Mundo Animal

Extintas há mais de 20 anos, ararinhas-azuis são soltas no sertão baiano

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O mundo natural tem um enorme valor. Algo, de fato, inestimável. Por isso que toda ação da humanidade causa um grande impacto na possibilidade de preservá-lo ou destruí-lo. Nesse sentido, a lista de animais ameaçados cresce a cada ano. Contudo, alguns animais acabam surpreendendo pesquisadores e conseguem sair dessa triste lista, como foi o caso dessas ararinhas-azuis, Cyanopsitta spixii, que foram libertas no último sábado.

As ararinhas foram soltas em Curaçá, no sertão baiano. O local foi escolhido porque a cidade que fica no norte do estado é o habitat natural da espécie considerada extinta há 22 anos.

Essa soltura das aves é uma das etapas do Plano de ação Ararinha-Azul, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), em parceria com a ONG ACTP e instituições privadas que apoiaram o projeto.

Soltura

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Embora seja um momento histórico, a soltura das ararinhas foi restrita a pesquisadores que estavam envolvidos no projeto e a representantes do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e da Prefeitura de Curaçá.

Das oito ararinhas soltas, cinco são fêmeas e três machos. Todas elas nasceram e foram criadas em um viveiro mantido pela ONG alemã Association for the Conservation of Threatend Parrots (ACTP). Essa ONG é especializada em cuidar de papagaios ameaçados.

Junto com as ararinhas-azuis, também foram soltas oito araras maracanãs. Dentro do viveiro, essas araras tiveram a missão de “ensinar” as ararinhas-azuis para que elas conseguissem sobreviver quando fossem soltas na natureza,

“As maracanãs ensinaram às ararinhas como faz a apreensão dos alimentos e essa interação do ambiente que elas estão ao redor. Por exemplo, as maracanãs de fora começaram a habitar o recinto onde as ararinhas estavam em grupo e isso ajudou bastante na readaptação delas. Inclusive, a se adaptar com os itens alimentares que elas vão encontrar aqui na caatinga”, explicou Camile Lugarine, analista ambiental e coordenadora executiva do Plano de Ação Nacional Para a Conservação da Ararinha-Azul.

Ararinhas-azuis

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Mesmo sendo soltas na natureza, os pesquisadores irão monitorar essas aves através de um rádio colar instalado em todas as ararinhas. Além desse monitoramento, a área onde elas devem circular também será monitorada constantemente.

Embora essa tenha sido a primeira soltura, ela não será a única. Uma outra está programada para acontecer em dezembro desse ano. Nela, 12 ararinhas-azuis que vivem na Unidade de Conservação em Curaçá devem voltar para a natureza. Até esse momento, os pesquisadores esperam ter bons resultados dessa primeira soltura.

E não para por aí. O projeto prevê a soltura de mais ararinhas-azuis em Curaçá nos próximos 20 anos.

Da extinção ao retorno

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As araras-azuis eram endêmicas de Curaçá, no entanto, a última foi vista zona rural da cidade há mais de 20 anos. Ela estava junto com uma fêmea de outra espécie, a arara Maracanã. Mas depois desse avistamento, ela sumiu.

Ninguém sabe com certeza o que aconteceu com a última ararinha-azul que foi vista em Curaçá. Contudo, os pesquisadores culpam a extinção da espécie, principalmente, por conta do tráfico de animais, e a destruição de parte do bioma da Caatinga.

Entretanto, desde 2009, pesquisadores e ambientalistas trabalham no projeto de reintrodução das ararinhas na natureza. Por conta disso, em 2012, foi criado o Plano de Ação para Conservação da Ararinha-Azul (PAN), que tem a soltura delas novamente em seu habitat de origem como objetivo.

“É um ato simbólico que representa muita coisa. Representa um progresso muito grande de conservação, que a gente acredita que a gente pode recuperar as espécies em extinção e a ararinha-azul, ela representa isso. Esse projeto representa o que a gente, biólogo, e os amantes da natureza fazem em prol da conservação, que a gente faz isso com paixão, isso é o mais gratificante”, disse Eduardo Araújo Barbosa, coordenador do PAN Ararinha-Azul (ICMBio).

O começo do trabalho foi o rastreamento das últimas ararinhas-azuis que existiam no mundo. Todas elas estavam vivendo em cativeiros, sendo a maior parte deles no Catar.

Então, mais de 100 aves foram resgatadas e levadas para o viveiro da ONG alemã ACTP. Lá, as ararinhas passaram por uma reprodução natural e artificial para que algumas pudessem ser trazidas para o Brasil. Atualmente, existem um pouco mais de 200 ararinhas-azuis no mundo. Agora, a maior parte delas está na Alemanha.

“Foi desafiadora a questão genética. Pelo baixo número de indivíduos, normalmente, eles são parentes, e a população precisa de variabilidade genética, e os casais, às vezes, não têm afinidade. Então, a gente precisou lançar muito de um recurso que é a inseminação artificial, que permitiu para a gente parear animais, do ponto de vista artificialmente falando, para reprodução. E foi o que permitiu prosperar essa população em cativeiro”, explicou Eduardo.

Volta ao Brasil

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Depois de um acordo de Cooperação Técnica entre ICMBio, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), e a ONG alemã ACTP, mais de 50 ararinhas-azuis vieram para o nosso país, em 2020.

Chegando aqui, elas foram levadas direto para um centro de reprodução que foi construído em uma área isolada na zona rural de Curaçá. Lá, em março do ano passado, nasceram filhotes da espécie.

Para que as aves estivessem protegidas na natureza, criou-se uma Área de Proteção Ambiental (APA) de 90 mil hectares e um Refúgio de Vida Silvestre da ararinha-azul, com 30 mil hectares.

Ainda antes da soltura, uma força-tarefa foi feita para preparar o perímetro que deve ser ocupado pelas aves. Nela, árvores com possíveis riscos de predadores receberam marcações, e outras receberam alimentadores, que vão ser abastecidos pelos pesquisadores para garantir a nutrição das ararinhas.

A soltura foi feita no modelo “soft release”. Ou seja, as portas do viveiro onde elas estavam foram abertas e elas podem sair e voltar quando quiserem.

“Os alimentadores ficam bem perto de onde elas vão ser soltas porque a nossa intenção é que elas ocupem aquele sítio porque é mais fácil de monitorá-las, e, além disso, a independência delas do ser humano vai ser gradual. Quanto mais longe elas forem, mais fácil de serem predadas ou pegas por alguém. Então, quanto mais perto do recinto de soltura elas ficarem, melhor”, explicou Camile Lugarine.

Por terem vivido em cativeiro a vida toda, a adaptação dessas ararinhas deve durar entre seis meses a um ano. Elas conseguirão ser independentes aos poucos com a ajuda humana.

“A volta da ararinha-azul ao céu do sertão baiano é um sinal de esperança e recomeço para os pesquisadores e toda a comunidade da região, pois a conservação da espécie ajuda a proteger a fauna e flora da caatinga, além de todos os outros serviços ambientais associados”, concluiu Ugo Vercilo, biólogo que participou das etapas do projeto de reintrodução e, hoje, diretor-técnico da BlueSky Caatinga, empresa parceira da ação.

Fonte: G1

Imagens: G1

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