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Portugal tem medo que Brasil perca ou estrague o coração de Dom Pedro I

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Após pedir o coração de Dom Pedro I emprestado para as festas dos 200 anos da Independência, o governo brasileiro criou um constrangimento entre os guardiões da relíquia em Portugal.

O coração de Dom Pedro I — ou Dom Pedro IV, para os portugueses — é um dos maiores orgulhos do Porto. Existe até mesmo um monumento em homenagem ao ex-imperador do Brasil na praça da Liberdade, na avenida dos Aliados. O objeto está guardado na Irmandade de Nossa Senhora da Lapa.

Dom Pedro I e a cidade de Invicta

Foto: Lira Neto/UOL

Dom Pedro se tornou ícone da liberdade ao comandar a vitória dos liberais contra os absolutistas (liderados pelo irmão Dom Miguel) em uma guerra civil ocorrida entre 1832 e 1834. Na época, o Porto ficou ao lado de Dom Pedro e depois de 13 meses venceu a batalha. Por causa disso, a cidade intitula-se “invicta”.

Em agradecimento à luta dessa população, Dom Pedro disse no testamento que desejava que seu coração ficasse guardado na cidade. Apenas os ossos deveriam ser encaminhados ao Brasil, o que ocorreria apenas em 1972, por ocasião dos 150 anos da Independência. 

Mesmo que o ex-imperador não houvesse mencionado a Igreja da Lapa como lugar para guardar o coração, o local foi escolhido a pedido da filha, a rainha de Portugal, Dona Maria, já que era naquela igreja que assistia às missas militares.

Por causa dessa história afetiva, é compreensível o temor das autoridades portuguesas de que o Brasil perca o coração de Dom Pedro I.

“Entendo o simbolismo, foi Dom Pedro quem proclamou a independência do Brasil. Mas é um governo que deixa incendiar o Museu Nacional, a Cinemateca, que não cuida dos seus bens mais preciosos, deixa detonar tudo”, explica o cineasta português Miguel Gonçalves Mendes.

O tesouro do Porto 

Foto: Reprodução

O diretor do premiado filme “José e Pilar”, Mendes, foi a última pessoa a filmar e fotografar o coração de Dom Pedro 1º, em 2015, durante as gravações de “O Sentido da Vida”, filme e série produzidos em parceria com a brasileira O2 Filmes. 

A obra, com previsão de estreia para 2023, acompanha um brasileiro que dá uma volta ao mundo para percorrer a rota dos navegadores portugueses que, no século 16, disseminaram a paramiloidose familiar, da qual é portador. A doença provoca perda da sensibilidade dos pés e das pernas, numa progressão que leva à morte em cerca de 10 anos depois dos primeiros sintomas. Giovane Brisotto, o jovem do filme, faleceu em 2018, aos 31 anos.

Na época, Mendes conseguiu autorização da Câmara Municipal para abrir o cofre onde o órgão de Dom Pedro 1º está armazenado a cinco chaves. Ele desejava gravar Giovane olhando o coração. O presidente da Câmara, Rui Moreira (que ainda está no cargo), participou das filmagens, liderando uma cerimônia para celebrar a liberdade. “O coração de Dom Pedro é o maior tesouro do Porto”, disse o presidente, na gravação. 

Coração de Dom Pedro I no Brasil

Foto: Reprodução

A diretora de “A viagem de Pedro”, a brasileira Laís Bodanzky, que esteve recentemente na igreja da Lapa, no Porto, escutou os cientistas responsáveis pela preservação do coração dizendo que se o tesouro for enviado para o Brasil poderá deixar de existir.

É um órgão muito frágil, que está isolado da luz e do manuseio. É como se fosse um pedaço de pão embebido em um líquido. A qualquer movimento, desmancha-se”, disse Bodanzky, que classifica o pedido de empréstimo como uma “farsa”. 

“Não faz sentido”, diz a cineasta, que mergulhou na vida de Dom Pedro I para produzir o filme, que foca no retorno do ex-imperador para Portugal. “Primeiro pela questão física. Segundo porque o coração está no Porto por um pedido do próprio”, afirma. 

Para Bodanzky, trata-se de situação contrária à ocorrida em 1972, quando os ossos do governante foram transferidos para o Brasil. “Era preciso que isso acontecesse para atender ao pedido de Dom Pedro I”. 

Conversa entre o Itamaraty e o Invicta

Foto: Reprodução

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirmou ao TAB que o “Itamaraty iniciou conversações com autoridades portuguesas para examinar a possibilidade de traslado temporário do coração de Dom Pedro 1º ao Brasil, no contexto das celebrações do bicentenário da Independência”. 

O órgão ainda informou que as “conversações encontram-se em andamento” com a Câmara e a Irmandade de Nossa Senhora da Lapa. No entanto, não divulgou quais são os planos para o coração.

Mesmo com o pedido oficial, o assunto não se tornou pauta dos políticos da Invicta. “Essa discussão não existiu no contexto dos órgãos autárquicos”, declarou ao TAB, Susana Constante Pereira, deputada do partido Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal do Porto.

Em uma rara manifestação sobre o assunto para a imprensa portuguesa, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, afirmou que não tem pressa para tratar o assunto.

Fonte: TAB

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