História

O que aconteceu com a jornalista branca que decidiu viver como negra durante um ano?

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Em 1968, Martin Luther King Jr., líder do movimento por direitos civis nos Estados Unidos, foi assassinado na sacada de um hotel. Desse modo, sua morte comoveu a todos, mas para a jornalista Grace Halsell, esse momento teve um impacto especial em sua vida. Isso porque, depois do ocorrido, a jornalista branca decidiu viver como negra durante um ano.

No dia 4 de abril de 1968, após descobrir sobre a morte de Luther King, Halsell resolveu sentir na pele as dificuldades da população afro-americana, que faziam parte da luta do ativista. Para isso, ela começou um projeto bastante arriscado.

Ela tomou medicamentos para escurecer sua pele

Na época, Grace Halsell trabalhava em Washington, no gabinete do então presidente Lyndon Baines Johnson. No entanto, aos 45 anos, a garota de pele clara e olhos azuis decidiu ir para o Texas, seu estado natal. “Minha primeira reação foi ‘não há mais esperança. Nós vamos falhar como povo e nação'”, afirmou Halsell no livro “Soul Sister” (“Irmã de Alma”, em tradução livre), publicado em 1969 e que fala da sua experiência como mulher negra. “Então gradualmente percebi que cada um de nós deveria tentar alcançar seu sonho de uma América única e me lembro de me fortalecer com o pensamento de que é possível matar uma pessoa, mas não uma ideia”, completou.

A ideia de realizar uma mudança tão drástica veio de John Howard Griffin, autor de “Black Like Me” (“Negro Como Eu”, em tradução livre), publicado em 1961. No livro, Griffin conta que viajou como um homem negro por semanas no sul dos Estados Unidos. Isso aconteceu quando as leis de segregação ainda estavam em vigor. Sendo assim, ela se encontrou com o autor do livro e recebeu as orientações necessárias para começar sua jornada.

Bem como Griffin, Halsell tomou medicamentos para vitiligo, uma doença que causa a diminuição ou despigmentação de melanina em determinadas áreas. Nesse sentido, as pílulas “potencializariam” a exposição ao sol. Com isso, a jornalista iria adquirindo aos poucos um tom de pele mais escuro. Além disso, a jornalista também usou lentes de contato para esconder a cor dos olhos. Em uma viagem a Porto Rico, Halsell percebeu que havia “se tornado negra” ao comparar seu tom de pele ao de um dos médicos. “Para ter certeza, coloquei o meu braço junto ao dele. Ele é negro, mas eu estava mais escura”, afirma Halsell.

Halsell interrompeu o projeto por medidas de segurança

Para começar o experimento, Halsell decidiu ir para o Harlem com apenas US$ 20 no bolso. Dito isso, a jornalista tinha medo do bairro, mas logo acabou mudando de opinião. Em suas próprias palavras, aquele lugar não era o inferno que havia imaginado. Esse era um pensamento estereotipado. Com isso, sem grandes mudanças, ela decidiu seguir para o Mississipi, no sul do país. Em pouco tempo, Halsell passou a trabalhar como empregada doméstica na casa de uma família branca.

Na casa dessa família, Halsell passou por um de seus piores momentos. Um dia, um homem branco tentou estuprá-la, mas ela conseguiu escapar quando quebrou um retrato na cabeça dele. Depois disso, Halsell interrompeu a experiência, mesmo faltando apenas alguns meses para completar um ano.

Mesmo tendo sido uma experiência única para Halsell, o livro não foi bem aceito por muitos negros. De acordo com o historiador Robin Kelley, “Soul Sister é em muitas formas um livro irritante, mas também muito poderoso dependendo da parte que você lê”. Em muitos momentos do livro, Halsell cita James Baldwin, e é aí que percebemos que ela não se tornou e nunca poderia ser negra de verdade. “Baldwin nos ensinou que não precisamos ser como os outros para construir solidariedade. E ela fala algo parecido com isso, sobre encontrar o que havia de diferente e entender como as pessoas sofrem, sair de dentro de nós mesmos. É por isso que ela fez o experimento, não porque queria ser uma mulher negra”, afirma Kelley.

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