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Pastor diz que ‘mendigos têm o dever bíblico de passar fome’

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De todas as afirmações já feitas por líderes religiosos, segue sendo chocante algumas das falas que ainda circulam. Recentemente, um pastor virou assunto nas redes sociais ao defender que “mendigos têm o dever bíblico de passar fome”. O autor dessa frase é Marcos Granconato, líder da Igreja Batista Redenção, em São Paulo.

O pastor fez a afirmação sobre a população em situação de rua no Facebook, no domingo (1). Como resultado, a mensagem tem repercutido imensamente na última semana. Com isso, diversas pessoas se revoltaram e contestaram a posição do pastor Granconato.

“A maioria dos mendigos tem o dever bíblico de passar fome, pois Paulo diz aos tessalonicenses: ‘Se alguém não trabalha, que também não coma'”, escreveu ele. Vale destacar que o pastor limitou os comentários na publicação. “Então a maioria dos mendigos são vagabundos [sic] na sua visão? O senhor diz isso com base em quê?”, escreveu um homem.

Em resposta, o pastor disse: “Com base no que eu vejo nas ruas. Gente forte, saudável e jovem mendigando por aí! Quando vejo um doente, me compadeço. Mas quando olho para a maioria, percebo que é pura vagabundagem”. Além disso, o pastor disse que já ofereceu trabalho para “um monte de mendigos”.

“Perguntem se eles aceitaram”, escreveu ele, completando a afirmação com o Salmo 37.25. “Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.”

Internautas contestam afirmação de pastor

Reprodução

Não contente, o Graconato defendeu que “o pobre a gente ajuda. O vagabundo não” e contestou a afirmação de um fiel que defendia a existência de “pessoas forte fisicamente, mas doentes emocionalmente e que não têm autoestima suficiente ou equilíbrio mental para trabalhar”.

“O post diz “a maioria” e não todos. Concordo com você no caso de pessoas doentes. Física e mentalmente. Já a questão de autoestima, isso é coisa de vagabundo mesmo. Pra trabalhar não precisa de autoestima”, respondeu o pastor.

Em nota ao UOL, o pastor afirmou que “a consciência é regida pelas Sagradas Escrituras, às quais me apego, inclusive, como regra de vida”. Dessa forma, Graconato afirma defender o socorro a pobres e necessitados. Porém, ressalta que identifica um grupo nas escrituras bíblicas que devem receber um tratamento diferente destes. Esse grupo seria formado por aqueles chamados de “os que vivem desordenamente”.

“Eram pessoas saudáveis, jovens, capazes que, simplesmente, decidiram viver no ócio aproveitando-se de uma desculpa aparentemente justa (Cristo está voltando). A essas pessoas, o Apóstolo [Paulo] aplica um princípio perene: ‘Você não quer trabalhar, então também não deve comer’.”

“Isso seria assumir as consequências do estilo de vida que a pessoa mesmo escolheu para si e não existe maldade nenhuma em recusar ajuda a indivíduos assim. Pelo contrário, dar comida a essas pessoas seria premiar, incentivar e promover o ócio, o que é pecado”, afirma o pastor.

Pedintes não merecem socorro, segundo Graconato

O pastor adiciona que acredita que a maior parte dos pedintes que vê nas ruas nas grandes cidades não se encaixa nos perfis dos grupos que merecem ajuda. “Geralmente são pessoas jovens, fortes, inteligentes, saudáveis e capazes que, ao que parece, simplesmente optaram pela mendicância por considerar esse modo de vida, livre de trabalhos e responsabilidades, mais adequado aos seus interesses.”

“Não são os pobres que a Bíblia defende. Em vez disso, são ‘os que andam desordenadamente’ que Paulo tanto censura. A essas pessoas não devemos ajuda alguma”. Por fim, Graconato diz reconhecer “o dever santo e cristão de ajudar os pobres”, porém, que também existe o dever “santo, cristão e bíblico de não incentivar o ócio”.

População em situação de rua

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em uma pesquisa publicada em março de 2020, as estimativas do número total de pessoas em situação de rua no Brasil são de aproximadamente 221.869 pessoas.

Dessa forma, a pesquisa mostra uma realidade terrível em relação às políticas públicas destinadas às pessoas em situação de rua no Brasil. Se levarmos em conta que os dados são de março de 2020, momento em que a pandemia do coronavírus estava apenas começando em nosso país e que os anos subsequentes foram de profunda crise econômica, há de ressaltar que a realidade atual é ainda pior.

Por mais que seja difícil criar um perfil da pessoa sem teto, é possível traçar algumas características recorrentes de acordo com algumas respostas obtidas na Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Essa foi a primeira e última pesquisa realizada sobre o assunto no Brasil.

O perfil do morador de rua

Dessa forma, 35,5% relatam problemas com álcool ou drogas, 29,8% sofreram com desemprego, 29,1% tiveram desavenças com parentes e 5,6% tiveram outros motivos para estarem nas ruas. Já homens são maioria (82%), com 53% tendo entre 22 e 44 anos, 67% sendo pardos ou negros e 52,6% ganhando entre R$ 20 e R$ 80 por semana.

Em relação à escolaridade, 48,4% tem o 1º grau incompleto, 14,1% nunca estudou, 10,3% tem o 1º grau completo, 3,8% tem o 2º grau incompleto, 3,2% tem o 2º grau completo, 17,8% não informou, 0,7% tem superior incompleto e 0,7% tem superior completo.

Quanto ao trabalho, 70,9% exerce alguma atividade remunerada, como catador de lixo (27,5%), flanelinha (14,1%), na construção civil (6,3%), limpeza (4,2%) e carregador (3,1%). Além disso, a pesquisa perguntou aos entrevistados sobre suas experiências de impedimento de acesso ou realização de atividades. Com isso, relataram impedimento de entrar em estabelecimento comercial (31,8%), entrar em shopping center (31,3%), entrar em transporte coletivo (29,8%), entrar em bancos (26,7%), entrar em órgãos públicos (21,7%), receber atendimento na rede de saúde (18,4%) e de tirar documentos (13,9%).

Fonte: UOL

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