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Vampirismo: a doença que matou centenas de pessoas no século 18

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Pela definição do dicionário, o vampirismo é “a conduta de alguém que age como um vampiro”. Já no imaginário popular, pode significar ressuscitar mortos, vagar à noite com uma capa preta, utilizar caninos longos e afiados para morder o pescoço das vítimas e sugar seu sangue.

Atualmente, os vampiros são encontrados apenas em obras de ficção, como livros, filmes e séries de televisão. No entanto, quando o termo surgiu, o cenário era bem diferente.

A origem do termo vampirismo

Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mesmo que desde os tempos mais remotos, divindades, bruxas, fantasmas e outros demônios que sugavam o sangue humano tenham feito parte do imaginário da maioria das culturas, diversas fontes afirmam que a palavra “vampiro” foi escrita pela primeira vez em 1725, no relatório de um médico do exército do Sacro Império Romano-Germânico.

Depois da vitória contra o Império Otomano em Petrovaradin (1716) e o Cerco de Belgrado (1717), que levaram à assinatura do Tratado de Passarowitz, a Áustria anexou extensões da Sérvia ao seu território.

Quando chegaram às terras dos povos eslavos, os austríacos se depararam com histórias sobre essas estranhas criaturas, que eram desconhecidas para o povo da Áustria.

O relatório

Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No intervalo de oito dias, nove pessoas morreram na cidade de Kisilova, depois de terem recebido a visita noturna de um homem chamado Petar Blagojević, que teria mordido as vítimas e chupado seu sangue. O problema é que o homem estava morto e havia sido enterrado há dez semanas.

Os moradores pediram permissão para exumar o corpo e o superintendente austríaco Frombold acompanhou o procedimento. No relatório que enviou para Viena, o que continha a palavra vampiro, ele descreveu que:

“O rosto, as mãos e os pés, e todo o corpo estavam tão bem constituídos, que não poderiam ter estado mais completos em sua vida. Com espanto, vi um pouco de sangue fresco em sua boca, que – de acordo com os relatos – havia sido sugado das pessoas mortas por ele… assim, ao ser perfurado, um monte de sangue, completamente fresco, também jorrou de seus ouvidos e boca, e aconteceram outras manifestações que não descrevo por respeito.”

Como era uma tradição da região, eles cravaram uma estaca no coração do cadáver e cremaram o corpo.

Uma “epidemia” de vampiros

Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Após um jornal em Viena publicar o caso, o fenômeno se espalhou pela região. Depois disso, em poucos dias, o vampirismo se tornou uma epidemia na Europa Oriental.

O imperador enviou cirurgiões militares para realizar autópsias e investigar o que estava acontecendo. Esses especialistas notaram que os casos eram consistentes. Após isso, pesquisadores da área médica publicaram dezenas de artigos e livros sobre o assunto.

O vampirismo se tornou uma condição reconhecida, testemunhada por diversas pessoas e apresentava sinais e sintomas característicos, como cadáveres com sangue fresco correndo em suas veias e vísceras, sangue ao redor da boca, pele rosada e corpos volumosos.

Era da Razão

Voltaire (Foto: Getty Images / BBC News Brasil)

O vampiro ocidental surgiu durante a Era da Razão. O século 18, conhecido como “Século das Luzes”, foi palco do Iluminismo, movimento que defendia a utilização da luz da razão contra as trevas da ignorância. Nesse contexto, os vampiros geraram ainda mais embates na Europa.

Teólogos alegavam que os vampiros eram seres físicos que provavam a existência de uma vida após a morte. Em contrapartida, os filósofos se preocupavam com o fato de que evidências disseminadas lançassem dúvidas sobre o valor do testemunho e de testemunhas oculares.

Até mesmo o filósofo francês Voltaire se manifestou sobre o assunto, quando em 1764, questionou: “O quê?! Em pleno século 18 existem vampiros?

Voltaire acrescentou que os vampiros são cadáveres que deixam seus túmulos à noite para chupar o sangue dos vivos. “Enquanto as vítimas empalidecem e são consumidas, os cadáveres que sugam o sangue ganham peso, ficam rosados e desfrutam de um excelente apetite.”

O filósofo comenta que a Polônia, a Hungria, a Silésia, a Morávia, a Áustria e Lorena são os locais em que os mortos mais se divertem, mas que a palavra “vampiro” nunca havia sido ouvida em Londres ou Paris.

“Admito que nas duas cidades há corretores da bolsa e homens de negócios que sugam o sangue das pessoas em plena luz do dia; mas, embora corrompidas, não estão mortas. Esses verdadeiros vampiros não vivem em cemitérios, mas em palácios.”

O que estava acontecendo?

Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas como explicar a epidemia de uma doença que não existe? Alguns pesquisadores atribuem o fenômeno a traumas e decepções, outros à alimentação, ao uso acidental de drogas que causam alucinações e a doenças altamente contagiosas.

Outras teorias apontam que a presença de substâncias químicas incomuns na terra afetava a decomposição dos corpos. Isso porque algumas características descritas pelos médicos da época podiam estar ligadas à decomposição.

É importante destacar que na época não era comum observar o processo de putrefação dos corpos, já que eram fonte de contaminação. Atualmente, sabemos que a rigidez cadavérica passa, e por isso a flexibilidade de muitos “vampiros” surpreendia a quem os desenterrava.

Em alguns cadáveres, o sangue coagula, mas se liquefaz novamente. Isso porque os gases no abdômen aumentam a pressão à medida que o estado de putrefação avança, forçando os pulmões para cima, o que pode acabar expulsando o tecido em decomposição da boca e narinas.

Também vale ressaltar que o inchaço provocado pelos gases bacterianos após a morte explica porque os corpos parecem roliços e saudáveis, assim como os gemidos que alguns mortos soltavam quando as estacas eram colocadas em seu coração ou estômago.

Fonte: G1

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