“Construir o próprio túmulo” está deixando de ser somente um ditado para definir quem faz alguma besteira. Em Pernambuco, um homem de 36 anos já construiu o jazigo em que ele irá descansar eternamente. Quando isso vai acontecer? Nem ele sabe, mas já está tudo preparado para esse dia.
Por conta da preparação para lá de antecipada, o túmulo de Cleyton Melo de Souza ganhou fama em Vila Mendes, um distrito com 7 mil pessoas da cidade de Limoeiro, no interior pernambucano.
Ideias pandêmicas
De início, pode parecer que Cleyton está de mal com a vida e já pensa na despedida. No entanto, ele está bem tranquilo quanto à situação atual de sua jornada na Terra. Além de estar bem de saúde, o comerciante toca uma padaria que herdou do cunhado, de onde tira o sustento de seus três filhos com idades de 6, 11 e 18 anos.
No começo de 2020, com a chegada da pandemia, muitas pessoas próximas ao comerciante partiram de forma repentina. Sendo assim, ele começou a pensar em como seriam os protocolos de quando o seu dia chegasse. A partir daí, ele decidiu que queria ser lembrado ainda em vida, ou seja, não seria apenas mais um morto no cemitério do distrito.
“Eu ia ao cemitério para acompanhar enterros e ficava pensando nas pessoas que estavam lá, num cantinho, e ninguém via. Eram homenagens discretas. Aí, fiz a minha tumba para ver as pessoas me homenageando de verdade”, relata Cleyton ao G1.
Dessa forma, ele decidiu investir pesado na construção de um túmulo com uma sofisticação um pouco maior. Em geral, não estamos vivos para opinar em como queremos a decoração do nosso espaço de descanso, mas esse não é o caso do comerciante.
Ao todo, ele gastou 3.500 reais com o terreno, o material e a mão de obra. Além disso, Cleyton precisou convencer o administrador do cemitério a deixá-lo erguer o próprio túmulo no local. De certa forma, essa última parte não foi tão difícil: “Fui lá e falei com administrador, disse que ia fazer e ele deixou”.
Estrutura e repercussão
Basicamente, levou cerca de um ano para o comerciante concluir a obra, mas o tempo de espera valeu a pena. O jazigo tem um formato de capelinha, com espaço para dois caixões. Fora isso, no túmulo também existem duas fotos de Cleyton, todas coloridas, juntamente com espaço para colocar plantas e acender velas.
Todavia, o que mais chama a atenção é o que complementa a informação da data da morte do pernambucano. Bem abaixo da foto do homem, ao lado do ícone de cruz, está escrito: “em breve”. Segundo explica Cleyton, ele deixou essa lacuna com essa informação pois ele espera pela morte: “Pode ser daqui a cinco horas ou 50 anos”, conta ele.
A obra, com término em 2021, ganhou fama após uma pessoa que Cleyton não conhece ir ao cemitério e visitar o túmulo do comerciante. Em um vídeo que circula no WhatsApp, o cinegrafista narra o que vê: “Por favor, vê que visão isso aqui. Isso mesmo. Dá uma pausa no vídeo aí. Isso mesmo. O rapaz ainda está vivo e já fez a própria catacumba”.
Como resultado disso, o precavido pernambucano ganhou uma fama regional que logo se expandiu para o campo nacional. Em 2 de novembro de 2021, no Dia de Finados, ele recebeu a grata surpresa de saber que as pessoas estavam visitando a capelinha.
“Estava curioso para saber como seria. Fui lá e vi o pessoal colocando velas lá. E tinha muita vela, viu. Fiquei pouco tempo para as pessoas não ficarem brincando muito lá”, relata o comerciante.
Apesar de todo o sucesso do túmulo, ele ainda não conseguiu convencer sua esposa quanto à empreitada que ele fez para ela e para si: “Ela ficou meio brava. E eu ainda disse que ia colocar a foto dela também”.
Fonte: G1.