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Exposição artística narra o poder desconhecido das roupas velhas

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Ao mesmo tempo, as roupas possuem um significado simples e um significado complexo. Ao passo em que podem ser vistas como meras coberturas da nudez, também evocam memórias, principalmente de quem nos deixou.

Por isso, visitar a Hayward Gallery em Londres é ter acesso a estes dois caminhos. Lá, está em cartaz a exposição Louise Bourgois: The Woven Child. Nela, o visitante aprecia as criações das duas últimas décadas de vida de uma das maiores artistas plásticas de todos os tempos. Sendo assim, entre as principais atrações, destacamos a Cell VII, que escancara o poder das roupas antigas na construção de memórias.

Fonte: Robert Mapplethorpe

Cell VII

A princípio, lembremos que a palavra cell, em português, significa célula. Portanto, ao entrar na galeria, você verá que ela tem divisões em salinhas fechadas.

Em seguida, ao abrir a portinha da Cell VII, dificilmente você sentirá uma energia positiva, ainda mais depois de ler este post. Isso porque a instalação contempla uma das obras mais melancólicas da artista plástica Louise Bourgois.

Basicamente, o cômodo é composto por móveis velhos, vidros quebrados, e principalmente, roupas antigas. Essas se penduram em cabides amarelos de idades avançadas e contam a história de vida da autora através do tecido. Por meio das peças, a autora expõe momentos e pessoas importantes na vida dela.

Em maioria, os trajes íntimos são de Jósephine, mãe de Louise. Ela morreu quando a artista tinha apenas 22 anos, mas durante o pouco tempo de convivência, forneceu muita proteção a ela. Inclusive, nas obras de Louise, notamos a presença de uma aranha metálica, uma metáfora que representa sua figura materna.

O aracnídeo também está no quartinho da exposição, e assim como ele, Jósephine também era uma tecelã. Logo, o apreço de Louise por tecidos vem de berço, e em 1998, ele desabrochou através da montagem da Cell VII.

Fonte: Daniela Paoliello / Itaú Cultural / Divulgação

Mesmo leves, as roupas pesam. Quem entra no cômodo sente a saudade alojada no peito da artista. Além disso, o visitante entende os impactos que nossas vestimentas têm no armazenamento de memórias.

O “peso” das roupas

Ao mesmo tempo em que são banais, as roupas carregam nossa história. São elas que nos acompanham do começo ao fim de um dia (a depender da quantidade de banhos que você toma no dia). Dessa forma, usar os trajes em uma arte expressa a relação íntima com quem a inspira.

A propósito, de certa forma, a obra de Louise começou em 1968. Em uma nota, ela descreveu que gostava de segurar firme suas roupas e suas meias. Porém, 33 anos depois, a questão mudou de figura. Agora, as vestimentas lembravam fracassos, rejeições e abandonos.

Nesse sentido, a Cell VII foi uma forma que a artista encontrou para deixar ir esses materiais que já representavam um fardo pesado em sua vida. Afinal, junto com as memórias positivas com sua mãe, vêm também as recordações negativas com seu pai. Este chegou ao ponto de morar com a amante dentro da casa de Jósephine.

Outras apropriações artísticas das roupas

Definitivamente, Louise não foi a única artista a utilizar recordações de tecido como matéria-prima de sua arte. Em 2016, o artista ganense Serge Attukwei Clottey deu à luz um projeto com nome My Mother’s Wardrobe. Sendo assim, dois anos após a morte de sua mãe, ele e outros homens saíram pelas ruas de Acra com as vestimentas de suas respectivas progenitoras.

Fonte: Nii Odzenma/ Gallery 1957

Além do valor afetivo, o movimento se mostrou como um posicionamento dentro da cultura do país. Por lá, quando uma mãe morre, seus bens são divididos entre as descendentes femininas da família. Uma vez que Serge era filho único, o gesto serviu para reivindicar essa herança para ele.

Seja em Gana, seja na Inglaterra ou em qualquer lugar no mundo, as roupas possuem um valor que vai muito além da inibição da nudez. Elas andam conosco durante toda a vida, e quando partimos para outro plano, nossas vestimentas ficam por aí gerando memórias em quem sente falta de nossa companhia.

Fonte: BBC.

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