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Drogas psicodélicas podem tratar depressão

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A depressão afeta cerca de 5,8% da população brasileira, totalizando em 11,5 milhões de casos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Esse índice é o maior da América Latina e o segundo maior das Américas, perdendo apenas para os Estados Unidos, que registram 5,9% da população com depressão. No entanto, apenas 30% das pessoas reagem ao tratamento com drogas como antidepressivos.

Esse cenário é assustador, podendo ocorrer por conta das diferenças biológicas entre os pacientes com depressão. Além disso, em muitos casos, a reação às drogas pode demorar tempo demais, levando à desistência do tratamento. Por essa razão, a medicina vem enfrentando o desafio de ampliar as drogas disponíveis para tratar pessoas com o transtorno.

Dessa forma, nos últimos anos, a atenção se voltou para os psicodélicos, como a psilocibina. Vale destacar que esse é o composto presente nos famosos “cogumelos mágicos”.

Uma série de exames clínicos já demonstrou que a psilocibina pode tratar a depressão de forma rápida, incluindo em casos de pacientes diagnosticados com câncer, mas pouco se sabe sobre como essa substância age no cérebro de fato.

Drogas psicodélicas ajudam a tratar a depressão rapidamente

drogas - cogumelos mágicos

Getty Images

Sendo assim, dois estudos publicados recentemente nas revistas científicas The New England Journal of Medicine e na Nature Medicine já deram um pouco de luz sobre o processo misterioso das drogas psicodélicas.

A psilocibina é um alucinógeno que é capaz de alterar a reação do cérebro à seratonina. Quando a psilocibina é decomposta pelo fígado, se tornando psilocina, ela causa um estado alterado de consciência e percepção.

Assim, estudos que usaram imagens por ressonância magnética funcional (RMF) do cérebro mostraram que a psilocibina reduz a atividade do córtex pré-frontal. Essa área é responsável por regular uma série de funções, como a atenção, controle da inibição, os hábitos e a memória.

Além disso, o composto presente em drogas psicodélicas reduz as conexões entre essa região e o córtex cingulado posterior, que pode participar da regulagem da memória e das emoções.

Então, a conexão ativa entre as duas regiões é o que caracteriza uma “rede de modo padrão” do cérebro, ficando ativa quando repousamos e nos concentramos. Isso ocorre quando relembramos o passado, imaginamos o futuro ou quando estamos pensando sobre nós mesmos ou outras pessoas.

Portanto, ao reduzir a atividade dessa rede, a psilocibina remove as inibições do “eu” interno. Com isso, usuários relataram ter ficado com a “mente aberta” e ter aumentado a percepção do mundo ao seu redor.

A depressão

A ruminação mental, ou o estado de ficar “preso” remoendo pensamentos negativos, principalmente sobre si, é um sintoma da depressão. Além disso, pessoas com níveis mais altos de ruminação negativa tendem a exibir maior atividade da rede de modo padrão, ou RMP, do inglês Default Mode Network. Elas passam a reagir menos ao mundo à sua volta, basicamente.

A evidência mais convivente de que a psilocibina trata a depressão vem de um estudo aleatorizado duplo-cego, que é o padrão-ouro dos estudos clínicos. Dessa forma, nesse estudo, comparou-se um grupo de pessoas com depressão em tratamento com psilocibina e outro com o antidepressivo escitalopram.

Usaram imagens de RMF do cérebro e os resultados foram comparados, sendo que, apenas um dia depois da primeira dose de psilocibina, as medições de RMF já revelaram aumento da conectividade entre as redes cerebrais. Já a rede de modo padrão foi reduzida.

Enquanto isso, o cérebro das pessoas que tomaram o antidepressivo escitalopram não exibiu alteração de conectividade entre o modo padrão e as outras redes cerebrais seis semanas após o início do tratamento. Pode ser que o medicamento mostre resultados tardios, mas as redes do grupo da psilocibina mostraram melhoras significativas dos sintomas seis meses depois. Isso pode indicar que as drogas psicodélicas sejam ideais para as pessoas que não reagem aos antidepressivos já existentes.

Esses estudos ainda estão em seus estágios iniciais. No entanto, já são incrivelmente promissores e podem significar um aumento de opções de tratamento para o transtorno mental cada vez mais presente.

Fonte: BBC

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