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Você chama médico ou advogado de doutor?

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É sempre assim. Crescemos e saímos da infância olhando para uma sociedade inteira chamando médico ou advogado de doutor. Sendo assim, é comum que passemos a replicar esse comportamento, no entanto, alguns dos próprios atuantes dessas áreas querem acabar com esse título.

Ainda que em menor número, essas pessoas entendem que o termo gera um distância entre elas e os indivíduos que elas atendem. Além disso, segundo estes profissionais, não há base em chamar de doutor alguém que não tem doutorado.

Fonte: Karolina Grabowska

A hierarquia de uma palavra

De início, pode parecer bobeira essa discussão em torno do termo “doutor”, no entanto, ele carrega uma história de definição de hierarquias com base nas chances de acesso à educação.

Este título começou a ganhar eco no fim do século XI, quando as primeiras universidade do mundo iniciaram seus surgimentos. Dessa forma, quem estudava Filosofia ou Teologia se tornava apto a ensinar, o que os levava a serem chamados de doutores.

De acordo com a entrevista à BBC da professora de História Tania Bessone, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aos poucos esse termo passou a migrar para as pessoas que atuavam no Direito.

“Mais tarde, a Universidade de Bolonha (Itália) passa a formar também estudiosos do Direito Romano, que eram os legistas e recebiam o título de Doutor em Leis, que também passaram a ser professores. Eles ainda se tornaram funcionários nas cortes europeias para estudar e redigir leis e outros documentos importantes”, explica a pesquisadora.

Nesse sentido, o Brasil começou a aplicar o termo doutor conforme se inauguravam as primeiras faculdades de Medicina, no século XIX. Ao fim da graduação, os médicos recebiam esse título, a exemplo do que também acontecia em outros países.

Fonte: Anna Shvets

Porém, quando o assunto são os advogados, os brasileiros são uns dos únicos povos que os chamam de doutores. E isso se ampara em um Decreto que Dom Pedro 1º estipulou em 1827. No texto, ele diz que todo mundo que se forma nas áreas jurídicas e sociais podem ser considerados doutores.

Desde então, a moda pegou e hoje chamamos médicos e advogados de doutores com uma naturalidade enorme. Todavia, há quem busque mudar essa realidade.

“Doutor não, Renan”

Em 2018, o defensor público Renan Reis ficou famoso na internet por conta de um aviso na porta de sua sala em Codó (MA): Prezados, o nome do defensor público é Renan, não é doutor, não é excelência, não é senhor. É, simplesmente, Renan.

De acordo com ele, a intenção do aviso é extinguir a hierarquia que a sociedade colocou entre ele e a pessoa que atende. Vale lembrar que um defensor público atua como um advogado que auxilia pessoas sem condições de contratar um profissional particular.

“Esse aviso serve também como uma forma de ‘quebrar o gelo’ no atendimento, porque as pessoas já chegam perguntando por que não quero ser chamado de doutor. Explico que estamos ali para ajudar, que somos iguais. Percebo que isso deixa a pessoa mais à vontade para contar seu caso”, defende Renan.

Fonte: Arquivo pessoal

Nesse sentido, dentro da área da Medicina, alguns profissionais também entendem que uma certa distância se instala com o paciente a partir do momento em que o mesmo chama o médico de doutor. Essa discussão recebe os argumento da ginecologista Melania Amorim, que atua em Campina Grande (PB):

“Parece que o médico é sempre o detentor do saber, o todo poderoso, enquanto o paciente não sabe nada e vai se submeter passivamente àquelas orientações. Penso que isso não se admite mais na atualidade, em que a gente acredita em uma medicina baseada na humanização do cuidado”.

Além disso, ela destaca que só é doutor quem tem doutorado. A propósito, a própria Melania Amorim alcançou esse posto em sua formação, porém, ela acredita que o termo deve se restringir apenas ao uso dentro de ambientes acadêmicos.

Fonte: BBC

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