que houve um mal-entendido.

Assim sendo, a cliente contou que pediu um combo de x-burguer, onion rings, batata frita e refrigerante. Vale destacar que na descrição do produto, não constava o volume da bebida. Porém, na imagem utilizada, havia uma lata de 350 ml. Além disso, a cliente contou que pagou R$ 9,98 no lanche que custaria R$ 18,99, uma vez que usou um cupom na compra por aplicativo.

Desse modo, ao receber o pedido, a enfermeira se sentiu enganada pela hamburgueria e entrou em contato com a plataforma que faz as entregas para relatar o ocorrido. “Quando você recebe o pedido tem a opção de dizer se veio algo errado ou faltando, e eu reportei que o refrigerante veio errado”.

Portanto, a plataforma cancelou o pedido e estronou o valor pago. O caso deveria ter se encerrado ali, mas, pouco tempo depois, e sem perceber qual foi o desfecho, ela foi surpreendida com a visita de dois funcionários do estabelecimento.

“Nem tinha visto o cancelamento até tocarem a minha campainha. Vieram até a minha porta, pedi para o meu marido descer, pois achei que tinham vindo trazer o refrigerante certo, [mas] ele foi surpreendido com uma abordagem de intimidação, chegaram falando que cancelamos na maldade”, disse.

A enfermeira conta que a abordagem foi hostil ao ponto de um dos homens questionar se eles não sabiam ler, pois no cardápio estaria a informação de que a imagem era ilustrativa. Nesse momento, o marido da cliente mostrou um print da tela ao homem, para afirmar que houve propaganda enganosa. “Aí surgiu outro homem por trás do muro. Foi quando eu fiquei assustada e pedi para meu marido encerrar a conversa e subir”.

Ameaças

O problema também não se encerrou com a intimidação, em que a cliente foi chamada de “golpista” e “morta de fome” em frente de sua casa. Isso porque ela pegou seu celular e viu que a empresa de delivery havia estornado o valor da compra. Além disso, ela observou que uma rede social da hamburgueira havia enviado uma mensagem pelo Instagram.

Arquivo pessoal

Ao ver a mensagem, a enfermeira encontrou um perfil da responsável pela hamburgueria, visto que toda aquela situação poderia ser de ação de um gerente. “Mandei mensagem [para a dona], pois achei que eram os funcionários agindo dessa maneira, não me pareceu coisa que um proprietário sério faria. Relatei a conduta errada e me ofereci a reembolsá-la por PIX, mas ela me surpreendeu. Disse estar ciente e de acordo com a postura deles”.

“Sim, são meus sócios e foram com razão. Estou sabendo de cada detalhe. Foi gravado”, respondeu a proprietária da hamburgueria em uma das mensagens enviadas para a cliente.

Em seguida, a enfermeira questionou se a mulher realmente achou que os homens estavam certos. “Sim, com razão. Foram saber o que aconteceu, já que não podemos chamar no chat. Não tivemos nem essa oportunidade”, respondeu a mulher.

Além disso, em outra mensagem, a dona do estabelecimento afirmou que, conhecedora do endereço da cliente, iria com uma viatura da polícia até o local. “Eu não preciso te ameaçar com nada. Quem deve não sou eu”.

Arquivo pessoal

Depois de todo o transtorno, a enfermeira reportou à plataforma de delivery, que ainda mantém ativa a conta da hamburgueria. “Nas redes sociais, primeiro mudaram o nome do estabelecimento, agora excluíram a página. Porém, em todos os comentários onde repercutiu [a história], eles mostram essa mesma atitude grosseira, e pior, continuam dizendo que dei um golpe neles”.

“No primeiro momento meu sentimento foi de medo. Nesse mundo violento, dois homens virem na sua porta com a postura que eles vieram causaria pânico em qualquer um. Agora estou revoltada, pois com todas as provas eles continuam dizendo que apliquei um golpe. Me parece que muitos estabelecimentos levam golpes desse tipo, de enviar o produto, o cliente reclamar sem motivo e a plataforma reembolsar o cliente, porém não foi meu caso”.

Ela ressalta que recebeu o pedido errado, visto que havia propaganda enganosa, e a intenção não foi o cancelamento. “Não quero meu nome vinculado a um golpe. Eu sou trabalhadora e honesta, não quero ser difamada como golpista. Peço todos os dias e nunca tive problema assim. Na maioria das vezes peço dos mesmos lugares”.

O caso foi registrado como injúria na Delegacia Eletrônica e encaminhado ao 2º DP de São Vicente.

Nota da hamburgueria

A proprietária da The Lounge Burguer emitiu uma nota em que disse que houve um mal-entendido. “Como o pedido dela foi cancelado dizendo que foi incompleto/errado, e a plataforma não nos dá suporte para entrar em contato com o cliente depois do pedido ser finalizado, meus sócios foram pessoalmente saber o que houve com o pedido para saber se faltou algo e resolver, pois deu [apareceu] para a gente como ‘incompleto’ [o motivo do cancelamento].”

Além disso, ela afirma que não foram “cobrar o valor retido”. “Somos um comércio novo e sério. Não deixamos clientes insatisfeitos, porém se sentiram ameaçados”.

De acordo com a empresária, por conta do número de golpes que os estabelecimentos levam nas plataformas, não teria como descartar essa possibilidade. No entanto, ela afirmou que não acusou a cliente e entendeu o motivo, ainda que sem concordar.

“Após meus sócios saírem da casa da cliente, eu e ela entramos em discussão no privado das redes sociais. Não aceitei que ela pagasse via PIX, pois não fomos cobrar ela, e sim saber do ocorrido e resolver da melhor maneira”, disse a proprietária da hamburgueria.

“Ela continua nos difamando nas redes sociais, xingando a gente de bandidos, maloqueiros, entre outros [termos] piores. Estou sendo ameaçada por comentários, por pessoas que não sabem os dois lados da história. Ela disse que ia parar de postar, mas continua postando meus dados pessoais”, disse a empresária.

Arquivo pessoal

Fonte: G1