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Por que o uso excessivo de celular impacta o cérebro da criança?

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Na Paraíba, um menino de 13 anos confessou, no dia 13 de março, ter matado a mãe e o irmão e ter ferido o pai com uma arma de fogo depois de ser proibido de usar celular. Esse fato reacendeu o debate sobre os efeitos que smartphones, tablets e outros aparelhos eletrônicos podem ter na saúde mental de crianças e adolescentes.

De acordo com reportagem da BBC News Brasil, o uso de dispositivos eletrônicos diminuiu a capacidade de comunicação, de resolução de problemas e de sociabilidade com crianças de até 5 anos. 

Vale destacar que o problema não se limita à primeira infância, o contato excessivo com telas afeta o cérebro de jovens, que ainda não estão suficientemente amadurecidos para controlar impulsos, fazer julgamentos, manter a atenção e tomar decisões.

Segundo uma pesquisa de 2019, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, 89% da população de 9 a 17 anos está conectada a esses dispositivos, o que representa 24,3 milhões de crianças e adolescentes. Desses, 95% (ou 23 milhões) utilizam o celular como o principal meio para acessar sites e aplicativos.

No entanto, é preciso ressaltar que atualmente os celulares fazem parte da rotina e é muito difícil viver sem eles. Inclusive, quando usados com moderação, esses aparelhos trazem mais benefícios que prejuízos. Por outro lado, o exagero acaba prejudicando a saúde da mente e do corpo e os efeitos podem ser ainda piores nos primeiros 20 anos de vida.

O começo do problema

Foto: Deposit Photo

A maior parte da população já presenciou bebês assistindo vídeos com muitos estímulos sonoros e visuais, enquanto os pais ou tutores realizam alguma atividade. Para os especialistas, essa exposição de forma exagerada pode prejudicar o desenvolvimento do recém-nascido.

“Quando os pais fornecem à criança um vídeo no celular ou no tablet, isso ativa as vias de processamento cerebral que são predominantemente passivas”, explica o médico Rodrigo Machado, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O médico acrescenta que esse tipo de atividade passiva ocupa o tempo que o bebê poderia ser estimulado com atividades ativas, que ajudam na coordenação motora e outras habilidades.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Ceará e pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em parceria com outras instituições, acompanhou 3.155 crianças cearenses desde o nascimento até elas completarem 5 anos de idade. Os pesquisadores descobriram que cerca de 69% de todos os participantes foram expostos a um tempo excessivo de tela.

Nos primeiros 12 meses de vida, 41,7% dos recém-nascidos tiveram acesso a vídeos e outros estímulos visuais passivos em excesso, porcentagem que aumenta e chega aos 85,2% na faixa etária entre 4 e 5 anos.

O trabalho ainda apontou que cada hora de uso de eletrônicos diminui a capacidade de comunicação, resolução de problemas e sociabilidade das crianças.

Crianças e adolescentes ainda estão desenvolvendo o cérebro

Foto: Big Virtual/Reprodução

De acordo com especialistas, o cérebro não nasce pronto, ele se desenvolve pouco a pouco ao longo das primeiras três décadas de vida. Algumas partes desse órgão só amadurecem quando chegamos aos 25 ou 30 anos.

Um exemplo é o córtex pré-frontal, região responsável por controlar impulsos, fazer julgamentos, resolver problemas, manter a atenção e tomar decisões.

“Com o córtex pré-frontal ainda imaturo nessa faixa etária, ficamos mais propensos a buscar o prazer sem pensar em todas as consequências”, complementa Machado.

O psiquiatra acrescenta que os estudos que analisam o funcionamento cerebral mostram que algumas regiões relacionadas à aceitação do convívio em sociedade ficam mais ativas quando os jovens usam as redes sociais.

“Se um adolescente posta algum conteúdo, como uma foto ou um vídeo, e começa a receber respostas em formas de curtidas, comentários e compartilhamentos, isso estimula um circuito cerebral relacionado à sensação de prazer e recompensa”, explica o especialista.

Em resumo, o retorno positivo que recebemos quando compartilhamos algo nas redes sociais é um incentivo para postarmos mais, uma espécie de círculo vicioso.

Outros impactos na saúde da criança

Foto: Novos Alunos/Reprodução

O cérebro das crianças também pode ser impactado pelas luz das telas, que diminui a produção de melatonina, hormônio essencial para a indução do sono.

O sono saudável é necessário para o desenvolvimento do corpo e da mente. Quando o descanso noturno não é adequado nos primeiros anos de vida, as consequências podem durar por muito tempo. 

“Quem não dorme bem tem mais transtornos de irritabilidade e de comportamento e pode apresentar dificuldades de aprendizagem”, explica a médica Evelyn Eisenstein, coordenadora do Grupo de Trabalho em Saúde Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

A especialista acrescenta que o excesso de telas pode levar à inatividade física, podendo causar sobrepeso e obesidade, assim como, a busca por conteúdos de emagrecimento aumenta o risco de transtornos alimentares. 

Também são apontados os problemas auditivos, pelo uso de fones de ouvido em um volume alto, e de visão, pela falta de vivência em espaços abertos, que estimulam uma visão de longo alcance.

Como solucionar o problema?

Foto: Reprodução

“A primeira coisa é estabelecer limites. A criança e o adolescente precisam saber que podem entrar na internet por um determinado número de horas por dia”, aponta Viola.

A recomendação do tempo muda conforme a idade. Em diretrizes publicadas recentemente, a SBP indica que crianças menores de dois anos não tenham nenhum acesso às telas.

Dos três aos seis anos, as atividades em dispositivos eletrônicos podem durar de 30 minutos a uma hora, com a supervisão de um adulto. Já entre o sexto e décimo ano de vida, é possível aumentar esse tempo desde que exista um acompanhamento de alguém responsável.

“É muito importante mesclar as atividades online com outros momentos de lazer, brincadeiras e conversas presenciais entre familiares e amigos”, explica o psicólogo.

Vale destacar que existem maneiras de identificar e tratar os quadros de vício no uso de dispositivos eletrônicos.

“A primeira coisa é observar se a prática está prejudicando algum aspecto da vida daquele indivíduo”, aponta Machado. Nos casos que são diagnosticados transtornos, é possível tratar por meio da terapia cognitivo-comportamental.

Fonte: BBC

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